CAPÍ
O sol relutava em desaparecer no horizonte e dar lugar ao brilho prateado da lua. Seus raios tocavam o alto do morro do Corcovado e acariciava o topo das arvores no Jardim Botânico, enquanto turistas aproveitavam os últimos momentos da claridade para tirar várias fotos da torre do castelinho, localizada entre a vasta vegetação.
A torre transmitia um ar medieval, com seus blocos de pedra gastos e hera crescia ao seu redor, como bebês recém-nascidas grudadas no peito da mãe. Sua aparência medieval só era quebrada por pichações nas paredes feitas por alguns vândalos que passavam, ou até mesmo alunos da escola que queriam testar suas novas habilidades em feitiços.
Ao lado da pequena construção, várias rochas grandes e lisas jaziam espalhadas entre as folhas verdes e, acima de uma delas, um garoto de olhos e cabelos castanhos estava sentado olhando para o pôr do sol. Seu olhar era vago e sonhador.
Por um momento ele ficou ali, admirando a paisagem enquanto as folhas das arvores eram derrubadas pela brisa refrescante que vinha do mar. O vento passava e agitava os galhos levemente fazendo-as dançar com movimentos suaves. As pessoas já estavam se preparando para irem embora, pois o jardim fechava ás 4:30 da tarde e não era permitido que ninguém permanecesse ali nesse horário. Por volta das seis horas, os funcionários apareciam para limpar a sujeira deixada pelos visitantes ou para reparar algum dano cometido por eles.
Enquanto as pessoas iam se distanciando pelas diversas trilhas á caminho dos portões de saída, Capí permaneceu ali sentado, com seu uniforme voando ao vento, até que ele olhou para o relógio de pulso e saltou da rocha para o chão de folhas secas. Estava na hora.
Apesar de ainda ter 13 anos, Capí era responsável por ajudar seu pai em várias tarefas na escola, inclusive recepcionar os novos alunos azêmolas que não faziam a mínima ideia de como entrar na escola. Seu pai dizia que não tinha tempo para tais idiotices e por isso o mandava fazer a tarefa, mas Capí não se importava. Sempre se sentiu satisfeito por ajudar o pai, pois entendia os momentos difíceis pelos quais ele passara há alguns anos atrás. Afinal, não foi apenas seu pai quem teve uma perda, mas ele também.
Seus olhos sempre se enchiam de lágrimas só de imaginar. Ele enxugou uma delas que estava prestes a cair pela lateral do rosto. Não podia estar com cara de choro para os novos alunos. O que eles pensariam?
Os primeiros alunos já começavam a aparecer, vindas do casarão principal, passando pela trilha que levava à ponte com um grande arco de pedra que marcava a entrada (no topo, havia um hipogrifo esculpido na pedra, com seu torso de cavalo; cabeça, asas e patas dianteiras de pássaro e rabo de leão) e por fim passando pela ponte que dava caminho para a torre. A chegada começou com alguns alunos aleatórios, depois surgiram pequenos grupos, até que por fim uma quantidade considerável de pessoas aguardava do lado de fora da Torre do Castelinho. Ele conseguia discernir os alunos novos dos demais apenas olhando para suas faces. A expressão de insegurança, a cautela no olhar dos pais que os acompanhavam. Ele viu pelo canto do olho um garoto loiro com um pequeno grupo de amigos olhando de cima a baixo para os pais azêmolas, como se eles não fossem dignos de estarem ali na entrada da escola.
Capí o ignorou. Não era hora de ficar com raiva de pessoas como ele. Fechou os olhos e se concentrou nos ensinamentos que tivera do professor para manter a calma.
Quando os abriu, as pessoas o encarava.
Muitos deles já estavam usando os trajes da escola, assim como ele. Longas capas leves com as dobras das mangas douradas. Um pequeno emblema no peito parecido com um escudo dividido em quatro partes e uma fênix de cada lado segurando as letras "N" e "S" de "Nossa Senhora" e um grande "K" de "Korkovado" centralizado abaixo das outras. Era estranho usar aquelas roupas aparentemente quentes e desconfortáveis em um lugar quente como o Rio de Janeiro, mas eles não podiam fazer nada se a escola seguia os padrões europeus.
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Os Pixies - O Ressurgimento de Anhangá
AdventureOs Pixies são um grupo de jovens bruxos que estudam na Escola de Magia Notre Dame do Korkovado, no Rio de Janeiro. Após se conhecerem no primeiro ano da escola, alguns boatos de que um antigo feiticeiro do mal ressurgiu começam a aparecer. Eles acre...