03 - Aquele Olhar

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CAIMANA

Caimana ofegava. Sentia suas pernas arderem e cada músculo protestar por descanso. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Logo no primeiro dia de aula teria de encarar sua mãe por conta de uma briga de moleques. Fora que ela já estava prestes a se jogar lá de cima só para ter uma morte rápida e não ter que sofrer com as dores na panturrilha, que mais tarde estaria muito mais dolorosa. Além disso, estava revoltada. Queria tanto ficar conversando com Viny na praia, mas o garoto tinha de se meter em briga e esquecer dela. E Capí, por mais fofo que fosse, não ajudou muito quando os levou para a floresta eterna na qual entraram.

E agora, um homem que nem sabiam quem era, os acharam e estava levando-os para o Conselho.

Caimana subia os degraus imaginando o que aconteceria com eles. Eles não seriam expulsos por causa de uma briga boba, disso ela tinha certeza. Apesar que a Dalila poderia dar um "pití" tão grande que era bem capaz de a Conselheira chegar a tomar decisões tão extremas.

Porque ele não me ouviu? - Disse mentalmente. Não! Ele tinha que ir buscar encrenca. Ainda mais para um garoto que nem sequer agradeceu por ele ter livrado a cara dele de pancadas. E o Abelardo lá com aquele ar metido dele. Mas Caimana pelo menos havia dado uma lição que ele nunca esqueceria. Bem feito para ele. Acho que a bronca vai valer a pena.

Ela se apoiou no tronco da arvore gigante e parou por um instante. Levantou a cabeça e olhou diretamente para as costas do homem que os achara na floresta.

Afinal, quem era ele? Chegou de maneira tão discreta e, pelo que parecia, era grande amigo de Capí. Provavelmente era um professor, pensou. Para ter sido mandado pelo conselho em busca deles.

- Quem é você? - Decidiu esclarecer suas dúvidas.

- Eu? - O homem se virou. - Eu sou Atlas Vital. Prazer! - Disse com um largo e juvenil sorriso.

- E o que faz aqui na escola? - Continuou perguntando.

- Eu ensino Defesa pessoal garotinha. - Sorriu mais uma vez. - Ou seja, sou seu professor. - E deu uma piscadela para ela.

- O senhor pode me chamar de Caimana professor! - Disse irritada por ele tê-la chamado de garotinha.

- Como nos achou lá? - Viny interrompeu. Finalmente falou algo que preste, pensou Caimana.

- Eu estava dando uma volta com meu filho quando vi o Abelardo sair correndo com os amigos e o Capí os trouxe para a floresta. Deixei meu filho aos cuidados da Zô. Você salvou o Capí pelo que parece, tu és bem valente garoto.

Viny corou e fitou os pés.

Porque ele ficou com vergonha? Caimana não entendia o garoto, haviam feito algo de errado e ele ficava corado de agradecimento... vai entender.

O professor prosseguiu pelos degraus intermináveis.

Estava exausta de tanto subir degraus e mais degraus, até que depois de vinte minutos, ou mais (não saberia dizer, pois parecia que estavam andando á horas), os quatro chegaram ao septuagésimo sétimo andar.

Atlas abriu uma grande porta de madeira com molduras bem elegantes e um tanto antigas, e eles entraram na sala.

A sala tinha um cheiro de coisa antiga, como em um desses sebos velhos.

Era bem grande, com livros em estantes enormes. Pensando melhor, era mais como uma biblioteca. Ao fundo, seguido por um tapete vermelho bem escuro, encontrava-se uma mesa elevada, como de tribunais. Caimana sempre achou que aquele lugar fosse um pouco estranho, mas de uma forma um pouco agradável. Atrás da mesa elevada, uma mulher de longos cabelos loiros e ondulados estava sentada analisando alguns papeis. Era linda, mas sua beleza era esquecida quando se olhava a cara de poucos amigos. Á sua direita, em uma mesa com algumas canetas e papéis, um senhor magro olhava com superioridade para eles. E no outro lado, um gordinho que aparentava ser o mais simpático dos três, aguardava a entrada deles com ar gentil.

Os Pixies - O Ressurgimento de AnhangáOnde histórias criam vida. Descubra agora