3. O Problema

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O dia estava nublado. Meus pais resolveram viajar de última hora e o serviço de casa ficou todo para mim já que Coner era muito preguiçoso. Coloquei meus fones e os conectei com meu MP3 player branco. Comecei varrendo a casa e limpando os móveis, depois passando o pano, lavando a louça e por aí vai.
-Vou sair! -disse Coner colocando sua jaqueta de couro.
-Onde você pensa que vai?! -perguntei encostando a vassoura no raque.
-Eu não penso. Eu vou!
-Coner, você não me ajuda em nada e agora vai sair? -reclamei enquanto ele revirava os olhos.
-Eu não vou demorar. Só vou buscar uma coisa.
-Que coisa? -um silêncio se instalou na sala. Eu o encarava esperando uma resposta.
-Não é da sua conta!! -foi tudo o que eu ouvi antes dele sair a bater a porta com força. Voltei a arrumar as coisas. No final do dia, tudo ficou impecável. A sala clara e ampla estava totalmente limpa, os sofás e o divã estavam sem nenhuma sujeira ou sequer algum farelo de salgadinho. A casa estava limpa. E eu estava um trapo. Estava precisando de um banho urgente. Sentei no sofá para checar minhas mensagens antes de ir para o banho. Foi quando Coner voltou colocando algo dentro do bolso. Joguei o celular no sofá e me levantei.
-Eu volto rapidinho? Coner eu comecei a arrumar essa casa 7 da manhã, já são 12:30, o que você está fazendo?
-É proibido sair com o a amigos? -ele disse olhando para baixo. Cheguei perto dele e fiquei meio assustada.
-Sua cara está inchada! Você andou chorando?
-Da para você me deixar? -ele tirou o casaco.
-Você está muito nervoso.
-Eu vou almoçar fora.
-Com quem você estava?
-Da um tempo Maia!! -ele subiu as escadas. Eu fui tomar meu banho e ignorar aquele ataque de fúria de meu irmão. Logo depois fui almoçar fora, pois não ia fazer almoço só para mim. Fui até um restaurante perto de casa e fiz meu pedido. Fiquei um tempo sentada depois de comer e em seguida levantei e voltei para casa. No caminho, sou "atropelada" por um skate, era o skate de minha amiga Vanessa.
-Você está bem? -ela disse rindo e me ajudando a levantar.
-Estou! Se divertindo?
-Pois é... -Ela pegou o skate do chão. Seus cabelos pretos com pontas vermelhas se mexiam conforme o vento.
-Tenho que ir ajudar minha mãe lá na loja. Estou atrasada inclusive.
-Vai lá.
-Ah, só uma pergunta.
-Pode falar. -disse com um sorriso.
-Desde quando seu irmão é amigo do Matheus? -ela perguntou relaxada.
-Matheus?? -me espantei. Matheus era um garoto completamente idiota e equivocado. Ele era um perturbado, melhor dizendo. E eu tinha ficado com ele na 6ªsérie, foram só alguns beijos, nada demais...mas isso não vem ao caso. Ele tinha um problema sério com drogas e eu não gostava de falar muito com ele... Eu tinha meus motivos.
-Sim, eu estava andando e vi eles em frente ao Caneca Gelada, aquele bar da esquina.
-Você está falando sério? -disse colocando uma de minhas mãos na testa e franzindo as sobrancelhas.
-Sim, por quê? Recaídas? -ela riu. Ela sempre gostou de zoar os outros.
-Você não tinha que trabalhar?
-To indo...To indo -ela disse colocando o skate no chão. Fui para casa pensativa e tentando resistir à tentação de não roer as unhas. Coner chegou um pouco depois de mim. Ele já ia subindo as escadas quando eu o parei.
-Precisamos conversar! -ele me olhou por um tempo e subiu as escadas.
-Vem comigo! -fomos para o escritório do papai. Eu fechei a porta. Ele parecia calmo.
-Acho que já sei o que você quer! -ele disse me encarando.
-Ah sabe?!
-Sim.
-Acho que não. -questionei.
-Quem foi o caguete? -ele perguntou, ficamos em silêncio.
-Isso...isso não importa. -o silêncio continuou, percebi que ele me olhava com cara de tédio.
-Claro. -ele deu um sorriso debochado.
-Por que você está andando com o Matheus?
-Ele é divertido.
-Ele é drogado.
-E você uma chata!
-Eu estou tentando te ajudar.
-Não preciso da sua ajuda.
-Coner...
-Eu preciso do meu vô, Maia! -rebateu ele.
-E eu preciso de você bem.
-Vai me dizer com quem eu devo andar agora?
-Eu não posso fazer isso.
-Pelo menos isso entra na sua cabeça. -eu olhava para ele. Totalmente descontrolado. Sai do escritório e o deixei sozinho. Já tínhamos discutido bastante.
