Thomas correu os olhos pelo o quarto quando sentiu o cheiro de algo queimar, uma investida mais cautelosa e percebeu que havia fumaça invadindo o quarto pelas extremidades da porta. O garoto então se pôs de pé ao lado da cama a qual ele descansava alguns minutos antes e começou a caminhar em direção a saída. A fumaça parecia estar cada vez mais presente no cômodo e aquilo o deixou ainda mais intrigado. Assim que se aproximou da porta ouviu algo estalar e a fumaça provindo por debaixo da porta começava a invadir suas narinas. Ele ameaçou a abrir a porta, mas a madeira estava quente, não quente o suficiente para causa-lo uma queimadura. Ele tentou mais uma vez percebendo que a temperatura no local havia subido consideravelmente e então puxou a estrutura amadeirada que o trancava ali dentro.
A primeira reação do jovem loiro foi de longe a mais natural, ele estava prostrado no chão horrorizado pelo o que seus olhos castanhos presenciava. Toda estrutura da casa estava em chamas. Os poucos de móveis que companhavam a sala se rendiam as chamas calorosas e avassaladoras. A falta de ar em seus pulmões fez ele tossir. Como se tal atitude o tivesse despertado ele se levantou e tentou passar pro outro cômodo. Uma onda de calor o invadiu de súbito, ele olhou a sua volta e tudo ganhava o tom alaranjado das chamas. Sua mente vagou por um segundo e logo depois voltou a ativa, a imagem da família sobrepõe toda aquela tragédia. Thomas se perguntava como as pessoas dentro da casa podiam estar dormindo enquanto tudo se tornava cinzas. Sua primeira ação foi ir até o quarto dos pais. Ele contornou a mesa onde costumava fazer todas as refeições - o móvel caído no chão com apenas duas pernas o sustentando e as outras jogadas ao lado dançando com as chamas - cautelosamente e andou mais alguns passou. Tudo a sua volta era o barulho dos pertences familiar sendo consumidos pelo fogo, estalos e mais estalos. O calor era insuportável, o garoto começava a suar por conta disso.
- Mãe .. Pai ...
Gritava o jovem o mais alto que podia enquanto chegava mais perto do quarto. Ele estava a apenas alguns metros e pronto para entrar quando um pedaço de madeira se desvencilhou do telhado e caiu abaixo da porta. O menino deu um passo pra trás hesitante. Ele calculou uma maneira de passar pela barreira flamejante e dar continuidade ao seu plano inicial. A madeira suicida já fazia seu trabalho e alastrava o fogo por toda sua volta, dificultando ainda mais as coisas. Thomas pensou em pular o fogo enquanto empurrava a porta, mas essa também já cedia as chamas. Um barulho cortou o ar e não era o de objetos crepitando. Ele reconheceu a voz de imediato. Sua mãe. A mulher gritava desesperadamente, tão alto que Thomas pensou que suas cordas vocais explodiriam e se por acaso conseguissem sobreviver aquilo, ela jamais voltaria a falar. Outra voz se destacou em meio aos gritos, a voz grave e ríspida de seu pai.
- Socorro.
Alguns tapas foram desferidos contra a porta emperrada. Baques surdos e abafados. Thomas foi invadido por outra onda de desespero. Não sabia o que fazer. Ouvir seus pais suplicando por ajuda daquele jeito o deixara maluco. Ele permaneceu inerte em frente ao caos. Os gritos continuaram seguidos por uma onda de tosses. Provavelmente a fumaça estava os sufocando. Seus olhos procuraram por algo que ainda estivesse intacto, algo que pudesse usar contra a porta e a fazer ceder. Nada. Isso o fez piorar. Justo no momento em que sua família mais precisava dele, estava ali parado, sem saber como salvá-los. Outro pedaço do teto caiu a alguns metros no chão. Seu coração batia de pressa. Os pais berrando por socorro, o calor eminente e a falta de oxigênio que seus pulmões sentiam, tudo aquilo somados o desesperava.
Thomas sentiu algo se agarrar a suas mãos, ele deu um pulo assustado. Carole. A silhueta da irmãzinha se destacou em meio a fumaça. A garotinha parecia assustada. Claro que estava, sua casa estava em chamas. Carole. Thomas se envergonhou e quis castigar a si mesmo por ter esquecido da pequena. Nunca se perdoaria caso algo terrível tivesse acontecido a ela. O rapaz se abaixou e a puxou para perto dele, verificou se havia algum ferimento na garota e depois do exame ligeiro, ele a abraçou aliviado. Carole também tossia devido a fumaça densa no ar. Thomas percebeu que ainda tinha um problema sério a resolver.
