– Espero que tenham se divertido, porque nosso vôo sai em duas horas. - Vanessa chegou novamente com sua voz irritante e sua incessante mania de abrir janelas deixando o sol iluminar todo o quarto.
– Você vai embora hoje?
– Vou. - Elise meio sonolenta levantou-se devagar e foi até o banheiro. Não queria acreditar que aquela seria a última vez que a veria.
– Você volta? - Perguntei enquanto ela saía do banheiro com o rosto lavado e o cabelo preso para o alto.
– Sim, às vezes, é que faço mais campanha em São Paulo. - Ela tirou minha blusa e me entregou enquanto vestia uma calça jeans e uma blusa florida azul.
Vesti minhas roupas também e o perfume que ela deixara em minha blusa estava tão forte e aconchegante, que parecia que ela me abraçava o tempo todo.
– Está pronta? - Vanessa entrou no quarto novamente pegando seus pertences do banheiro.
– Quase. - Elise tentava falar enquanto retocava a maquiagem.
– Posso levá-las até o aeroporto.
– Perfeito! - Vanessa falou enquanto passava de volta para a sala.
– Não! Não quero abusar de você, Rafael.
– Abuso nenhum Elise, levo vocês sem problemas.
– Bom, então não vou recusar. É bom que passamos mais um tempo juntos. - Ela veio até mim, me deu um beijo e levou sua mala para a sala.
Ajudei ambas com a bagagem e as coloquei no porta-malas do carro. No caminho para o aeroporto, Elise, que estava sentada no banco da frente a meu lado, segurava minha mão e se aconchegava em meu ombro, de olhos fechados. No caminho até o aeroporto não trocamos uma palavra, apenas curtimos aquele momento juntos, que se estendeu por quase uma hora no aeroporto esperando o embarque dela. Desejei muito que aquele momento parasse, só precisava ficar ali abraçado a ela, sentindo seu perfume se misturar com o meu. Acariciar seus cabelos loiros, sentir seu singelo e simples carinho a cada toque. Mas infelizmente ela se foi, me deixando naquela sala de embarque sozinho com apenas um pedaço de papel na mão e uma saudade que não cabia dentro do peito.
Chegando em casa anotei logo seu número numa agenda, já havia o colocado no meu celular e guardado com a precisão de minha cabeça, não queria dar a chance do destino me sacanear novamente. Tomei um banho e mandei uma mensagem para ela: "Esse é meu número, assim que chegar me avisa".– Olha quem dormiu fora de novo. - Vítor saiu do meu quarto e logo em seguida duas mulheres saíram de lá também e foram embora. Estava tão distraído que mal notei a porta fechada quando cheguei.
– Você não tem casa não?
– A sua é mais perto da boate. Mas fala aí, mais sorte dessa vez ou só dormiu de novo?
– Minha vida sexual não é da sua conta.
– Você fala como um velho, mas a parte do sexual já respondeu tudo. Esse é o meu garoto, toca aqui.
– Não tem motivos para comemorar Vítor, ela foi embora.
– Eu sei, ela é paulista, e só faz algumas campanhas aqui. Isso é perfeito cara, pode pegar e nem precisa ligar no dia seguinte.
– Você é tão cínico. A propósito, tranque a porta quando sair.
– Sair? Vai começar o jogo, eu perderia metade do primeiro tempo só tentando chegar em casa.
– Assista num bar. - Comecei a empurrar ele para porta enquanto falava. - Quero ficar sozinho e você é muito espaçoso.
– Espera Rafael, deixa eu pegar pelo menos uma cerveja.
– Tchau Vítor. - Fechei a porta e fui para meu quarto. Troquei os lençóis e arrumei a bagunça que o Vítor havia deixado, logo peguei no sono e adormeci por algumas horas, até que meu celular me despertou.
– Alô. - Nem olhei o número, estava tão sonolento que mal ouvia minha própria voz.
– Acordei você? - Reconheceria aquela voz até desmaiado, me sentei na cama e tentei me recompor.
– Não, não, eu estava arrumando meu apartamento. Chegou bem?
– Cheguei sim, desculpe a demora, é que quando chegamos tive que desfazer as malas e tudo mais, só terminei agora.
– Tudo bem, está fazendo o quê agora?
– Assistindo Piratas do Caribe.
– Adoro esse filme!
– Eu também, está passando na TV, começou quase agora.
– Qual canal?
– 12, esse é o segundo filme eu acho.
– É sim, um dos melhores. Nunca entendi essa paixão deles por rum, já bebeu alguma vez?
– Não, mas uso para fazer sorvete.
– Você faz sorvete?
– Sim! É uma receita antiga da minha mãe, ela sempre colocava um pouco de rum, dizia que fazia toda a diferença.
– Você fará um dia pra mim, me deu até água na boca.
– Faço sim. Olha, eu adoro essa cena.
– Eu também.Era uma sensação muito boa, estava falando sobre receita de sorvete e assistindo o mesmo filme juntos, mesmo longe parecíamos estar perto. O filme acabou mas a conversa não. Os assuntos variavam mas o papo nunca morria, as vezes ficava um tempo distraído ouvindo a voz dela e imaginando o que ela estaria fazendo, desejando que ela estivesse aqui comigo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Evelise
RomanceUm romance que narra o encontro de Rafael, um diretor de criação de lingeries desempregado e Elise uma modelo plus size. Após um encontro inesperado em uma boate, os dois despertam sentimentos um pelo outro porém sempre há aquele x da questão que os...