Why so serious?

70 11 1
                                    


Thomas acordou na manhã seguinte com um alivio estranho no coração. Algo dentro de si o dizia que as coisas seriam melhores a partir de hoje. Os sons das gaivotas sobrevoando os céus o deixou maravilhado. Um cântico lindo e suave era entoado pelas aves. Thomas deu um longo suspiro, levantou a enxada e passou a arar a terra. O dia de trabalho estava quase no seu fim, mas Thomas por alguma razão hoje não se preocupava com aquilo. Sua mente viajava longe, talvez seus pensamentos ultrapassassem as nuvens esbranquiçadas sobre sua cabeça.

Uma única coisa o preocupava agora. A ideia de se casar. Thomas não sabia ao certo se aquilo era seu destino. Embora fosse linda a visão de seus filhos correndo pelos campos a brincar, ele não amava Charlote, aliás Thomas nunca amara nenhuma das moças de seu povoado. Não que nenhuma o agradasse, por contrário. Ainda que muito simples havia muitas delas com um potencial enorme para conquistar seu coração, mas Thomas não sabia o que havia de errado com ele. Nunca fora capaz de olhar para uma daquelas garotas com desejo. Com paixão. Essa era outra coisa que o fazia perder o controle de si. O que o fazia diferente? Não podia simplesmente ser como os outros rapazes de sua idade? Era tão difícil amar outro alguém assim? Talvez fosse, para Thomas era um sacrifício.

Ninguém jamais diria o contrário. Charlote era linda. Seus fios de cabelos loiros e finos sempre se encontravam presos no alto da cabeça. Sua pele alva e aveludada eram um conjunto perfeito com os olhos de um verde cintilante. A moça também tinha uma educação admirável, parecia ter sido criada pela nobreza. Mas a realidade era outra. Não havia nada de romântico na forma como se conheceram. Seus pais eram amigos a muitos anos e decidiram que seria glorioso selar essa amizade casando seus filhos mais velhos. Thomas achava essa ideia ridícula, já Charlote demonstrava muito interesse no tal compromisso. O que o deixava ainda mais aflito. Thomas possuía problemas sobre ele mesmo que mal conseguia resolver. Cuidar de uma mulher que ele não amava claramente não era a solução de tudo isso. Passaria o resto de sua vida com ela, sem a amar, sem sentir desejo algum pela moça. Embora desejasse muito, Thomas não podia simplesmente dizer não a essa união. Seria um escândalo. Porém nem tudo era caso perdido, Thomas se segurava na esperança de o casamento não ser aprovado.

Thomas se deitou à beira do lago com a cabeça apoiada às mãos e permitiu-se relaxar. Mirou o céu azul e toda sua imensidão. O vento arrastava uma nuvem ou outra de quando em quando. Thomas fechou seus olhos e falou com Deus. Ele havia feito muito disso ultimamente. Procurando uma salvação divina. Thomas achava que sua falta de interesse pelas garotas devia-se a vontade do Senhor dele fazer parte do clero-menor. Porém por mais alta que fosse sua devoção, aquilo não era para ele. Thomas procurava uma luz que o levasse ao caminho certo. Não se dava ao luxo de errar. Rezar aos céus por ajuda era sua única opção.

- Cuidado para não caíres novamente. - Thomas se sacudiu assustado. Quem ousara interromper seu momento sagrado?

Ele abriu os olhos e se deparou com a imagem de Dyaln sentado ao seu lado, de frente para a água. Thomas sentou-se sem saber o que dizer, ponderou por vários segundos o que Dylan fazia ali.

- Por acaso arrancaram-lhe a língua? - Inqueriu Dylan meio frustrado pela falta de diálogo entre os dois. Ele abriu um sorriso amarelo para acompanhar sua piada.

- Me desculpe, não esperava por ninguém essa hora. - Thomas mirava o lago a sua frente, não sabia ele por qual razão se sentia intimidado.

- Queres que eu vá? - Dylan se sentiu estúpido, algo lhe dizia que ele estava incomodando.

- Não, não. Fique.

Thomas agarrou o braço do rapaz que ameaçara se levantar.

- Vai ser bom tem alguém pra conversar. - E de fato seria.