Outro barulho tomou conta do ambiente seguido de gritos agonizantes, ele se levantou num sobre salto. A porta que minutos atrás estava emperrada havia tombado quarto adentro. Os gritos se tornaram mais altos, ele deu mais alguns passos ainda cautelosamente para não se queimar e olhou a cena. Sua mãe estava caída em cima da cama, sem nenhum sinal de vida, as chamas já tomavam conta daquele cômodo. Percorreu os olhos pelo quarto procurando o responsável pelos gritos que ouvia. Nada. Nenhum sinal do pai. Carole se aproximou dele e o sacudiu enquanto lutava pra preencher os pulmões com o ar tóxico. Thomas já estava sem tempo, uma outra olhada dentro do quarto e ele viu o pai prostrado de baixo da porta sacolejando e berrando. O corpo do homem mais velho em chamas. Ele se horrorizou com aquilo, a pele do homem remitia a plástico derretido e o sangue de um vermelho escuro escorria pelo corpo. O loiro sabia que jamais se esqueceria daquilo. De repente a menina ao seu lado foi levada ao chão. Num movimento ligeiro ele a pegou no colo. Deveriam sair dali o mais rápido possível. Ele deu uma ultima olhada dentro do quarto, a cama também estava em chamas e o pai cessara os gritos, não havia mais nenhum jeito de salvá-los, infelizmente estavam mortos. Seu peito ardeu e o coração antes acelerado pareceu mais fraco, não era dessa forma que via se despendido dos pais. Thomas então se encaminhou pra saída mais próxima com a irmã nos braços.
A sala estava completamente devastada, não sobrara quase nada. Ele tentou a porta da frente, mas essa estava trancada. Thomas virou a esquerda e adentrou ao quarto de onde tinha vindo antes. Ainda não estava completamente em chamas, a não ser pela porta. Com Carole na cama ele tentou a janela. Nada. Alguma coisa devia prendê-la por fora. Thomas pegou uma cadeira e a atirou contra a janela e assistiu o móvel se despedaçar deixando a única saída ainda bloqueada. O fogo estava próximo, o garoto lutou contra a estrutura resistente da janela e desistiu assim que viu que todo aquele acesso de fúria era inútil. Os olhos do rapaz se encheram de lágrimas, provavelmente ele e a irmã acabariam como seus pais. Seus pais, tudo aquilo ainda era novo e repentino, Thomas não estava preparado de forma alguma.
Agora ele se encontrava deitado ao lado do corpo da irmã, apenas aguardando que o fogo o consumisse, esperando pela morte. A ideia parecia terrível, mas Thomas se lembrara dos últimos meses. Foram os melhores de sua vida, ele não poderia negar nem em um milhão de anos, acabou concluindo que talvez já tivesse vivido o bastante, concluiu que talvez valeria a pena morrer se não fosse viver outros momentos de felicidades. Seus olhos ardiam com a fumaça insistente. O garoto olhou pela porta e viu sua casa completamente em chamas e se perguntou como as coisas haviam chegado aquele ponto?
Thomas se sentia cada vez mais distante do mundo a sua volta. Seus corpo parecia leve. O quarto onde dormira todas as noites parecia uma espécie de inferno pessoal. O jovem teve mais um acesso de tosse e sua visão começou a esmaecer. Ele havia falhado com sua família, todos deixariam de existir por sua causa. Thomas cerrou os olhos deixando uma lagrima escapar.
- Thomas ...
Ele ignorou totalmente o chamado, reconhecia aquela voz, mas pensou ser sua mente pregando-lhe uma peça. Não era possível ser real. O menino de cabelos amarelos desejava que fosse. Era tudo o que precisava agora, que fosse real. A voz gritou novamente confirmando-lhe que era real. Dessa vez ele não ignorou e abriu os olhos. Sua mente ainda não brincava com ele, talvez ela estivesse cheia de fumaça para fazê-lo. Ele juntou toda a força que tinha e gritou algo que soou como um grunhido. Instantaneamente o esboço de outro jovem apareceu na porta. Esse não parecia se intimidar com o fogarel que o cercava. Thomas sorriu aliviado quando o outro jovem se aproximou e tocou-lhe o rosto carinhosamente. Seus olhos permitiu-lhe ter uma última visão do garoto, ele sabia que se partisse agora, morreria feliz. Em outra tentativa de falar ele grunhiu algo mais compreensível.
- Dylan ...
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I am Alive
Hayran KurguNuma terra distante onde os senhores feudais governavam e os pássaros cantavam a cada manhã, vivia um garoto cujo queria se livrar de sua vida estagnada. Thomas filho de simples camponeses queria ser livre como os pássaros que sobrevoavam sua casa t...