Parte 8 - Vodka

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- Vodka?
- Sem gelo!
- Pela sua cara, já vi que está mal, mas já vi que não conseguiu nada mesmo. - Peguei o copo da mão do Vítor e me joguei no sofá.
- Perdi o dia todo e nada. Eles não querem me contratar como diretor criativo, querem que eu comece de baixo.
- Que tenso cara, e você foi em todos?
- Sim, fui até nas empresas pequenas, todos me disseram o mesmo. - Bebi todo o líquido de uma vez e ergui o braço para trás pedindo mais.
- Nossa, isso deve ser culpa da crise. Acho que vai ter que aceitar isso mesmo. - Ele encheu meu copo novamente e se sentou do meu lado.
- Não! Não posso começar tudo de novo, eu perdi dez anos na Corpus, não posso perder mais dez fazendo tudo de novo.
- Rafael, você já está a um mês procurando outro emprego, eu te ajudei com o aluguel desse mês mas não sei se consigo te emprestar mais dinheiro.
- Não precisa! - Esvaziei meu copo de uma vez só novamente e peguei a garrafa da mão dele. Continuei a falar enquanto me dirigia para meu quarto. - Eu vou dar um jeito, mas não tem condições de eu começar do zero.
Terminei a garrafa em poucos minutos e então apaguei jogado na cama com o mesmo terno que havia saído. Acordei no outro dia pela manhã com uma enorme dor de cabeça, fui direto para o banheiro, arranquei minha roupa e me joguei debaixo do chuveiro. Fiquei alguns minutos ali pensando, me sentei no chão do box, comecei a analisar minha vida profissional, financeira e amorosa, e então comecei a chorar. Não sentia vontade nem de levantar dali. Alguns minutos se passaram, ouvi meu telefone tocar, pensei que poderia ser alguma das diversas empresas onde deixei currículo. Me levantei, coloquei uma toalha na cintura e fui até a sala pegar meu celular, mas pouco antes que eu pudesse chegar, ele parou de tocar. Ao pegar na mesinha da sala junto das chaves, avistei em seu visor 38 chamadas perdidas da Elise, logo liguei para ela.
- Elise? Está tudo bem?
- Eu que te pergunto, você falou comigo ontem de manhã dizendo que ia procurar emprego e até agora não deu notícias, fiquei preocupada.
- Ah, só bebi um pouco e acabei apagando.
- Você bebe e esquece que tem namorada, poderia pelo menos avisar que está vivo.
- Elise eu não tive um dia muito bom. - Levei minha mão a cabeça, não acreditava que estava levando sermão depois do péssimo dia que tive ontem.
- Rafael, eu só queria que me ligasse, ou uma mensagem já bastava, poxa, eu já não posso estar aí cuidando de você, se você me deixar no escuro assim eu fico preocupada.
- Desculpe, não deveria ter sido grosso, eu só tô mal por não estar conseguindo nada.
- Tudo bem Rafa, logo logo você encontra algo. - Ela falava isso desde o primeiro dia que saí para procurar emprego, sei que era a forma dela tentar me encorajar, mas não acreditava mais se era verdade.
- Sinto sua falta!
- Eu também, mal consigo me lembrar da última vez que nos vimos.
- Já tem um mês, achei que você voltaria.
- Eu também, mas não tem aparecido quase nada aqui em São Paulo, imagine para eu ir aí pro Rio. Rafa, eu tenho um evento numa empresa hoje à tarde, então tenho que me arrumar. Te ligo quando voltar, tá bom?
- Tá bom, boa sorte.
- Obrigada. - Ela desligou o telefone e antes que eu pudesse colocá-lo em cima da mesa ele tocou novamente.
- Alô?
- Rafael? É o Ricardo da Secret, lembra de mim? - Era uma das maiores concorrentes da Corpus, havia deixado meu currículo lá a alguns dias na esperança de me chamem pois já havia recebido proposta deles enquanto estava na Corpus.
- Oi Ricardo, lembro sim!
- Então, desculpa a demora para retornar, é que estávamos avaliando bem o seu currículo e ficamos bem impressionados. Parabéns!
- Obrigado.
- Mas, infelizmente a vaga que você procura já foi preenchida, podemos te encaixar como assistente ou em outra vaga fora da criação.
- Assistente?
- Sim, eu sei que não é muita coisa, mas você pode crescer aqui, vejo futuro em você nessa empresa.
- Olha Ricardo, obrigado por ter ligado, mas... - Ele parecia distraído e antes que eu tivesse a chance de continuar ele me interrompeu.
- Então, passe aqui amanhã, tomamos um café e conversamos melhor. Abraço. - Ele desligou o telefone e minha única vontade era jogar aquele aparelho na parede.
- Assistente!?
- Por que você está gritando? - Vítor se levantou do meu sofá massageando a cabeça.
- Você não tem casa?
- Eu não estou na minha casa?
- Cai fora Vítor!
- Tô indo, só faz seu apartamento parar de girar. - Empurrei ele para fora e bati a porta. Peguei outra garrafa de vodka e voltei para o meu quarto.

EveliseOnde histórias criam vida. Descubra agora