Thomas passava a maior parte do tempo apenas com a família, uma vez ou outra recebia a visita de Charlote. Mas essa não era a companhia que ele desejava. O garoto moreno esboçou outro sorriso o que fez Thomas revirar os olhos. Por que de tantos sorrisos? Por acaso eles viviam no mesmo mundo?

- O que é tão engraçado? - Aquela não era a melhor pergunta a se fazer, Thomas soube disso no momento em que a expressão do outro rapaz se desfez.

- Por que sempre tão sério? - Rebateu Dylan. Thomas fixou seus olhos ao do menino e sorriu. Dylan o acompanhou. Ele gostara do garoto.

- O que fazias por aqui novamente? - Essa era a pergunta certa. Thomas realmente queria saber a resposta.

- Precisava arejar a mente. - Outro sorriso tomou os lábios do menino pássaro. Fora exatamente isso o que dissera a Dylan na última tarde.

- Está tudo bem? - Talvez fosse cedo demais para se intrometer nos problemas alheiros, mas Thomas não se importava.

- De certa forma sim, mas me sinto preso na minha casa. Não vejo necessidade de tantas responsabilidades. - Seu rosto tomara uma seriedade incomum. Thomas não esperava por aquilo.

- Sei como sentes se. Por isso sempre venho aqui.

Um silêncio se formou no lugar, ambos garotos refletiam seriamente sobre suas vidas. Assim como Thomas, Dylan estava envolvido em um casamento arranjado. Eram muitas as coincidências, tirando o fato de que ao contrário de Thomas, o rapaz amava intensamente sua futura esposa.

- Gosta deles? - Indagou Dylan quebrando o silêncio. Seu dedo indicador estava apontado para cima. Thomas mirou os céus.

- Sim. São lindos não acha? Toda essa liberdade. Voar para um lugar novo a cada amanhecer, parece divertido não?

Dylan se perdeu em algum lugar em quanto Thomas falava. Seus olhos estavam fixos no garoto. Havia alguma coisa no menino pássaro que o agradava. Aquilo podia ser o início de uma bela amizade, pensou. Thomas ficou meio constrangido em ser observado. Abaixou a cabeça e tentou tirar algo que não existia em suas mãos.

- És um belo jeito de pensar. Nunca tinha os vistos de tal forma. - Falou Dylan por fim. Sua voz era suave e amigável. Ele passou a observar o voo das aves.

- E no que pensas geralmente? - O loiro estava afim de conhecer melhor o rapaz que o livrara da morte.

- Nada de mais. O que todos pensam sabe? Em comer.

Os dois riram animados. Dylan era engraçado. De um bom modo, claro. Dylan se levantou e começou a se despir.

- O que está fazendo? - Inqueriu o menino pássaro meio sem jeito.

- Vou dar um mergulho. - O rapaz sorriu malicioso. Belos lábios ele tinha - Venha.

Thomas hesitou de primeira. Mas o dia estava quente, seria uma boa nadar. Ele se levantou e tirou a camisa. Dylan vestia apenas o calção. Thomas gostou daquela visão do rapaz. O garoto deu um salto para dentro da água fazendo a atingir o menino pássaro. Ele se encolheu. Estava fria, muito fria. Thomas por fim se juntou ao garoto no lago. Ele mergulhou fundo na água. Nas mesmas que o teriam levado desse mundo se Dylan não aparecesse. Será que a morte seria sua única solução? Haveria outra maneira de fazer seus demônios desparecer?

A imagem de Dylan apareceu entre as águas. Thomas podia jurar que ele estava sorrindo. O que havia de especial nesse garoto? Por que estava sempre com um sorriso no rosto? Thomas sabia que a vida dos nobres era mil vezes melhor que a dos camponeses, mas ainda assim aquilo tudo era intrigante. Depois de algumas horas os dois se encontravam deitados na grama. Cansados. Thomas observava Dylan, seus cabelos antes envolvidos num penteado galanteador agora estavam úmidos. Seu corpo magro secava naturalmente ao sol. Um belo corpo afinal. Thomas sabia que dali pra frente sempre veria o menino. A pergunta que lhe atormentava noite passada fora respondida. Mas havia outra coisa que ele desejava saber agora. Quem é Dylan O'Brien?


I am AliveOnde histórias criam vida. Descubra agora