Almost is never enough

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- Ah não, por favor. - Pedi. - Não quero ir para casa. Sinceramente, só queria esquecer da minha existência.
- Você sabe que isso é impossível. - Sasuke parou no sinal.
- Eu sei. - Choraminguei. - Está sentindo esse cheiro horrível? Sou eu!
- Não é você. - O Uchiha riu. - É o vômito do sobrancelhudo.
- Que está em mim. - Olhei para a rua e não reconheci o caminho. - Para onde estamos indo?
- Para minha casa.
- Ela não está lá, está? - Arregalei os olhos. - Tsunade. Meu Deus, ela vai nos matar. Tem noção do que nós fizemos?
- Ele vomitou em você e queria te beijar.
- Ugh, não me lembra disso. - Coloquei a mão na boca. - Se não sou eu quem vou vomitar.
- Tudo bem, parei. A Tsunade provavelmente vai estar lá.
- Então, melhor ir para casa.
- Mas ela não vai te ver. - Encarei Sasuke com a minha expressão mais séria. - O que foi? Pensei que você gostasse de aventuras.
- Eu gosto, mas uma por dia, não acha?
- Confie em mim. - Ele estacionou em frente a uma grande casa. - Ela não vai ver você. Tudo que você tem que fazer é seguir até o jardim e me esperar lá. Eu vou distraí-los.
Fiz o que ele me disse e me sentei na grama, ou melhor, no que um dia foi grama e estava coberta por neve. Estava congelando ali fora e de repente me deu uma vontade incontrolável de tossir. "Maldito resfriado!", pensei, ao mesmo tempo que rezava para que ele chegasse o mais rápido possível.
Sasuke chegou e abriu a porta da pequena casa dos fundos.
- Bem vinda a minha casa. - Sasuke sussurrou e fez sinal para que eu entrasse. - Minha e do Naruto, é claro.
Entramos e ele acendeu as luzes. Era uma casa aconchegante; a sala de estar tinha uma lareira, um sofá de três lugares e duas poltronas e um tapete branco felpudo. Ao redor, havia uma grande estande cheia de livros.
- Você gostou? - Ele colocou a mão nas minhas costas.
- Não me toca! - Exclamei. - Eu estou imunda. Será que eu posso tomar um banho?
- É claro. - Sasuke sorriu. - Vem, vamos até o meu quarto. Vou pegar uma roupa para você.
Subimos e Sasuke me levou até o seu quarto.
- Uou. Você tem um banheiro só seu.
- Ah, tinha que ser assim. - Ele disse, enquanto procurava uma blusa e uma calça para mim. - Naruto demora uma hora para se arrumar.
- Imagino. - Peguei as roupas que ele jogou para mim. - Nossa, isso vai ficar enorme em mim.
- Han, se a calça cair, tente amarrar o casaco na cintura. - O Uchiha coçou a cabeça. - Pode usar o meu banheiro. Eu vou fazer um chá para nós.
- Sasuke. - Ele se virou para mim e me encarou. - Obrigada por tudo. E eu adorei a casa. Bela decoração.
- Não precisa agradecer. Sinta-se em casa. - Ele piscou para mim e fechou a porta.
Tomei banho e como imaginava, as roupas que Sasuke tinha me dado ficaram enormes. Tive que amarrar o casaco na cintura e a barra da calça funcionava como meia para os meus pés. Desci as escadas com cuidado para não escorregar. Quando cheguei na sala, as luzes estavam apagadas e a lareira estava acesa. Sasuke estava sentado no sofá e segurava duas xícaras de chá. Sorri e ele sorriu também.
- Pelo menos isso. - Falei, sentando do lado dele e me cobrindo com a coberta. - O dia tinha que terminar de uma forma tranquila.
- Sim, no fim do dia, os heróis deitam sua cabeça. - Ele me puxou para perto e eu deitei minha cabeça no seu ombro. - E descansam.
Suspirei depois de dar um gole no meu chá. A bebida me aqueceu e me tranquilizou. De repente, ouvimos um barulho. Abriram a porta de uma forma abrupta e eu instantaneamente me encolhi ainda mais no sofá. "E se fosse a Tsunade? Como eu iria explicar tudo?"
No entanto, não era. Ouvi uns múrmuros e uns estalinhos. Sasuke me puxou mais para perto e prendendo a respiração, olhou por cima do sofá para ver quem era. Seus músculos relaxaram e  ele abriu um sorriso. Ele fez menção para que eu olhasse também; estiquei-me e vi, Hinata e Naruto, aos beijos. Sasuke pigarreou. Os dois pararam, envergonhados.
