Capítulo 15

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O dia estava friozinho. River tinha me chamado para conversarmos no parque que ficava nos limites da cidade. Eu não fazia ideia do que ele queria. Também sei que não iria fazer nada de mais, já que para onde nós iríamos era um lugar movimentado. A única atração turística decente que nossa cidade tinha. Havia túneis feitos com arbustos e que as pessoas podiam passar por dentro deles, um pequeno labirinto construído para entreter as crianças, alguns chafarizes espalhados pelas quatro entradas e no centro uma área circular com o chafariz maior.

River estacionou o carro no estacionamento pago. Não que ele fosse esnobe, mas por dois motivos simples. O gratuito já não tinha mais vagas e ele queria contribuir para as manutenções do parque. Achei um gesto bacana. Afinal, todo mundo quer usufruir das belezas, mas poucos querem ajudar a manter.

Começamos a caminhar até que alcançamos a entrada dos túneis. Nos mantivemos afastados das pessoas, mas bem próximos um do outro.

— E então, o que você queria me contar? — perguntei após ele terminar um discurso ecológico.

— Então, lembra-se daquele dia que eu saí mais cedo de sua casa, depois que tivemos a conversa com sua mãe?

— Sim, o que tem? Fiquei curioso. — Era uma verdade, passou uma semana desde que ele saíra correndo de casa e não me contara o motivo. Eu até tentei tirar a informação dele, mas River bateu o pé, dizendo que não podia contar. — Não só eu, minha mãe e Lia também.

River começou a rir e eu franzi o cenho. Qual era a graça? Eu já ia perguntar o motivo quando um garotinho passou correndo entre nós dois. O pai dele nos pediu desculpas e correu atrás do filho, que escapou por uma entrada em formato de portal que tinha entre os arbustos.

— É que eu não podia falar nada e agora eu posso — disse. — Naquele dia eu fui para uma audição de um teatro. E adivinha? Eu ganhei o papel!

River terminou a frase muito animado. Tanto que me levantou no ar e girou comigo.

— Seu maluco, o que está fazendo? Alguém pode ver! — bati em seus ombros para que ele me pusesse no chão. Olhei para os dois lados do corredor e ninguém estava à vista.

— Ora, não esquenta. Se alguém vir eu digo que o titio River está tomando conta de você.

— Titio? — repeti sentindo um calafrio percorrer meu corpo. — Isso soa muito estranho.

— Ah para, vai! Estou muito feliz. Quando eu vi meu nome completo na lista dos atores aprovados para o elenco eu fiz uma festa em casa.

— Poderia ter me chamado, né? — retorqui com um beicinho. River riu e tentou me abraçar, corri dele. — E falando nisso, acabei de me dar conta de que não sei seu sobrenome.

River sorriu e concordou. Ao contrário de mim, River já sabia meu sobrenome e muitas outras coisas.

— Vernan. River Vernan!

Meu queixo caiu. Nem sabia o que responder. Além do nome, seu sobrenome também era incomum.

— Essa sua boquinha aberta está me parecendo um convite — a malícia falou por ele. Eu ri, meio abobalhado, mas ri.

— Não é isso seu safado. Só fiquei chocado com seu nome, digo, sobrenome.

— Não sou safado coisa nenhuma, só não resisto ao seu amor e à sua boca. — Deu de ombros. — E quanto ao meu nome, ele pertenceu aos meus ancestrais franceses.

Uau! França. Olhei para ele desconfiado.

— Você não tem cara de ser francês. Embora seja tão galante quanto — eu disse baixinho essa última frase. Ele deve ter ouvido, pois me agarrou e me empurrou contra a parede de folhas, olhando fixamente em meus olhos. — River, você perdeu o juízo?!

— Não adianta se fazer de difícil, ouvi muito bem o que você disse baixinho — respondeu, sem me soltar. Eu também não queria que ele me soltasse. — Perdi totalmente o juízo sim. Desde o segundo em que meus olhos encontraram os seus.

Um balão de euforia estourou dentro de mim quando ele disse aquilo. Por fora, fiz cara de paisagem. Nem eu me entendo, em uma hora estou com a pulga atrás da orelha por River ser o príncipe que toda garota sonha e ele ter escolhido ficar comigo. E no outro estava me desmanchando de felicidade por isso. Vai entender o coração de quem está apaixonado.

Aqueles olhos azuis encantadores. Pairavam sobre mim. Ele fez uma carícia em meu rosto com seu indicador. Me soltei quando consegui, algumas mulheres estavam se aproximando e eu ainda não estava preparado para que ninguém nos visse juntos. Ainda. Elas se aproximaram eu havia me recuperado da emoção que River me causara.

As três garotas passaram e nem se deram ao trabalho de fingir que não estavam olhando para ele. E não é para menos, um galã desses? Quem não veria. River acenou para elas sorrindo quando elas olharam para trás. Só consegui ouvir risinhos e algumas palavras que prefiro nem lembrar.

— Então quer dizer que você vai ser ator agora? — Redirecionei a conversa.

Acho que o mesmo balão de euforia estourou dentro dele. Pois seu peito inflou e se ele tivesse penas majestosas como as de um pavão também as teria exibido.

— A-hã. Eles disseram que eu mando muito bem.

"Pudera, com esse rosto lindo, esses olhos maravilhosos e essa voz ainda mais sedutora... qualquer um diria que ele manda muito bem!"

— Estou muito orgulhoso de você, meu amor.

— Obrigado, amor. Prevejo que vou me sair muito bem — comentou todo pomposo. Continuamos a andar, eu já podia ver o fim do túnel. — Será que antes da gente sair eu ganho um beijinho?

"Até mil...", minha consciência sugeriu uma frase pronta. Eu a obliterei no mesmo instante.

— Mas é claro — murmurei, minhas bochechas esquentando.

— Ótimo, pois se tivesse recusado eu teria te agarrado e conseguiria o beijo do meu jeito. — Ele fechou os olhos e exibiu um sorriso vitorioso.

Como estávamos perto da saída, ele me agarrou e me puxou para junto de seu corpo. Me deu um beijo suave e fresco. Era a primeira vez que eu recebia um beijo em um lugar público. Eu estava com medo de ser pego por alguém? Claro que sim, só que eu estava plenamente de acordo com meus sentimentos. Ele me soltou e continuamos nosso passeio. Passamos o resto da tarde no parque, até que nossas barrigas roncaram e precisamos correr para uma lanchonete. O final do dia terminou regado com muito molho e um copo de refrigerante dançando no ar e caindo sobre nós dois.

Fiquei ensopado e talvez enrascado. Mas o sorrisoque se estendia pelo meu rosto era tão sincero que eu poderia ficar assim parasempre. River também gargalhava. E eu não tinha como esquecer a expressão norosto dele. Na verdade, eu jamais esqueceria. Ele sorria porque eu era omotivo. Cada pessoa no mundo é uma razão. Nós dois éramos duas razões. A razãoque um via no outro.

A Estrela Dedicada a VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora