CAPÍTULO 20 - O POÇO

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Ainda assim, Ruan, movido pela fúria e pela agonia que o consumiam, continuou a puxar Vanessa, seus gritos de dor e desespero se misturando em um clamor lancinante. Cada fibra de seu ser parecia empenhada em trazer de volta a vida que escapava das mãos de todos nós. O desespero se fundia com a determinação, formando uma mistura explosiva de emoções, impulsionando nossos esforços hercúleos para salvá-la.

—Não! Não! —Continuou Ruan segurando a mão da garota, seu sangue começou a espirrar para todos os lados. Ela morreu, todos os seus órgãos foram esmagados.

—Me solte! Não! —Rubens lutou para afastar seu irmão dali, mas seus esforços foram em vão. Em um momento de desespero, um soco inesperado atingiu seu rosto, fazendo-o cambalear. A dor e a surpresa se misturaram em seu olhar atordoado.

—Deixe-o. —Pediu Beth.

—Atenção! Peço que todos me ouçam. Infelizmente, ocorreu um problema inesperado com nossos equipamentos. Lamento profundamente pela tragédia que afetou seus amigos. O campo de treinamento foi concebido com total segurança, e essa fatalidade foi completamente imprevisível. Empregamos todos os esforços para conter o fogo, mas os controles simplesmente não responderam. —Explicou Emily, sua voz carregada de pesar e frustração.

—Havia explosivos nas salas e descobrimos a presença de mais bombas em todo o campo. Há um traidor entre nós, responsável por essas mortes horríveis. Quero que encontrem o infiltrado e o capturem vivo para mim. —Ordenou Sara com determinação em sua voz, sua expressão endurecida pela traição que assolava seu grupo. O caos foi estabelecido.

Orocovis, Campo de treinamento, 29 de junho de 2020, 04:14 PM.

Depois das mortes as portas foram abertas, fomos obrigados a voltar para nossos quartos para limparem a bagunça. Alguns minutos depois alguém bateu em minha porta, abri e era mamãe.

—Ah que bom que conseguiu sair de lá viva. Temos que encontrar o intruso, ele não se importa nem mesmo com você. Quase perdemos tudo hoje! —Mamãe arrastava uma caixa branca aparentemente pesada.

—Precisa alimentar-se. Amanhã começa a segunda fase. Força física. —Abri a caixa e vi um ser humano morto e ensanguentado, no princípio não me senti muito à vontade para usufruir daquilo.

—Amanhã lhe devolvo a consciência.

—Tire isto daqui! —Pedi.

—São ordens. Todos estão passando pelo mesmo.

—Como você pode fazer isto?

—Existe uma causa maior. Sacrificamos alguns para salvar o mundo. É assim que lido com isto. Descanse! —Mamãe saiu do meu quarto me trancando e deixando o cadáver como jantar.

Orocovis, Campo de treinamento, 30 de junho de 2020, 01:17 AM.

Após algumas horas, fui despertada por um alarme estridente que ecoou por todo o ambiente. Despertei e notei um novo uniforme vermelho ao meu lado, vesti-o às pressas e segui para o campo de treinamento. Lá, Beatriz nos conduziu a um corredor desconhecido para mais um teste.

Caminhei ao lado da minha mãe, seguindo a multidão em direção a um local sinistro e desconhecido. De repente, chegamos a um precipício que se estendia diante de nós. A rainha estava posicionada em uma ponte, cercada por seus guardas, enquanto alguns líderes permaneciam do outro lado. O local me enchia de medo, e não pude deixar de notar que muitos outros se aproximavam para espiar o fundo do precipício, mas ninguém conseguia ver nada além da escuridão profunda.

—Não há como medir a profundidade, podemos estar diante de um abismo infinito! —Exclamou um dos líderes, com a voz trêmula.

Eu olhei para baixo, com um nó na garganta, e percebi que a rainha estava certa: o precipício era tão profundo que parecia não ter fim. A ideia de cair naquele vazio me deixou arrepiada. Os comentários dos infectados só aumentavam a tensão no ar, como se eles estivessem à beira de um precipício literal e metafórico. Aproximei-me mais um pouco e na mesma hora alguém gritou.

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