- Que bom que vocês vieram tomar um chá conosco. - Ele disse, levantando a xícara. Naruto limpou o batom rosa da sua boca e deu um sorriso tímido.
- É claro, nós viemos aqui só para isso mesmo. - Ele deu de ombros. Sasuke e eu nos entreolhamos e ele deu um risonho sarcástico.
- Eu não vou me levantar daqui. - O Uchiha afirmou, autoritário. - Estou muito confortável ao lado da Sakura.
- Está quentinho? - Naruto perguntou, tentando constranger Sasuke.
- Assim como você, Naruto. - Respondeu Sasuke.
- Já chega, meninos. - Hinata os repreendeu. - Sakura, você não deveria estar em uma missão para salvar o pinheiro?
Olhei para Sasuke. Ele massageou o meu ombro e eu criei coragem para contar tudo para eles.
- O quê? - Naruto gritou. Eu fiz sinal para que ele falasse mais baixo. Tsunade não poderia imaginar que eu estava aqui. - Quem ele pensa que é, para vomitar em você? Sasuke, você deveria ter batido mais nele!
- Não sei se ele vai cumprir com o acordo. - Baixei os olhos.
- O jeito é esperar até amanhã. - Sasuke disse, olhando para mim. - Naruto e eu vamos resolver isso.
- Ele vai devolver esse Pinheiro, por bem ou por mal. - O Uzumaki declarou, determinado. Hinata socou o braço dele e Naruto gemeu de dor. - O que foi?
- Sem violência, Naruto! - Minha prima o repreendeu.
Quando acabamos de tomar o chá e comer alguns biscoitos, Hinata levantou e me chamou para ir para casa.
- Ela tem que dormir aqui. - Sasuke protestou. - Não se sabe que horas a Tsunade vai sair daqui.
- Como assim? - Hinata cruzou os braços. - Ela é do tipo que volta pra casa de madrugada?
- O relacionamento dos dois é complicado. - Naruto bocejou. - Basta o meu avô não concordar com uma coisa que ela diga, que uma confusão começa e ela sai de casa. Não importa a hora.
- Então, eu também fico! - Exclamou Hinata, sentando-se novamente. Ela tentava esconder um sorriso, mas não estava conseguindo.
- Hina, por favor, não me use como desculpa para ficar aqui. - Falei, rindo. - Acho que é Naruto quem deve decidir isso.
Ela olhou para o Uzumaki e ele coçou os cabelos loiros. Os dois foram discutir no jardim. Sasuke apenas pediu para que eles não falassem alto e também não mencionassem meu nome. Tsunade poderia estar escutando tudo. O Uchiha olhava para os dois da janela e ria da situação constrangedora. Eu não estava olhando para os dois brigando no jardim; estava olhando para ele. Como na primeira vez que eu o encontrei, encantei-me com a sua beleza. Meu coração batia rápido e eu tinha uma enorme vontade de abraçá-lo. Agradecer a ele por todas as coisas que ele fez por mim.
Dezembro pode ser mágico. Mas sua magia ainda não é suficiente para me fazer tomar coragem e envolvê-lo em menus braços. Sempre tenho que esperar que ele tome uma iniciativa, como quando ele me puxou para mais perto, no sofá. Talvez eu o enxergue como algo inatingível.
Ele percebe que eu estou olhando para ele, e somente para ele. Sasuke tosse e passa a mão pela nuca enquanto eu dou um sorriso tímido. Ele caminha na minha direção, sorrindo também. 
- Bom, pelo pouco que eu escutei, acho que ele vai levar Hinata para a casa de vocês. - Sasuke foi interrompido por Naruto abrindo a porta. Com o rosto vermelho, seguido por Hinata, eles dois sobem a escada e ficam lá em cima por mais ou menos cinco minutos. Sasuke e eu nos mantivemos em silêncio, sentados no sofá, esperando os dois.
- Sasuke. - Naruto falou, enquanto descia apressado. Seu rosto estava um pouco vermelho. - Eu vou levar Hinata de volta para a casa dela.
- Tudo bem. - O Uchiha disse, dando de ombros. - Estarei esperando você.
- Ai que está o problema. - Ele coçou os cabelos. Percebi que eles tinham essa mania: quando ficavam nervosos ou envergonhados, coçavam os cabelos. Achei isso fofo. - Hinata... me pediu para dormir com ela.
Sasuke e eu tossimos juntos. Desde quando Hinata tinha ficado tão ousada?
- Sakura, Sasuke, não pensem besteira. - Hinata pediu, enquanto descia a escada. Ela parou na mesma altura que Naruto. - Ele vai dormir no sofá. Nós não estamos tão íntimos assim.
