Parte 9 - Agua

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Meu telefone toca sem parar, minha cabeça parecia que poderia explodir a qualquer momento. Antes de atendê-lo percebi que já eram quase cinco da tarde.
– Estava dormindo?
– Não, passei o dia revendo uns trabalhos meus.
– Sua voz tá estranha, estava bebendo?
– Um pouco, mas me diga, como foi o evento?
– Não foi muito bom, fiquei distraída, mal falei com as pessoas. Mas não muda de assunto, você anda bebendo demais.
– Você quer controlar isso também?
– Do quê você está falando?
– Quer controlar onde vou, com quem falo e agora quer controlar minha bebida?
– Eu não controlo você, só me preocupo quando some sem dar notícias e o quanto está bebendo!
– O quanto eu bebo não é da sua conta.
– Claro que é, me preocupo com a sua saúde.
– Não vem com esse papo de preocupação, não preciso de babá. Isso é só uma desculpa sua para saber cada passo meu.
– Nossa, por que você está tão babaca assim?
– Não estou babaca, estou normal. Eu só tô cansado disso, desses problemas, de não conseguir arrumar emprego, dessa distância.
– Eu também não gosto dessa distância Rafael, mas infelizmente não podemos resolver isso por enquanto.
– Se pelo menos eu estivesse trabalhando, daria para viajar. Mas não consigo nem pagar o aluguel.
– Eu sei como se sente.
– Não, você não sabe! - Eu a interrompi, não sei se era o álcool ou o estresse, mas sabia que estava rude com ela. - Não tente fingir que me entende, não tente fingir que se importa, não tentar me consolar.
– Tudo bem, Rafael. - Mesmo com a minha exaltação, ela parecia calma, mas conseguia sentir sua voz trêmula, segurando o choro. - Se é isso que você quer, vou parar de tentar. - Ela desligou o telefone.
Elise chorava sem parar, Vanessa que estava ali e ouviu toda a conversa logo se prontificou para consolar a amiga.
– Não fica assim amiga, desentendimentos acontecem em relacionamentos.
– Mas a forma como ele falou comigo, nossa, me deixou muito mal.
– Vem cá, vamos sair hoje, curtir a noite e esquecer esse cara.
– Não amiga, obrigada, mas a última coisa que quero agora é ir para um lugar cheio de gente com música alta e bebida. Vou ficar por aqui, assistir um filme ou ler um livro.
– Ok, então vou ficar aqui com você.
– Não precisa, pode ir e se divertir.
– Vou me divertir aqui com você! Vamos fazer a noite das meninas. Vestir roupas largas, assistir um bom filme e comer muita besteira.
– Tudo bem, não quero ficar sozinha mesmo. - Elas deitaram juntas na cama, encheram a cama com biscoitos, pipoca, chocolates e sorvete. Assistiram filmes, enquanto lá fora a chuva não dava trégua. A noite já caíra e elas mal perceberam. Até que o telefone de Elisa tocou, ela olhou o visor e o ignorou.
– É ele? - Indagou Vanessa.
– Sim!
– Atende, ele pode estar ligando para se desculpar. - Relutante, Elise ouviu sua amiga e atendeu o celular.
– Alô. - Ela me disse seca
– Oi, você está bem?
– Na medida do possível, e você?
– Estou mal, muito mal, estive mal desde o momento que você desligou o telefone. Eu fui muito idiota com você, não sei o quê me deu, talvez o álcool ou o estresse, mas nada justifica a forma como te tratei. Me desculpe!
– Tudo o que me falou, e a forma com que falou, me machucou muito, não esperava aquilo de você.
– Eu entendo, talvez fosse mais fácil de me desculpar se fosse pessoalmente.
– Talvez, mas não quero voltar nesse assunto, queria muito estar perto de você mas não sei como no momento.
– Você poderia começar abrindo a porta. - Elise arregalou os olhos, e num pulo saiu da cama, correndo em direção a porta.
A abriu meio sem acreditar, e eu estava lá, na chuva, todo molhado, esperando por ela.
Elise sentiu um coquetel de emoções, mistos de felicidade, excitação, raiva, medo. Mas ela ignorou todos e partiu correndo na chuva mesmo para me abraçar, como se nada tivesse acontecido.
– Me desculpa meu amor, mesmo, eu não deveria ter falado com você daquela forma.
– Tudo bem amor. Venha, vamos sair dessa chuva.

EveliseOnde histórias criam vida. Descubra agora