A roupa era muito apertada. Como eles usavam isso? Eu era do tamanho de um dos jovens que Lisa havia assassinado cruelmente. Talvez ele gostasse de usar roupas apertadas e colantes. Ou, simplesmente, não havia mais modelos. Mas não importava. Eu também não tinha essa escolha que ele provavelmente não teve. Só bastava vestir esse trapo imundo. Foi o que fiz. Saí do pequeno quarto que havia encontrado no prédio e fui até onde Lisa estava. Ela já tinha vestido a roupa que havia ficado larga pra ela. Não tivemos sorte então, já que as roupas eram idênticas. Ela estava sentada num canto com um olhar vago. Tinha, em suas mãos, um livro de couro que ela parecia não o ver. Deve ser mais um dos restos que encontrávamos as vezes aqui. Logicamente, me sentei ao seu lado. O livro estava exatamente aberto no meio. Ela não teria lido aquilo tudo só no tempo que fui trocar de roupa. Não dava tempo. Era um livro até muito grosso. Apenas parecia tentar fingir que leu.
-Como é a história?
Ela se assustou com minha voz. Eu não tinha falado nada demais. Apenas fui irônico
-Eu não tô entendendo bem.
Sua voz saiu num sussurro. Deu pra perceber que minha teoria estava certa. Ela não tinha lido nada. Apenas ri e me levantei, ajeitando a apertada roupa que parecia prestes a rasgar. Acho que ela poderia ter matado alguém com roupas maiores.
-Que livro é esse?
-Achei aqui.
-Qual o nome?
Ela hesitou em responder. Não sei se estava sem confiança em dizer ou estava com medo.
O Livro não Lido
O título era estranho. Numa capa de couro fúnebre e com letras douradas. Era bem bonito, pra falar a verdade.
-Posso ver?
Ela simplesmente jogou o livro pra mim e abri, com as duas mãos. Estava em outra língua. Agora entendi o nome do livro. Quem lesse a capa, não iria ler o livro porque era outra língua. Era estranho, mas chamativo. Parecia que guardava um segredo. As letras do livro eram em símbolos bastante diferentes. Um desses símbolos era igual a da MM. Será que a MM conseguia ler isso? Será que era um livro da MM? Se fosse, não é mais. Era dela. Sorrio e devolvo pra ela.
-Já conseguiu ler?
-Estou tentando. Mas é difícil. Tenho que tentar descobrir. E a única coisa que sei, é que o símbolo da MM significa um M, logicamente.
Repetindo, ela era incrível. Ela era tão brilhante. Peguei o facão e em meios a enormes ruídos, fiz o símbolo da MM na parede e em seguida coloquei um M na frente.
-Então sabemos isso. Agora faltam as outras 25 letras.
Fiz, em seguida, as outras letras com o enorme ruído do toque das paredes com o facão. Todas separadas pra ser colocado o símbolo correspondente. Pra ela, não seria difícil. Mas eu teria que ajudar. Me sentei ao seu lado e peguei o caderno novamente.
Depois de umas duas horas, havíamos feito pouco progresso. Mas seria mais fácil agora. Mais 6 letras. Faltavam 20. Era um desafio enorme. A primeira descoberta foi a letra E, numa junção das duas, formando EM. Uma palavra de duas letras simples. Mas a única que terminava com M e tinha duas letras. Em seguida foi o Q e o U, num uso extremamente vulgar da palavra QUEM. Depois já não me lembro. Era difícil isso. Teríamos que ficar mais tempo.
Mais 3 horas. 14 letras no total. Faltavam 12. E essas 12 devem ser as menos usadas no alfabeto.
-Já chega por hoje, certo?
Lisa apenas concordou com a cabeça, fechando o livro e olhando as letras reluzentes na capa. Pelo o que ela tinha aprendido, ela parecia fascinada. Nada dava maior atenção a ela do que aprender novas coisas. Me levantei, olhando o uniforme colado em mim. Eu posso não saber como iria aprender as próximas palavras, mas sabia que, de alguma forma, ia conseguir. Olhei Lisa, que ainda estava sentada.