- Tudo bem, então. - declarei. - Acho que você está pedindo indiretamente a minha permissão, não é?
Hinata balançou a cabeça e eu sorri para ela.
- Obrigada, Saky! - Ela correu e me abraçou. Percebi que Naruto segurava uma mochila e continuava com o rosto vermelho. Os dois saíram e Sasuke suspirou.
- Sakura. - Ele se virou para mim. - Eu ia dizer que vou deixar você dormir na minha cama.
Fiz que sim com a cabeça. Nós dois estávamos sozinhos. A tensão e o desconforto era perceptível. Ele mexeu na nuca de novo e eu reprimi um sorriso.
- Isso soou estranho. - Sasuke sorriu e desta vez, não me contive: devolvi o sorriso. - O que eu quis dizer é que eu vou dormir no sofá, assim como Naruto, essa noite.
- De jeito nenhum. Eu... - Sasuke colocou o dedo indicador nos meus lábios e eu parei de falar. Encaramo-nos por um tempo. Prendi a respiração. Sasuke recuou e eu voltei a respirar.
- Eu disse. No final do dia, os heróis descansam. Nada de sofá para você. - Sasuke beliscou a minha bochecha e se levantou. Olhou para mim por cima dos ombros e inclinou a cabeça, indicando a escada. Subi logo atrás dele, enrolada na coberta.
Ele pegou alguns cobertores e um travesseiro e desceu. Esperei por ele em pé. Sasuke voltou e ligou o aquecedor para mim. O Uchiha parou quando percebeu que eu estava estática.
- Ei, relaxe. - Ele empurrou os meus ombros me fazendo sentar na cama; o moreno logo se sentou do meu lado e deu um risinho. - Não é como se fôssemos fazer algo parecido com que Naruto e Hinata farão hoje a noite.
- Farão?! - Fique surpresa com o jeito como Sasuke falou; como se já tivesse certeza do que iria acontecer. Mesmo assim, lembrei-me de Hinata falando que eles não tinham intimidade para isso. Pelo que eu sei, eles realmente não tinham.
- Você não viu como eles dois entraram? - O Uchiha perguntou como se fosse óbvio que aquele tipo de coisa iria acontecer se nós não estivéssemos ali. Por um momento, senti-me ingênua. Então eram assim que as coisas funcionavam?
Ficamos em silêncio. Sasuke então levantou e ficou de frente para mim. Olhei para cima e ele passou a mão nos meus cabelos, bagunçando-os.
- É melhor irmos dormir. - Concordei com ele. Aquele assunto nos deixou ainda mais desconfortáveis. No entanto, ainda descordava dele. - Amanhã teremos um longo dia. Qualquer coisa, estarei lá em baixo.
No instante em que ele saiu, relaxei. Joguei-me na cama e encarei o teto. Lembranças do dia de hoje passaram rapidamente no meu pensamento. Fechei os olhos ao lembrar de Lee tentando me beijar. Aquilo era algo que eu gostaria de esquecer, de apagar da minha mente para sempre. Como Sasuke havia dito, amanhã seria um dia longo. Encarar Tsunade será uma tarefa árdua. Tentei esvaziar minha mente e me encolhi na cama do Uchiha. Senti o cheiro dele quando encostei a minha cabeça no travesseiro e ao me lembrar de nossos corpos juntos, encolhidos no sofá, tentando escapar do frio, o sono tomou conta de mim e eu dormi.
Tive uma crise de tosse no meio da madrugada. "Resquícios do resfriado", pensei, virando os olhos. Ajeitei as calças de Sasuke e desci cuidadosamente a escada para não acordá-lo. Ele se mexeu no sofá e eu parei.
- Estou acordado. - Sasuke se sentou, esfregando os olhos. Dei um pulo ao escutar a sua voz. Ele deu uma risadinha e eu continuei o caminho para a cozinha. Estava acabando de beber o segundo copo de água no momento em que ele colocou a mão no meu ombro. - Ei, vai com calma. Assim não sobra para mim.
Virei os olhos e tossi um pouco. Ele olhava para mim enquanto enchia o copo.
- O que você está fazendo acordado? - falei, tentando tirar a atenção dele de mim.
- Pensando. - O Uchiha deu de ombros.
- Em quê?
- Em quem. - Ele me encarou novamente. Reprimi minha curiosidade. O silêncio tomou conta do espaço entre nós e ele prossegui. - Quando me lembro da primeira vez que eu vi você, lembro-me também de uma promessa que fiz a mim mesmo. Prometi que iria fazer dezembro ser especial para você. Trazer um pouco de esperança para o seu coração de volta; mas quando vejo o que está acontecendo... Acho que estou estragando tudo.
