Tiro meu casaco e sinto as gotas de chuvas tocarem meu corpo. Abro meus braços e fecho os olhos. Lá estava eu, Maia Rodriguez, em frente à minha casa em Denver, no Colorado, com meus vestido vermelho rodado que ia até os joelhos, juntamente com minhas botas pretas desgastadas e minha jaqueta preta por cima de meu braço. Com a maquiagem borrada, sentindo a chuva pingar sobre meu corpo.
-Maia, entre já! Você irá pegar um resfriado. -pude ouvir os gritos de minha mãe na porta da varanda branca de casa. Eu olhei para trás e vi que ela parecia preocupada.
-Eu já vou mãe! -avisei. Eu caminhava pela grama que havia na frente de minha casa, enquanto mexia em um dos meus anéis. Ao chegar na varanda sequei minhas botas no tapete que havia na porta enquanto olhava para as duas poltronas que estavam do lado de fora -uma cor-de-rosa e a outra azul- abro a porta e sou recebida com uma toalha por minha mãe.
-Mãe, eu estou bem! -eu disse tirando a toalha de minhas costas.
-Então suba e vá tomar seu banho! Daqui a pouco te chamo para o jantar. - ela disse indo para a cozinha. Olhei para a sala, Coner, meu irmão de 17 anos, estava jogado vídeo game, ele parecia bastante concentrado. Subi as escadas e passei pelo escritório de meu pai, onde ele estava preenchendo uns papéis. Fui até meu quarto e tranquei a porta. Coloquei Avril Lavigne no volume máximo e fui tomar banho. Entro em meu banheiro lilás, decorado com um espelho no formato de um coração, e com adesivos de flores e borboletas no box. Tomei meu banho e fui trocar de roupa. Como já estava tarde, coloquei meu pijama velho. Uma calça listrada branca e preta, juntamente com uma blusa preta escrito "I Love Paris" com a Torre Eiffel na camiseta -tinha comprado numa viagem que fiz até Paris com meus pais e meu irmão - deitei em minha cama e observava os quatro cantos do quarto. As paredes brancas, sendo só uma delas vermelha. Eu amava vermelho, era exatamente a parede onde ficava a cabeceira da minha cama, embutida no guarda roupa, e logo à frente, minha escrivaninha com meus cadernos de anotações, diário, trabalhos, e claro, o computador. Acima da escrivaninha havia um varal com fotos de meus amigos. Ao lado da escrivaninha, encostada na outra parede, tinha uma penteadeira e do outro lado havia uma varanda. E ainda sobrava um cantinho para colocar minha caixa de som. Minha mãe bateu na porta dizendo que o jantar estava pronto. Eu desliguei o som, que estava reproduzindo a música My Happy Ending. Calcei meu chinelo e desci as escadas. Minha mãe estava colocando os pratos e talheres sobre a mesa, então resolvi ajudá-la. Coner, não estava mais jogando, agora ele estava tocando violão, podíamos sonoramente, ouvir ele tocar e cantar Cabelos De Algodão da Banda Fly. Meu pai desceu depois de mim. Fomos todos em direção à mesa e comemos a comida deliciosa que minha mãe havia preparado: Arroz, peixe, feijão e uma salada acompanhada com um suco de caju. Logo depois, fui para meu quarto. Escovei meus dentes e fui dormir com o barulho delicioso da chuva.
Acordei com o cheiro da grama molhada e com o canto dos passarinhos. Era 22 de janeiro. Eu mal podia esperar para rever meus amigos no mês que vem. Tomei um banho e coloquei meu short preto de cintura alta e uma blusinha branca sem manga, completei o look com uma sapatilha preta. Desci as escadas e fui tomar meu café. Na mesa, encontro meu pai lendo o jornal e Coner assistindo Tv.
-Onde está minha mãe? -perguntei. Coner me olhou esquisito.
-Sua mãe teve que resolver uns problemas. Por isso, hoje quem fez o café fui eu.
-Que tipo de problemas? - sentei na cadeira e comecei a me servir. Meu pai largou o jornal sobre a mesa, e se inclinou como se estivesse prestes a anunciar uma notícia triste.
-O estado do seu avô piorou.
-Como é? - meu avô, Felipe, estava no hospital com câncer. Ele estava fazendo quimioterapia, mas não foi o suficiente e tiveram que interna-lo.
