Uma velha senhora estava na porta.
- Oh, sejam bem-vindos! - exclamou, sorridente - se escondam em qualquer lugar, ela já vai chegar!
Havia várias pessoas na casa, escondidas e sorrindo. Toni pegou minha mão.
- Acho que sei o lugar perfeito. - disse, me puxando.
Andamos até a cozinha e entramos por uma porta. Era a despensa, bem espaçosa.
- Mas como vamos gritar "surpresa! "daqui? - perguntei.
- Simples. Ela vai entrar pela porta da cozinha, como sempre. Aí então nós abrimos e gritamos.
- E quanto tempo ela vai demorar? - perguntei.
- Acho que, em média, uma hora.
Assenti. De repente, ouvimos um barulho. Resolvi ignorar.
Andei de um lado para o outro durante 15 minutos. Toni estava sentado no chão. Fiquei meio tonta e resolvi sentar também.
- Tudo bem? - perguntei.
- Claro - respondeu, baixando o olhar - você foi tão legal comigo o dia todo, apenas gostaria de poder fazer alguma coisa por alguém.
O jeito com que falou fez parecer que ele não fazia nada por ninguém. E eu sabia porque. Peguei seu rosto e o fiz olhar em meus olhos.
- Toni, o que houve com seu avô?
Ele baixou a cabeça novamente.- Nós estávamos saíndo do mercado quando assaltantes chegaram. Eles me imobilizaram contra o carro, enquanto tiravam tudo de valor. Tentei resistir quando um deles tentou pegar o relógio que ganhei do meu avô, mas ele me deu um soco. Meu avô gritou e aí... - lágrimas escorreram por seu rosto - atiraram. Eu vi ele morrer, e não pude fazer nada. Quando notaram o que haviam feito, largaram tudo e correram. Eu tentei socorrer ele, só que era tarde demais e... - as palavras se perderam no ar.
Peguei seu rosto novamente e o fiz olhar para mim.
- Presta atenção, Toni - falei - não foi culpa sua. Não foi você quem apertou o gatilho, mas foi você quem tentou socorrê-lo. Você fez o que podia. Não foi culpa sua.
Terminei a frase com um tom firme e certo. Toni me olhou e secou uma lágrima. Acariciou meu rosto com o polegar, e foi se aproximando lentamente. Nossos lábios se tocaram sem que eu me desse conta.
Seu hálito era fresco e doce, com um toque de menta. Passei minha mão por seu cabelo e o puxei para mim. Eu conseguia sentir o gosto das lágrimas do choro em seu rosto. Um toque salgado e quente. Ele acariciou meu rosto e passou a mão para o meu pescoço, me aproximando mais. Não consegui ouvir mais nada. Apenas me concentrei naquele momento. Ele foi se afastando de vagar, até nossas testas se encostarem. Respirei fundo e abri os olhos. Só agora eu havia notado a beleza daqueles olhos castanhos profundos na minha frente. Nos afastamos devagar e apoiei a cabeça em seu ombro. Ele pegou minha mão e a acariciou docemente. Ficamos assim.
De repente, ouvimos um grito. Um "surpresa!" animado ecoou por toda a casa. Nos apressamos em levantar e abrir a porta. Só hove um porém: estava trancada, e por fora. Pirei.
- E agora?! - falei, esmurrando a porta.
Ele empurrou a porta e nada. Chutei ela e tudo o que consegui foi machucar novamente o dedão do pé. Porta idiota! , berrei em mente. Toni parou e apoiou as costas na porta. Ele me olhou e pareceu montar uma estratégia. Tipo, ele estava calculando algo. Literalmente. Uma vez nerd, sempre nerd.
- Você vai ter que sair pela janela e abrir para mim. - falou.
- O QUÊ? PIROU? - perguntei.
- É a única opção. A menos que você pretenda ficar trancada aqui comigo até alguém vir abrir.
Suspirei.
- Te odeio! - falei, andando até a janela.
Ele riu e veio atrás.
- Me odeia tanto que até me deu um beijo.
- Isso não vem ao caso. - falei.
- Claro. - respondeu, fazendo pézinho - sobe aí.
Suspirei, subi e alcançei a janela. Esperava que não fosse muito alto do outro lado. Passei primeiro as pernas e depois a cabeça. Quando passei, fiquei pendurada pelas mãos no parapeito da janela. Um pouso com sandália de salto não seria muito suave. Criei coragem e soltei, o que acabou dando em uma bela queda de bunda no chão.
Caí dentro de um arbusto e dei graças a deus por não ser cimento duro, mas sim, uma fofa e linda grama que eu amo! Me levantei rapidamente e olhei ao redor. Um homen e uma mulher estavam me olhando, pensando no que eu tinha roubado da casa antes de sair pela janela. Disse um breve "oi" e corri para a porta. Toquei a campainha. A mesma senhora que eu acho que era a avó de Toni atendeu.
- Querida? - ela disse - o que houve?
- Ah, nada não. - falei, tirando as folhas do cabelo - eu fui só... dar uma voltinha.
- Claro. - ela falou, me deixando passar.
Corri até a cozinha e fui para a porta da despensa. Ela estava aberta.
- Oi - Toni disse, me assustando.
- Mas... como você...- me confundi.
- Conheça meu primo, Augusto. Guto, Laura, Laura ,Guto.
- Prazer - Augusto falou, indo conversar com alguém.
- Ele abriu a porta e eu estava lá dentro. Então eu saí.
Quase enforquei ele com o copinho de plástico em suas mãos, que continha coca cola.
- Quê?! Eu... vou... te... MATAR! - gritei.
Acabei chamando a atenção das pessoas em volta. Sorri amarelo e falei:
- Brincadeira, gente.
Eles reviraram os olhos e voltaram a conversar.
- E então? - falei.
- E então o quê? - Toni perguntou.
- Como vai me compensar? Porque eu pulei a janela.
Ele riu e tomou um gole do conteúdo em seu copo.
- Hum, deixe-me ver - falou - que tal eu fazer o próximo trabalho de ciências?
- Fechado. - falei - amanhã, na minha casa. Sem falta, hein?
Ele sorriu.
Conheci sua família, e ela era bem legal. Pelo que eu soube, só faltava um dos tios. A noite foi divertida e tranquila.
Ele me acompanhou até em casa. Parei na porta e disse:
- Foi divertido.
Ele riu.
- Com certeza. Com alguém como você é impossível não se divertir.
Corei.
- Ah, para! - falei, dando um tapinha em seu braço.
Ele me olhou. Estendeu sua mão para se despedir. Apertei sua mão, mas quando menos esperava, me puxou para um beijo estalado. Fingiu um soco no ar.
- Isso! - comemorou - dois beijos em uma noite só!
Ri e o empurrei.
- Agora tchau, ladrãozinho de beijos. Se meu pai te pega você está frito.
Ele riu e acenou. Acenei de volta, e assim ele se foi. Assim também encerrei minha noite.
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Um Pequeno Conto de Natal (Completo)
Novela JuvenilLaura é uma garota de 16 anos. Sempre simpática e doce, a menina sofre certas reviravoltas em sua vida. A reação dela com uma mudança de cidade, principalmente, é o que deixa seus pais preocupados. Neste pequeno conto de natal, você vai ver como a...