Os Vizinhos de Sempre part. 1

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Coral abriu os olhos e dois enormes olhos de botões negros a encarava. Ela gritou.

— Querida? Coral? – ela abriu os olhos novamente e quem estava na sua frente era seu pai, com as mãos em seus ombros ele a segurava delicadamente. — Você está bem?

— Papai! – ela o abraçou esquecendo-se rapidamente dos grandes olhos de botões que a pouco havia visto; provavelmente não passava de um sonho ruim, ou algo bem esquisito.

O pai de Coral estava sentando no colchão recebendo o abraço da filha alegremente, ele ama os filhos, amava ser pai, e já fazia uma semana que não via as crianças. Logo, Toby também acordou e pulou em cima do pai. O garotinho de 6 anos de idade parecia mais com o pai do que com a mãe, e era em todos os aspectos. Os cabelos eram cacheados e castanhos, diferentes dos da mãe e irmã que tinha aquele traço azul.

— Vamos crianças, está na hora de tomar o café da manhã. – o homem agarrou os dois filhos e os levantou no braço, o homem não era tão forte, mas também seus filhos não eram tão pesados.

Quando chegaram à cozinha Coral observou que já estava com os moveis nos lugares, ela não sabia o quanto tinha dormido, mas provavelmente seu pai chegara bem cedo e arrumou tudo, juntamente com Coraline.

— Wybie, ainda temos que arrumar algumas coisas aqui na cozinha. – Coraline falou, sem tirar os olhos da frigideira que estava no fogão.

As crianças sentaram-se a mesa e Coraline serviu um ótimo café da manhã a elas, bacon com ovo, panquecas e suco de laranja.

— Mamãe, não existe comida melhor que a sua. – Toby falou, com aquela voz de garotinho que derretia o coração dos pais.

— Não mesmo. – Wybie concordou.

— Eu não viveria sem sua comida. – Coral falou com a boca cheia de panqueca.

— Coral, não fale de boca cheia. – Coraline sentiu-se a mesa junto a sua família. – Vocês sabem que eu amo cozinhar para vocês, assim vocês não teriam motivos de querer comer em outro lugar.

Todos ali na mesa conheciam a historia da Outra Mãe, o monstro que vivia no apartamento igual ao deles e que atraia as crianças que se sentiam infelizes para sua teia mortal. Coraline sempre fez de tudo para que nenhum de seus filhos se sentisse infeliz ao lado dela, e nessa tarefa, ela era ótima.

— Falando nisso, quando que vou ver a pequena porta? – Coral indagou, ela não desistiria nunca.

— Querida, você não vai ver a pequena porta, até porque ela já não existe. – Coraline sabia que não tinha como sua filha entrar na mesma confusão que ela, ela havia arrancado a mão direita da Outra Mãe e a jogado juntamente com a chave da porta, no poço. Ela sabia que não tinha como ela sair ou alguém entrar. Mas ela sentia aquela leve pontada de preocupação a respeito daquilo, pois Coral era como ela, e se ela queria ver a porta, ela faria de tudo, até mesmo entrar em confusões.

— Como assim ela não existe?

— Meu amor, esqueça isso. – Wybie falou tranquilamente. – Ouvi dizer que construíram um playground muito legal no Shopping daqui. Vocês não querem ir lá hoje?

— Eu não tenho medo da Outra Mãe, e... – Coral viu a expressão nos olhos da mãe. – Eu só queria ver a porta.

Coraline suspirou profundamente e falou:

— Ok, querida. – Toby arregalou os olhos, Wybie tirou os olhos do prato e olhou para esposa, e Coral sorria triunfante. – Mas, só depois que eu e seu pai arrumarmos toda essa bagunça, eu estava falando serio quando disse que a porta não existia mais.

Coral abriu a boca para questionar, mas Coraline a interrompeu.

— E você só vai olhar.