-Vai ficar aí?
Pela primeira vez, num ato de atenção, ela negou e se levantou deixando o belo livro no chão e se dirigindo a mim.
-O que quer fazer? Comida?
Confirmei e peguei o facão novamente. Não iria gastar mais balas. Saímos do enorme prédio procurando algum lugar que tivesse comida e que não fosse atrativo pra MM. Essa Máfia gostava de tudo que fosse razoavelmente bom e enriquecido. Vi, então, uma pequena escola. Não sei se seria seguro ir. Por um lado, a MM queria pontos onde tivesse muita gente. Por outro lado, era uma escola sem importância que eu nunca tinha visto. Lisa não pensou. Nem Hesitou. Foi correndo na direção da escola, sem idéia do que estaria fazendo.
-Lisa!
Gritei pra ela e a segui. Pode não parecer a coisa mais inteligente a se fazer, mas eu confiava nela. A escola não atrairia a MM. Chegamos na entrada e diminui o ritmo do passo. Lisa não. Ela continuou, adentrando na multidão de pessoas que se concentravam na entrada. Eu Hesitei e fiquei a olhando correr. Ela era rápida e pequena. Não teria perigos. Em seguida, fui junto, com cuidado. E dificuldade. Não parecia a coisa mais simples do universo, mas era mais difícil do que parecia.
-Lisa!
Gritei de novo e a vi num ponto mais adiante. A segui, como estava fazendo. Ela parecia correr sem rumo mas tinha um sorriso de uma orelha a outra esboçado em seu rosto.
-Vem, Lucas!
Sua vez de gritar pra mim. Ela só precisava esperar mas optou por ir mais rápido enquanto em me espremia no bando de alunos que não davam espaço pra passar. Era um amontoado.
-Espera!
Tentei me abaixar, pra passar entre as finas pernas dos estudantes. Mas não cabia um alfinete ali. Piorou tudo. A escola era bem pequena mas tinha muita gente. Vi Lisa, virando numa porta. Empurrei todos em minha frente e avancei, sem dó. Estava perto da porta quando uma mulher me parou. Era um estranha mulher alta e cheia de verrugas no rosto. Nojento. Vestia uma roupa preta justa e sua voz saía junto a um bafo de cachorro.
-Então a MM resolveu dominar a minha escola.
O uniforme. Esqueci que estava com ele. Fiquei em posição de soldado na frente dela, com os braços colados ao corpo. Tentei forçar uma voz de um jovem grosso.
-Estamos aqui só para... inspeção.
Ela franziu o cenho, surpresa. Fez uma cara pensativa com um olhar vago mirado em meus olhos. Depois de uns minutos, ela abriu caminho pra mim e, devagar, fui até a sala em que Lisa tinha se direcionado. A roupa colada começava a me pinicar devido suor frio, pelo nervosismo que eu tive na frente dela. Respirei fundo e entrei na sala. Lisa não estava buscando comida. Ela estava procurando um livro. Estávamos numa biblioteca.
-O que você estava fazendo, Lisa?
Ela me ignorou, concentrada em um outro. Me aproximei devagar, assustado. Após uns 4 minutos (e 9 minúsculos passos), ela acenou pra mim vir até ela e fui rapidamente. Ela estava vendo uma página com estranhos símbolos. Os símbolos do livro. Ela tinha achado o significado de todos símbolos. E, de fato, tínhamos acertado qual era o M.
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MM - A Máfia
Fiksi UmumMM. Era assim que o bando de arruaceiros poderosos se apresentavam. Eram poucos no começo. "São só alguns jovens". Mas o famoso líder da MM conseguiu o que queria. Conseguiram dominar a cidade. Por completo. Quem se contrariasse, morria a sangue fri...