*Duas semanas para o natal*
Acordei, briguei com o despertador, e me arrumei.
Tênis, doce tênis. Prendi meu cabelo, ainda não acostumada com o visual. Meus pais estavam gostando da minha recuperada de notas. Saí de casa tranquila.
×××
Cheguei na escola normalmente, e então, eu vi.
Vv e Toni estavam abraçados. Ela acariciou suas costas e falou alguma coisa. Ele sorriu um pouco (como se estivesse com areia na boca) e me viu. Acenou e começou a se aproximar.
Eu queria decapitar aquela vaca, mas me controlei e resolvi esquecer. Senti um frio na barriga quando ele estava se aproximando, pois não estava acostumada (também) com seu novo visual.
- Oi - ele falou, muito triste, baixando o olhar.
- Oi - respondi - o que houve?
- É que... meu avô morreu.
Ah... valeu não decapitar alguém.
O que fiz foi inesperado até para mim. Não falei que tudo ia ficar bem. Não falei que sentia muito. Não falei que ele devia ser uma boa pessoa. Simplesmente o abraçei. Fiz isso, porque senti que seria o que eu iria querer, caso estivesse em seu lugar. Ele demorou alguns segundos, mas retribuiu o abraço. Senti algo molhar meu ombro. Lágrimas. Ele estava chorando. Normalmente eu zoaria com alguém chorando. Chamaria de bebezinho. Mas naquele dia, não.
- Sabe - ele falou, entre lágrimas, pois o corredor estava vazio com exceção de nós - ele era ótimo. Quando eu era criança e me machucava, ele me dava doces e me consolava. Mas eu não pude fazer isso por ele. Quando ele levou um tiro, não pude fazer nada. - tiro? - nada.
Tiro? Tiro? Tiro??? Volta a fita. Estava morrendo de curiosidade, mas achei melhor não perguntar. Naquele momento.
- Vai ficar tudo bem. - disse simplesmente, me desvencilhando do abraço - vai ficar tudo bem.
Ele secou as lágrimas e se recompôs.
×××
O sinal tocou, a aula passou, e não consegui falar com Toni de novo. Queria saber quando era o velório, se ele queria companhia e tals.
Como não o encontrei, e a aula já tinha acabado, fui para casa. Mas antes, passei no shopping. Sim, eu queria falar com o papai noel.
Me aproximei da grande poltrona vermelha. Ele ainda estava lá, mesmo sem nenhuma criança, por causa do horário de almoço. Ele estava lendo algo, que identifiquei ser... uma carta. Levantou a cabeça e sorriu.- Laura, ho ho ho, meus parabéns.
Estranhei.
- Como assim? - perguntei.
- Antes, eu é que pergunto - ele respondeu - como você veio parar aqui?
- É que... eu preciso que você me diga o que fazer para consolar um amigo.
- Ho ho ho , por isso lhe dei os parabéns, querida - falou - você já fez isso, com um abraço. A melhor coisa que poderia fazer.
Como ele sabe? Me assustei, mas então lembrei que ele era estranho e que a família de Toni poderia ter colocado algo sobre a morte... é, continua sem sentido ele saber. Balançei a cabeça.
- Obrigada... eu acho. - respondi - mas mesmo assim, eu gostaria de fazer algo. Ele está desolado.
- Hum... - ele falou, pensativo - pode ser. Ele se culpa, querida. Muito. Então pode ser que se você chamá-lo para um passeio, ele esqueça um pouco as coisas.
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Um Pequeno Conto de Natal (Completo)
Teen FictionLaura é uma garota de 16 anos. Sempre simpática e doce, a menina sofre certas reviravoltas em sua vida. A reação dela com uma mudança de cidade, principalmente, é o que deixa seus pais preocupados. Neste pequeno conto de natal, você vai ver como a...