SURREY, INGLATERRA,26 DE DEZEMBRO DE 1977

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Estava ainda cansada e meio elétrica, pois 24 horas atrás era Natal. Meu pai trouxera o ultimo pão da ceia para mim no quarto, ainda estava descabelada e com a cara toda marcada do travesseiro de plumas de ganso.

Ele me dissera que estavam todos esperando por mim na sala de jantar...eu sai correndo, desci as escadas, passei pela sala na qual havia um quadro bem grande da foto dos meus pais (ênfase na minha mãe que sorria de um jeito muito lindo.)

Chegando na sala de jantar, fecho meus olhos repentinamente por causa da luz entrando pelas enormes janelas e logo depois consigo enxergar: Amélia, Winston e alguns parentes dos quais não me lembro os nomes.Vieram todos e me abraçaram, em cima da mesa ainda restava o pato assado e os candelabros com as velas já todas derretidas.

Meu pai que vinha logo atrás de mim viu toda a cena de afeto entre mim e os parentes e logo se juntou ao abraço. Depois disso, fomos a mesa enquanto Winston limpava todo o resto que sobrara do dia anterior, minha mãe logo depois o interrompe para poder se sentar com toda a família, mas ele recusa o convite por não achar correto parar o serviço para descansar. Minha mãe balança a cabeça e sorri sorrateiramente.

Perguntei a minha mãe se podia sair para o jardim enquanto o almoço ainda não era preparado, ela dissera que sim mas que eu não tentasse entrar no labirinto logo depois do portão lateral.Eu dissera que não, mas eu estava indo ao jardim para isso mesmo, por que diabos eu iria no jardim sem nenhum motivo?Claro,eu era criança(tinha uns 9 anos) e adorava observar os pássaros, o balanço das arvores e o barulho das fontes...mas naquele dia eu estava muito animada e pronta para sair atrás de alguma coisa mais emocionante.

Foi então que eu sai correndo lá fora e vejo que está nevando e também que esqueci de me ajeitar.Eu era muito agitada e ansiosa, mas nunca deixei de me arrumar toda para ir em qualquer lugar, voltei correndo ao meu quarto tentar achar algum casaco e um par de botas.

Fui novamente lá fora, me distraio um pouco com os flocos de neve que me fazem espirrar e bagunçar toda minha trança que minha mãe fizera, mas isso não ia me impedir de ir ao labirinto. Chegando no portão lateral eu, com muito esforço consigo abrir até a metade, na qual abre um espaço que eu consiga passar.

Estava super ansiosa e com adrenalina ''infantil'' correndo pelo meu corpo da qual me fez correr por aquele enorme corredor de arbustos quadrados milimétricamente podados. No primeiro instante penso em voltar, mas eu sabia que no meio daquele labirinto havia alguma coisa que, pela minha imaginação era uma grande máquina de chá (eu odiava chá e era tão chato ter de tomar isso todas as 5 horas da tarde) mas mesmo assim me fazia querer ver o que tinha lá.

Estava muito frio e eu estava correndo, meu rosto já parecia estar todo congelado e meu nariz se pareceria com de um palhaço, todo avermelhado. Foi então que decidi voltar, mas já era tarde demais, eu tinha me perdido e eu não tinha ido nem a metade daquele labirinto...comecei a gritar tão alto que os passarinhos que estavam há 10 metros dali voaram, mas ninguém estava escutando...resolvi então abrir espaço entre os arbustos, mas os galhos eram muito robustos. Tive a brilhante ideia então de escalar os arbustos quadrados, parecia difícil, mas era mais fácil do que eu imaginava.

Conseguir subir até topo de um arbusto e olhei para o horizonte e avistei toda a mansão e logo ali percebi o quanto eu era pequena no mundo, mas não perdi tempo e sai pisando cuidadosamente em cada um, até chegar novamente no portão...

Quase caio do último arbusto, mas eu consegui me segurar no galho que por sorte Sr.Louis esqueceu de tirar.Eu desci e fechei a fresta da qual eu deixara aberta. Voltei para a mansão, lá estavam todos sentados esperando Winston servir o almoço, minha mãe me perguntou se eu tinha ido no labirinto e eu neguei, claro!

Sentei com eles, e fiquei balançando minhas pernas toda faminta esperando o almoço, enquanto isso desfaço a minha trança pois a mesma estava toda bagunçada...enquanto escovo o cabelo com a mão, passo a mão pelo meu pescoço e vejo que o colar do qual estava sempre comigo não está mais (NA REALIDADE, EU NEM LEMBRAVA QUE ESTAVA COM ELE, ERA TÃO LEVE). Aquele colar eu tinha ganhado do meu tio e hoje ele estava presente no almoço e queria muito ver eu com ele.

Fingi que estava tudo bem, almocei e sai correndo de novo para o labirinto para tentar achar o maldito colar (maldito não, ele continha uma imagem abstrata na cor verde que hoje eu sei que significa simplesmente: NADA).

Eu estava desesperada e não conseguia achar aquele colar, revirei os arbustos, as fontes, as estatuas, mas nada daquele colar. Voltei para o meu quarto e deitei no sofá que havia ali no meio e olhei para o teto que uma parte era de vidro, e pedi para o Sol mesmo que fraco e já quase se indo que me ajudasse a pensar aonde estava aquele colar...cabisbaixa fui deitar na minha cama e quando eu me viro para me ajeitar para meu soturno sono, dou de cara com o colar no meu travesseiro.

Eu não sei como aquilo tinha aparecido por ali, quando voltei para pegar meu casaco e minhas botas não havia nada, fiquei meio intrigada mas fechei os olhos para tentar dormir.

Fui interrompida com minha mãe entrando no quarto e indo diretamente para minha cama, ela se ajoelhou ao meu lado e me disse que enquanto eu estava louca procurando pelo colar no labirinto, ela estava apenas observando pela janela do corredor lateral que,obviamente,tem uma vista do portão lateral do jardim, então antes de eu pensar que eu tinha esquecido aquele colar, meu pai achou em frente ao portão e levou para ela.Eu estava tão envergonhada que eu nem vermelha estava mais, minha mãe entendeu que minha personalidade era forte e foi compreensiva.Levantou-se,me deu um beijo na testa e saiu, virou de costas e antes de sair pela porta virou a cabeça e me disse que eu me tornaria uma grande mulher. E eu sem muito entender adormeci com uma serenidade e tranquilidade enorme.

Aquilo não me fez muito sentido naquela época, mas hoje isso se tornou realidade...tenho muito orgulho de ter tido uma mãe como ela, não só ela, agradeço ao meu pai também. (mesmo eles nunca me apoiando tanto sobre o fato de eu querer me tornar uma exploradora de tumbas.)





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