-O que ele teve? -perguntei meio perdida.
-Ela foi lá para saber, meu bem! Vamos ficar calmos. Toma seu café, você precisa se alimentar.
-Mas pai... - não adiantava discutir com meu pai. Ele sempre ganhava. Tomei meu café e me sentei ao lado de Coner.
-Como você está? - ele perguntou. O analisei, ele vestia uma calça jeans e uma blusa branca, acompanhada por uma jaqueta preta de couro e botas pretas de marca. Seu cabelo jogado pro lado estava acompanhado de uma touca. Sua expressão era triste. Coner, mais do que ninguém, era muito ligado ao vovô Felipe. Eles conversavam muito. Coner sempre falava de como se sentia para ele. Vovô sabia de tudo sobre ele, primeiro amor, primeiro beijo. Ele sabia de tudo e eu também. Coner e eu sempre fomos muitos ligados. Ele tinha 17 e eu 16 anos, éramos da mesma turma no colégio. Nossa relação era forte. Ele me perguntava se eu estava bem, mas ele mesmo não estava.
-Eu vou ficar! Nós vamos superar isso Coner! Nós dois. - eu o abracei e ele pareceu querer chorar, mas se segurou. Me doía vê-lo daquela maneira. Ele desligou a televisão e subiu para o quarto. Fiquei no sofá, jogando em meu celular para me distrair. Tudo estava em silêncio. Até que minha mãe chegou aos prantos e se sentou na poltrona beje que havia na sala. Nessa hora, Coner voltou e todos nós fomos até ela.
-Querida... - meu pai tentava achar as palavras certas.
-Mãe, o que aconteceu? -perguntei delicadamente. Com suas palavras, meio atrapalhada, minha mãe explicou que meu avô não resistiu e que o tumor instalado era extremamente forte e que os tratamentos não haviam adiantado. Todos nós ficamos descontrolados. Principalmente Coner, ao receber a notícia, saiu e bateu à porta de casa com força.
-Coner! - gritou meu pai.
-Pai, deixa! Ele precisa de um tempo só pra ele.
Passaram-se horas e nada de Coner voltar.
-Onde esse menino se meteu? -minha mãe ficava mais aflita a cada segundo.
-Eu vou chamar a polícia! -disse papai.
-Não! Acho que sei onde ele está. -eu disse me levantando e saindo para procurar meu irmão. Fui até o jardim da casa do vovô. Fui recebida por Rebeca, madrinha de Coner e minha tia.
-Olá Maia! Que bom te ver.
-Oi tia Rebeca. O Coner está aí?
-Está... Você já imagina onde, não é? -eu entrei e fui até o jardim da casa de meu avô, era enorme e lindo. Fui até um canto onde Coner costumava se esconder quando criança.
-Sabia que estaria aqui. - eu disse me sentando ao lado dele.
-Me deixa aqui vai. -ele pediu e abaixou a cabeça.
-Desculpa, mas não dá, papai está lá querendo chamar até a polícia. -eu disse, ele riu ironicamente.
-A cara dele fazer isso.
-Vem comigo.
-Não dá. Eu não consigo fazer isso.
-Isso o que?
-Não vou conseguir sair por aquela porta e fingir que tudo está bem.
-Você não precisa fingir nada para ninguém.
-Eu não vou chorar na frente deles.
-Coner, chorar não é uma demonstração de fraqueza. Você tem sentimentos como todos nessa família. Vem comigo. -estendi minha mão, ele a pegou e levantamos do chão. Eu fique parada olhando ao redor.
-Algum problema? - perguntou ele.
-Não, nenhum. Eu só tinha esquecido como esse lugar era bonito. - saímos do jardim e fomos para a casa. A notícia se espalhou, recebemos cartas, e-mails e mensagens de apoio. O enterro aconteceu dois dias depois. Tudo estava muito triste e sem cor. Mas isso que acontece, é uma dor eterna. Essa dor não some, essa dor não desaparece com o tempo. Nós carregamos essa dor conosco. Só precisamos aprender a conviver com ela. A dor da perda.####################
NA FOTO MAIA E CONER
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One Part Of Me
RandomMaia -uma adolescente normal de 16 anos- está prestes a ter sua vida virada de cabeça para baixo com o ano que está vindo. Novas amigas, novos professores, novas paixões. Além de muitas encrencas que acabam levando-a até a polícia....