Quando todos terminaram de tomar café, Coraline mandou que seus filhos fossem brincar lá fora, conhecer os terrenos da casa e os vizinhos, assim como ela fez quando era criança, mas ela se esquecia de que foi assim que tudo começou.

Coral deixou seu irmão com alguns brinquedos no jardim da casa, ele não estava muito interessado mesmo em seguir sua irmã para expedições de explorações.

Coral foi para frente da casa e deu alguns passos para trás, observando a casa a medida que se afastava, e de repente veio a sua cabeça o pesadelo da noite passada, a casa se transformando, o poço sussurrante e a mão que mais parecia uma garra vindo em sua direção, de repente ela lembrou e um frio estranho percorreu todo o seu corpo. Ela virou as costas para ver se o poço que ela via no sonho estava no mesmo lugar, mas só havia mato e uma nevoa fina, nada de poço. Coral deu de ombros e voltou em direção a casa, mas algo a sua direita lhe chamou a atenção.

Um vulto preto pulou dentro da nevoa que ficava mais densa a cada segundo. Ela correu na direção do vulto e viu quando ele se moveu rapidamente para o outro lado, ela ainda não conseguia identificar o que era, mas ela parou ao imaginar que poderia ser uma aranha gigante. Coral não tinha medo de muita coisa, mas preferia que aranhas e palhaços não existissem.

— Oi. – Coral falou para o vulto que agora estava parado, e então, ele saiu da nevoa, levantando primeiro a cabeça, era apenas um gato. Ele olhou para ela com total desprezo e voltou a se esconder na névoa. Coral fez cara feia para o gato e decidiu que não gostara dele.

— Tudo bem? – Coral sentiu uma mão gelada em seu ombro, o que a fez saltar para frente de susto.

Um garoto magro e alto estava parado a sua frente segurando uns pacotes em baixo do braço. Ele não parecia ser tão velho, mas parecia ser alto demais para sua idade, fosse ela de 14 para baixo. Usava um gorro preto na sua cabeça fina e os olhos eram castanhos, Coral ficou incomodada com o modo que ele a olhava.

— Quem é você? – ela perguntou sem esconder a rispidez. — E porque fica dando susto assim nos outros? Eu poderia ter morrido.

— Desculpe. Eu sou Balt Bobinsky. Moro ali em cima, na mesma...

— Balt Bobinsky? Que nome mais bobo. – Coral deu uma gargalhada leve. O garoto parecia ser legal para altura dele, Coral sempre achou que coisas altas demais não eram legais. Sim, ela tinha medo de altura.

— Não é bobo não, na realidade, é um nome... incrível. – Balt fez questão de dar ênfase ao "incrível" o que fez Coral repensar sobre ele ser um garoto legal.

— O que é isso? – Coral apontou para os pacotes em baixo do braço do garoto.

— Novas amostras de queijo. – ele de um pequeno sorriso e passou direto por Coral, rumo a casa.

— Ei, espera. Pra que você precisa de tanto queijo? – Balt já estava a meio caminho, mas antes de subir na varanda, falou sem olhar pra trás:

— Curiosa igual à mãe, hein Srta. Jones. – Coral pode ouvir o riso em sua voz.

— Como você sabe meu sobrenome? – gritou ela, mas ele já havia sumido.

Coral ficou por alguns minutos encarando a porta, no apartamento de cima, onde o garoto havia entrado e pensou ter visto o rosto de um idoso na janela, mas não era nada.

Logo abaixo tinha outro apartamento, ela lembrou-se que a mãe já havia contado sobre os vizinhos, eles também faziam parte da historia sinistra a qual Coraline havia participado, mas ela não tinha dito os nomes, ou dissera e Coral esqueceu, e isso só significava que deixava Coral iria até o fim de suas explorações. Decidiu que iria conversar com os vizinhos de baixo, conhecê-los, talvez fossem os mesmo vizinhos de sempre. Era o que ela esperava.


Coral - A Filha de CoralineOnde histórias criam vida. Descubra agora