- Não, não. - Neguei. Senti meu rosto esquentar ao pensar no que eu deveria dizer, no que eu queria dizer. Na verdade, eu tenho que dizer isso. Não posso me restringir, esconder meus sentimentos e a minha imensa gratidão por ele. - Você diz isso por causa de Lee? Por causa da Shizune?
Sasuke balançou a cabeça e deixou de me encarar. Coloquei a mão no seu ombro e ele voltou a olhar para mim. A tristeza estava estampada em seu rosto; mesmo com uma expressão de infelicidade, ele continuava lindo. No entanto, o seu sorriso é muito melhor. Tenho que devolvê-lo ao seu rosto.
- Sabe o que eu estaria fazendo esse tempo todo? Nada! Talvez estaria em um outro emprego, infeliz e sem a metade dos amigos que eu fiz trabalhando na loja do seu avô. - Fiz uma pausa para respirar. Estava nervosa. Pela primeira vez, eu estava deixando o meu coração falar. Sasuke olhava atento. - O que aconteceu comigo ontem e quando fui almoçar com você no Granny's... são coisas da vida. Nem você e eu temos culpa disso. Acredite, eu estou muito feliz e talvez... você esteja devolvendo a esperança para o meu coração.
Depois que eu falei isso tudo, fiquei um pouco atordoada, porém, aliviada. Sasuke esperou a minha respiração voltar ao normal e segurou o meu rosto com as duas mãos.
- Sakura, eu... - A proximidade entre nós aumentava conforme ele tentava falar alguma coisa. Entretanto, ele parecia não encontrar palavras, então continuou me encarando. Nossos narizes se tocavam levemente e observei os olhos dele se fechando. De repente, escutamos o barulho de vidro quebrando. Sasuke abriu os olhos, tirou as mãos do meu rosto e colocou-as no bolso. - Tsunade. Vá para meu quarto, eu vou ver que está acontecendo.
Balancei a cabeça, concordando e corri para cima. Enrolei-me no cobertor novamente e tentei acalmar meu coração, que palpitava por causa do susto e também porque pela primeira vez, em toda minha vida, senti-me completa na presença de alguém. Não conseguiria dormir novamente, mas também não conseguiria continuar com a nossa conversa. Fechei os olhos ao escutar os passos dele e fingi que estava dormindo. O som da porta se abrindo seguidos dos passos no piso de madeira anunciaram a sua chegada. O Uchiha deve ter percebido que eu havia caído o sono. "Agora ele deve ir embora", pensei. E ele foi, depois de beijar a minha testa. Senti a pressão dos lábios dele na minha testa e me arrepiei. Queria pegar no braço dele e impedir que ele fosse embora. Queria pedir que ele ficasse comigo o resto da madrugada. Mas eu já tinha estourado a minha cota de coragem. Apesar disso, tive a certeza de que Sasuke e eu não dormiríamos o restante da noite.
Acordei sentindo cócegas em meus pés. Levantei rindo e tentando me desvencilhar da brincadeira de Sasuke.
- Bom dia. - Ele disse, sorrindo. - Vamos logo, temos que abrir a loja hoje.
- Han, Sasuke, pode me dar uma outra roupa sua? - Pedi, envergonhada. - Eu não quero usar aquelas roupas de ontem tão cedo.
- Tudo bem, mas eu acho melhor você mandar uma mensagem para Hinata tossindo para ela trazer umas roupas para você antes que a loja abra. - Ele recomendou e eu concordei.
Depois de tomarmos o café da manhã, entramos no carro e fomos em direção a loja. Apesar de ser muito cedo, o trânsito estava lento por causa da neve que havia se acumulado na estrada. Perguntei a Sasuke o que tinha acontecido ontem à noite entre Tsunade e Jiraya.
- Eles brigaram, como sempre. - Ele deu de ombros. - Mas estavam bêbados, então provavelmente não se lembram de nada.
Nós dois rimos juntos. Entretanto, nossa alegria acabou quando Sasuke estacionou o carro em frente ao portão da loja e demos de cara com Lee, sentado no chão. Parecia estar nos esperando, já que quando viu o carro do Uchiha, levantou-se.
- Fique no carro. - Sasuke disse, autoritário.
  Não o obedeci e saí do carro. O Uchiha parou e eu fiquei atrás dele, escondendo-me. Ainda estava com medo de Lee. Ele olhou para mim e para Sasuke, respirou fundo e caminhou para mais perto. Pude ver que o rosto dele estava muito inchado por causa do soco de Sasuke.
- Eu preciso falar com vocês. - Ele declarou, determinado. - Espero que me escutem até o final.

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