Cap. 11

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♤ Na véspera de Natal ♤

Acordei as 11h, aproveitando cada minuto das férias escolares.

Escovei os dentes, tomei um banho, e me vesti. Calça jeans e camiseta. Deixei o cabelo solto mesmo.

Peguei meu celular e mandei mensagens para Beth e Lisa, perguntando como estavam de viagem. Ambas não responderam. Claro, devem estar aproveitando o sol maravilhoso do Rio de Janeiro. Saí do quarto lentamente (ultimamente estava fazendo tudo lentamente, aproveitando que eu podia por causa das férias).

Já fui para a cozinha, para almoçar. Depois, dormi a tarde inteira. Acordei apenas durante a noite. Me arrumei para a ceia de natal e fui procurar meus pais. Eles não estavam em lugar algum. Nem o tortura. Meu celular vibrou.

Caça ao tesouro
Você quer encontrar seus pais? Pois então procure os seguintes itens:

- uma bola vermelha;

- uma passagem de avião;

- uma carteira de identidade;

- uma caixa colorida;

Dentro de cada um destes itens, haverão pistas. Primeira dica: tortura na vida. Na sua vida.

Entrei em choque. Eram assassinos? Estupradores? Ladrões? Eu não sabia. Quis ligar para a polícia, mas me perguntei se matariam meus pais caso eu fizesse isso. Resolvi seguir as pistas. Hum. Tortura na minha vida?... já sei!

Tortura, meu irmão. Ele tinha uma bola vermelha. Fiquei pensando em como eles sabiam que eu chamava meu irmão assim.

Já estava encucada, vasculhando a garagem, quando achei a bola. Fui até a cozinha e peguei uma faca. Cravei a faca fundo na bola, que estourou. Eu ficaria feliz em estragar algo do tortura, mas não naquele momento. Havia um bilhete.

Casamento sempre é bom. Como a lua que vem depois.

Pensei. Lua obviamente significava lua de mel, que era uma viagem. Então eu precisaria encontrar as pasagens de avião antigas de meus pais. Tinha certeza de que tinham guardado.
Subi as escadas até o quarto deles. Abri a cômoda de minha mãe e encontrei as pasagens. Elas estavam coladas uma na outra, e dentro tinha... uma carteira de identidade. Do meu falecido avô. Sim, Minha mãe guardava várias coisas. Abri a identidade e lá tinha outro bilhete.

Aquele para o qual não deu voz, guarda o que precisa.

Sem voz? Aquilo não fazia sentido. Pensei. Andei de um lado para o outro. Minha família? Não. Eles mandavam em mim. Amigos? Não. Eu era legal, com certeza. Mas quem? Quem? Eu não sabia. Então, um flash passou pela minha cabeça. A briga com Toni. Ele. Eu não tinha deixado ele se explicar. Estava deitada na cama, cansada da correria, mas pareci levar um choque.

Saí correndo até a casa dele. Havia barulhos de conversa. Respirei fundo. 1,2,3... empurrei a porta. A primeira coisa que vi, foi minha mãe, meu pai e meu irmão comendo e se divertindo. Todos me olharam.

- Ah, querida - minha mãe falou - finalmente chegou. A avó de Antônio nos convidou para a ceia.

Ceia? Convite?

- Como? - perguntei.

- Você não viu o bilhete que deixei em cima da mesa? - falou.

Eu queria me enforcar com a saia do vestido. Havia um bilhete o tempo inteiro. Mas então, quem havia feito a caça ao tesouro? Olhei em volta.

- Com licença. - falei, indo para fora.

Ao abrir a porta, esbarrei em Toni. Já ia passar direto, quando ele segurou meu braço.

- Laura, por favor.

Soltei o braço dele do meu. Já ia me afastar, quando lembrei, aquele que não tem voz...

- Você tem um minuto. - respondi, antipática.

- Ok. Vivi me agarrou. Eu e ela estávamos combinando um presente para todos os alunos, por causa do final de ano - tínhamos mesmo recebido uma caixa de bombons no último dia - eu notei que ela estava estranha. Querendo me chamar para sair. E tudo isso em uma manhã. Mas eu disse que não, porque...porque... eu gostava de outra pessoa. Aí ela me agarrou, você viu, e deu tudo errado.

- E por que está explicando isso pra mim? - perguntei, cruzando os braços.

- Porque...você é a pessoa que eu gostava. E ainda gosto.

Meus braços foram se descruzando feito uma gelatina derretendo, e minha cara de durona foi por água abaixo.

- Mas... como? - foi a única coisa que consegui dizer.

- Porque, Laura - falou - você foi a única pessoa que me ajudou quando eu não era ninguém.

Achei aquilo fofo demais. Virei a cara. Notei que ele achou que eu não o tinha perdoado, então o agarrei pelo colarinho e o beijei. Ele pareceu chocado. Apenas ri.

- Também gosto de você - falei.

Para a minha surpresa, ele riu e passou as mãos pela minha cintura.

- Ainda bem. Já estava me sufocando com essa confissão.

Sorriu, malicioso, e me beixou. Retribuí o beijo com alegria. Sentir seu hálito fresco e seus lábios nos meus já era a melhor coisa. Quando nos afastamos, ele sorriu e disse:

- Você vem? - apontou para dentro da casa - meu tio, Nicolau, já foi embora, foi viajar para o polo norte, trabalha em uma empresa de lá, mas trouxe vários presentes,coloridos até demais.

Nicolau? Tive a impressão de que já ouvi esse nome e...npresentes coloridos até demais? A caixa colorida da caça ao tesouro! Já ia responder, quando algo bateu em minha perna.

- Pode ir na frente. - falei.

Ele assentiu e entrou. O que bateu em minha perna era um bilhete.

Aqui está a ajuda de que você precisava. Um leve empurrão. Ho ho ho. Seu desejo é uma ordem para mim. E meu sobrinho está feliz. Acredita em papai noel ?
- noel do shopping, ou, seu amigo, Nicolau.

Sorri. Escrevi no papelzinho e deixei que o vento o levasse.

Entrei na casa, pronta para a ceia de natal. Pronta para a alegria.

Um Pequeno Conto de Natal (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora