Na Véspera da Viagem

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16 de Fevereiro de 2012

Era meia noite e vinte, quando deitei na cama depois de ver um filme de terror com minha cadela Safira. Eu me sentei no colchão olhando pra porta meio encostada do banheiro a minha frente, era bom ter um banheiro só pra mim, assim quando tinha vontade me levantava e ia até lá com a Boddy " Minha Lâmina " meio clichê e bizarro dar nome pra algo que te corta. Que te faz sangrar, mais ela pra mim era minha única amiga, então era algo que não gostava de comentar o por que era grata a ela.
Eu me deitei apagando a luz do abajur, fiquei olhando pro teto as horas seguintes, pensando, suspirando, sorrindo e até mesmo deixando uma lágrima escorrer, muitas vezes o pensamento de uma pessoa nada mais me remete a arquivos.  Arquivos espalhados numa sala enorme, jogados ao chão impossíveis de sequer ser organizados, ou até mesmo compreendidos. São tantas as coisas que se passa na mente de uma pessoa em menos de cinco minutos, imagine então em horas... Incontáveis minutos, tão incontáveis quanto as imagens que o nosso cérebro reproduz dentro desse enumerado espaço de tempo.
Eu olhei pra porta e ela estava encostada, dando um ar de mistério, um mistério do tipo que você quer ir até lá e explorar, descobrir. Eu me levantei e abri a gaveta pegando uma lâmina longa e afiada. Andei devagar até a porta respirando fundo... A janela aberta fazia meus cabelos voarem cobrindo um pouco meu rosto, eu coloquei a mão na maçaneta gelada e empurrei a porta acendendo a luz e entrando devagar e fechando a porta, começando mais um de vários outros episódios de dor...

17 de fevereiro de 2012

Eu sai do quarto com uma blusa de manga, que cobria meu braço, desci as escadas com pressa e entrei na cozinha pegando um copo de suco de laranja e croissant com Nutella. Eu me sentei na mesa do lado do meu pai que estava no centro dela. Ele lia o jornal e bebia café.

- Bom dia...

Eu disse mordendo meu croissant, olhando pra mesa.
Na verdade, de uns tempos pra cá eu e meu pai havíamos nos distanciados, ele não era o mesmo comigo. Tinha ficado grosso e rígido demais, então resolvi tratar ele na mesma moeda.

- Bom dia.

Ele continuou a olhar pro jornal, revirei os olhos e bebi o suco quando ouço o barulho do salto da minha mãe, ela estava radiante como sempre. Ela se sentou a minha frente e sorriu me dando bom dia eu sempre respondia na mesma alegria, pra mostrar pro meu pai que ela merecia e ele não. Ele pareceu irritado e disse em seguida.

- Você já arranjou alguma amiga sua pra ir na viagem com você, Valery?

Ele disse me encarando, empinei o nariz e fiquei séria.

- Não. Eu não quero levar ninguém eu vou sozinha.

Meu pai fez cara de deboche, e balançou a cabeça negativamente bebendo o café.

- Está vendo Anne? Eu disse a 5 anos atrás que ela devia se consultar com uma psicóloga. Agora fica assim, um monstro numa toca. Ela vai viajar daqui a dois dias e não tem quem ir por que não quer ter amigos.

Eu fiquei revoltada com o termo. Minha mãe horrorizada com a rudez que ele usou fez cara feia pro meu pai, batendo o pano na mesa resmungando.

- Agora a culpa e minha por ser a sua aberração particular é isso?

Eu rebati com ódio, mais ele nem sequer olhou pra mim me ignorou e ignorou mais ainda meu comentário, ele apenas encarava minha mãe com um olhar de ódio e revanche.

- Christian! Como pode falar assim na frente da nossa menina?! Ela não tem nada de errado, ela e uma adolescente normal! Ela só gosta de viver no mundo dela.

Ele olhou ela e fechou o jornal o jogando na mesa e olhando pra mim e depois pra minha mãe.

- Eu sei oque vou fazer. Mesmo que não goste de pessoas, eu vou colocar você mocinha em um colégio interno! Assim você aprende a conviver com gente!

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