Parte 1 - Whisky

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- Whisky sem gelo, por favor. - Nem estava acreditando que aquele dia havia acabado. Tirei aquela horrível gravata azul, que sorte fora a última coisa que me deu.
- Desculpa! - Foi só o que ouvi depois de quase ter sido derrubado no bar da boate. Logo me virei para gritar com o idiota, meu dia já estava péssimo e ainda me fizeram derrubar o whisky no meu terno. - Oi, me desculpa mesmo, eu acho que tropecei. Eu nem tô tão bêbada assim! - Ela concluiu sorrindo e por um momento esqueci até da minha roupa molhada.
- Tudo bem. - Sorri de volta. Era difícil ignorar aqueles lindos olhos claros e seu rosto que, mesmo coberto por maquiagem, facilmente conseguia notar os traços delicados por baixo de toda aquela tinta.
- Ai meu Deus, eu molhei você! Eu sinto muito mesmo. - Ela disse colocando dois copos que carregava em cima do balcão. Pegou um pano branco úmido e esfregou no meu blazer.
- Tá tudo bem, não precisa se incomodar. - Peguei o pano de sua mão e esfreguei eu mesmo.
- Nossa, eu sinto muito mesmo. Me deixe pelo menos te pagar outra bebida.
- Como se eu fosse deixar você me pagar uma bebida. - Disse rindo.
- Não entendi, é porque sou mulher? Saiba que estamos no século XXI, querido, e isso é mais comum do que essa sua barba mal feita! - Ela se afastou e chamou o barman.
- Calma aí moça, não foi isso que eu disse, só não quero encrencas com o seu namorado.
- Ahh, além de machista também é misógino! Uma mulher não pode estar em uma boate sozinha? - Ela realmente parecia nervosa.
- Olha só! - Me virei para ela e quase aumentei o tom, mas mantive a calma e continuei. - Não sou machista, quanto mais misógino, apenas observador. Você tem dois copos na mão, o que sugere que está acompanhada, poderia ser uma amiga se você não estivesse tão produzida e com esse vestido vermelho que está sendo usado pela primeira vez. - A única coisa que ela fez foi rir.
- Me desculpe, mas isso é tão engraçado. Então, eu estou com uma amiga sim, e essa produção toda é porque somos modelos, acabamos de sair de uma sessão de fotos e estamos aproveitando a noite.
- Tudo bem, eu quem deveria me desculpar, não deveria ter sido tão grosso, é que... Deixa pra lá.
- O que foi? Me conta! - Ela sentou no banco ao meu lado. O garçom chegou e ela pediu um whisky e uma caipirinha. E então continou. - Dia ruim?
- Na verdade sim, acabei de perder meu emprego.
- Nossa, mas por que?
- Como se você se importasse... - Nossas bebidas chegaram.
- Claro que me importo, pode falar. - Ela disse empurrando o whisky à minha frente. Tomei de uma só vez e então lhe contei a história triste. Por mais incrível que pareça ela mostrou mesmo se importar - Sei bem como é isso, nem preciso falar o quanto é concorrido o meu trabalho, essas meninas umas tentando passar por cima das outras.
- Você é modelo mesmo? Não me entenda mal, você é muito linda e seria uma ótima modelo, só nunca conheci uma assim, você sabe, acho surreal...
- Tudo bem. - Ela sorriu novamente, aquele mesmo sorriso de antes que fazia suas bochechas esconderem seus olhos. - Sou modelo sim, e obrigada pelo linda. - ela dizia enquando bebia sua caipirinha.
Conversamos por quase duas horas, entre risos e piadas já havia esquecido o porquê de ter entrado naquela boate, com pretexto de me afogar em álcool.
- Nossa, olha a hora! - Foi quando ela percebeu que sua amiga havia ido embora. - Ela nem me esperou, tenho que pegar um táxi.
- Você mora aqui perto? Um táxi aqui vai sair um pouco caro.
- Na verdade não sou daqui, estou em um hotel no centro. - Ela falava preocupada enquanto saíamos do local.
- É caminho pro meu apartamento, podemos dividir o táxi assim você não anda por ai sozinha.
- Não sei, acho que vou ligar pra minha amiga me buscar.
- Confia em mim, não sou um pervertido ou coisa do tipo, só estou preocupado mesmo.
- Ta bom, vamos mas eu pago o táxi, você já pagou as bebidas porque essa boate não aceita cartão.
- O Táxi também não. - Disse baixo rindo enquanto entravamos no veículo. No caminho conversamos um pouco até que ela adormeceu recostada em meus ombros.
Chegamos no hotel. Eu consegui despertá-la mas o efeito da bebida havia deixado sonolenta. Expliquei a situação ao porteiro, pra minha sorte ela era uma modelo mais famosa do que eu imaginava, ele a reconheceu, me ajudou a levá-la para cima e me deixou lá na porta com ela. Bati, porém ninguém atendeu, acho que sua amiga não estava. Peguei a chave em sua bolsa e a levei para dentro, coloquei na cama com cuidado e quando estava pronto para sair ela me segurou, acho que ainda estava um pouco sonolenta chamava meu nome e tentou me abraçar. Me deitei ao seu lado e adormeci também.

EveliseOnde histórias criam vida. Descubra agora