As horas passaram e eu fiquei em meu quarto conversando com Mia. Me sentia perdida. O que eu faria? "Convida ele para sair!" Sugeriu Mia. Talvez desse certo...não custaria tentar. Sai de meu quarto e entrei no dele. As quatro paredes azuis, tendo em uma delas um aquário gigante embutido, cheio de peixes. Um deles tinha o nome de Felipe, em homenagem ao vovô. Outro -igual a espécie do Nemo daquele filme da Disney- ele tinha dado o nome de Maia, porque eu adorava o filme e ele se lembrava de mim quando olhava para o peixe. Havia outra parede onde havia 2 guitarras e um violão pendurados. Embaixo uma bateria. Havia roupas jogadas no chão, claro, e uma enorme caixa de pizza encima da escrivaninha do computador, ainda havia um pedaço lá dentro, não faltaria de saber a quanto tempo aquilo estava ali. Ele estava deitado na cama com um cavaquinho. Ele me olhou cansado.
-O que você quer?
-Vim te convidar para ir na pizzaria comigo.
-Não estou com vontade.
-Vai ser bom para você se distrair.
-Desculpa Maia, mas se você não se lembra, eu tenho a obrigação de dizer ... Você não é minha mãe! - ele virou para o outro lado.
-As vezes eu sinto como se eu fosse! -sentei na beira da cama. -Eu tenho bem mas juízo que você.
-O que eu ganho indo nessa pizzaria?
-Você precisa ganhar alguma coisa com isso?
-Fala sério! Você quer me perguntar alguma coisa? Pergunta agora.
-Se você for eu não faço mais perguntas. -ele se sentou.
-Tá legal. -disse zombando.
-Coner!
-Que é?! -perguntou arrogante.
-Você anda usando drogas? -o clima ficou pesado, ele me olhou com desprezo.
-Vamos logo nessa porcaria de pizzaria. -ele se levantou e foi até o guarda-roupa.
-Vou trocar de roupa, vai ficar aqui? -ele disse abrindo a porta e pegando um boné.
-To saindo! Te espero lá embaixo. -sentei no sofá para esperar, eu estava com uma saia preta e de bota com uma blusinha básica.
Chegamos na pizzaria e nos sentamos.
-Você quer de que? -perguntei olhando o cardápio
-Calabresa!
-Boa escolha, eu quero a de quatro queijos.
-Que seja! -ele virou para o outro lado.
-Você pode tentar parecer animado? -ele deu um sorriso forçado. -Ok, se é tudo o que consegue. -zombei. Ele revirou os olhos. Fiz o pedido, que logo depois chegou. Comemos até que bastante pizza, sobrando apenas 1 pedaço.
-Nem foi tão mal assim! -ele disse tomando o refrigerante.
-Eu sei que você adorou, ok? -nós rimos. Abri a bolsa para pegar a carteira quando Coner fechou a cara.
-Que foi?! -ele fuzilava algo. Olhei para trás e lá estava ela, Luara. Coner era apaixonado por Luara desde que eles tiveram de dançar juntos numa apresentação de quadrilha na 1ª série. Coner nunca a esqueceu, sempre falava dela e do quanto ela era legal. Ela entrou acompanhada de Igor, que era um dos nerds da nossa sala é muito fofo inclusive, e Mike, também era da nossa sala e era um pouco gordinho, mas era muito divertido passado tempo com ele. Luara estava acompanhada de um terceiro garoto, cujo o nome eu não sabia, nunca nem tinha visto aquele garoto.
-Você quer ir embora? -perguntei.
-Vamos antes que nos vejam. -ele disse.
-Eu vou pagar a conta! Você fica aqui. -eu levantei e fui até o caixa. Paguei a conta e quando olhei para trás Coner tinha sumido. "Só pode ser brincadeira! " pensei. Fui até a mesa, mas antes fui barrada por Luara, ela estava com um vestido lindo com um cinto que dava um brilho no look, fora a sapatilha fofa que dava um ar romântico a roupa.
-Maia! Quanto tempo.
-Pois é! -ela me abraçou e começamos a conversar, até que tive que cortar ela por causa de Coner.
-Outra hora a gente conversa.
-Ah é, eu vi que o Coner estava aqui, para onde ele foi?
-Meu pai ligou, ele teve que ir para casa. -menti, Coner odiava que as outras pessoas vissem sua fraqueza. Ele não gostava de demonstrar isso, muito menos na frente de Luara.
-Que pena. Bom, depois eu falo com ele então.
-Tudo bem. -ela saiu mexendo em seus cabelos loiros. Voltei corrend para casa e encontrei Coner sentando no sofá.
-Ainda bem que você está aqui! -cheguei e o abracei. -Sobe pro quarto! Já está tarde. -ele subiu.
-Não quero dormir.
-Não precisa dormir! Só encosta sua cabeça no travesseiro e pense em coisas boas, fecha os olhos. -eu disse e ele fazia. Ele pegou o cobertor e fechou os olhos.
-Você viu ela com os meninos e quem era aquele último que entrou do lado dela? Eu vou...
-Shiiiuu, você precisa dormir. -Coner sempre foi sensível. Mas fazia de tudo para não demonstrar. Pouco depois, ele já estava dormindo. Apaguei as luzes e sai.

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NA FOTO VANESSA E MATHEUS.

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