As Paredes tem Ouvidos

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Coral passou a noite sonhando. Ela não os considerava mais pesadelos, na verdade começava a gostar de estar sonhando com vozes sussurrantes que saiam de dentro de um poço gélido e sombrio. Coral ainda estava com raiva da mãe, era o que ela pensava, pois na realidade o que ela estava sentindo era medo pelo modo que Coraline a tratou, foi a primeira vez que vira a mãe tão zangada e aflita ao mesmo tempo, Coral se sentia envergonhada por deixar a mãe daquele jeito, mas ela não admitiria isso nunca, nem pra ela mesmo.

A porta do quarto se abriu e Coraline entrou cautelosamente, Coral ainda estava encolhida no meio das cobertas. Estava acordada, mas de olhos fechados.

- Meu amor. - Coraline sussurrou bem ao lado da filha que continuava a fingir que dormia. - Eu sei que você está com raiva, mas... Você sabe que estou lhe protegendo.

Coral continuou sem dizer uma palavra, ela não queria conversar agora.

- Você entende o que aquela boneca significa, não entende? - Coraline estava sentada na cama, reclinada sobre a filha de modo que sua cabeça ficava bem próximo ao ouvido de Coral.

- Eu estou de castigo? - Coral perguntou, finalmente se virando para a mãe. Parecia uma garotinha indefesa, e aquilo deixava Coraline ainda mais protetora.

- Não meu amor, você não está de castigo.

- Posso sair pra brincar com as vizinhas?

Coraline hesitou por um minuto, mas aquilo não parecia ser tão perigoso.

- Claro querida, você pode sim. - Coraline deu um beijo na cabeça da filha e saiu do quarto.

Coral continuou deitada por alguns minutos imaginando como seria o seu dia, e também imaginando como faria para achar a pequena porta que não estava na sala de visitas. Também estava pensando em como convencer as outras crianças a ajudá-la. Ela não queria deixar ninguém encrencado, mas ela queria a todo custo achar aquele outro mundo. Não era mais uma questão de curiosidade e sim de sobrevivência. Algo dentro dela a estava atormentando, chamando em sua cabeça, sussurrando. Ela sabia que enlouqueceria se não encontrasse logo a pequena porta.

Depois do café da manhã Coral correu para fora da casa, a névoa era densa e o chão estava coberto, era impossível ver alguma coisa abaixo dos joelhos de Coral.

A primeira porta que ela decidiu bater foi a do garoto Balt Bobinsky. Ela bateu várias vezes até cansar, mas ninguém apareceu. Por um segundo ela pensou ter visto um vulto a observar pela janela, mas provavelmente não era ninguém, talvez apenas os fantasmas dos ratos antigos.

Coral desceu as escadas até o apartamento de baixo onde as garotas que se chamavam Amanda moravam e bateu na porta de forma rítmica e rápida. Amanda Spink abriu a porta com um sorriso largo no rosto.

- Olá Coraline.

- Eu ainda me chamo Coral.

- Entre, entre. - a garota puxou Coral pelo braço e a empurrou para dentro da casa fechando a porta silenciosamente.

A casa estava escura e quente, o que a deixava bem agradável já que lá fora fazia frio. Amanda Spink conduziu Coral até a sala onde Amanda Forcible estava. Ela estava sentada no sofá de forma bem relaxada e a cabeça inclinada para o lado. Estava dormindo.

- Ela está bem cansada, sabe? - Amanda falou, estava parada ao lado de Coral observando enquanto a outra roncava suavemente no sofá.

- O que ela tem? - Coral ficou surpresa, assim como qualquer outra pessoa ficaria, criança ou adulto, todos sabiam que crianças não se sentiam cansadas. Pelo menos não aquela hora do dia.

Coral - A Filha de CoralineOnde histórias criam vida. Descubra agora