The Siren Song.

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Snowglobe's P.O.V Mode = ON
Mais uma bela noite estrelada, vista do mar. E eu, fria, decido ir encantar mais homens com o meu canto. Afinal, o Canto da Sereia é irresistível. E sabe qual é a melhor parte disso tudo? Afogá-los e congelá-los.
Volto para o meu quarto para me arrumar. De que adianta uma linda voz, mas não estar apresentável? Nada. Exatamente. Nada para uma sereia. Ainda mais para uma princesa. Olho-me no espelho e ajeito meus longos cachos azuis, que formavam um lindo degradê para o branco, assim como minha cauda. Meus olhos, acinzentados e agateados, procuram pelo meu colar, que eu só tiro para tomar banho.

Ué, não me digam que vocês não sabiam que sereias tomam banho!

FLASHBACK: ON
Um estrondo. Algo havia sido lançado ao mar com uma força inimaginável para uma pequena sereia, como eu, que só tinha suas sete primaveras. Pela primeira vez, decidi desobedecer minha mãe e ir até à superfície, por conta da minha insaciável curiosidade. Quando emergi, vi uma cena triste: um grande navio em chamas, mas eu não sabia a causa daquela confusão toda. Imergi ao mar e vi um menino caindo, afundando.
Nadei às pressas para resgatá-lo. Ao ver seu corpo, estranhei. Do tronco pra cima, eu e ele tínhamos as mesmas características, mas do tronco para baixo, ele tinha duas partes corporais que eu só fiquei sabendo o nome depois: pernas. Eu o levei para a superfície e comecei a apertar seu estômago, litros de água saíam pela sua boca.
Até que ele começou a tossir. Estava vivo. Salvei uma vida pela primeira vez! Estava feliz e realizada.
Os cabelos do menino eram méis e seus olhos, azuis, como o mar. Ele me olhou e sorriu:

— Você me salvou? – Perguntou o menino, abrindo os olhos, que pestanejavam. Sua voz estava grogue.

— Sim, salvei! – Eu disse, sorrindo de orelha à orelha.

— Obrigado. Posso saber seu nome? – Ele se sentou, ainda tossindo e se situando.

— Snowglobe White, prazer. Me chame de Snow! – Disse, eufórica, estendendo uma de minhas mãos, mas logo as recolhi, com medo de que ele sentisse o gelar delas.

— Sou Duan Jones. – O menino sorriu, dando de ombros.

Conversamos um pouco e ele me contou que estava viajando para o Brasil, a navio. Eu escutava atentamente suas palavras:

— Deve ser incrível ser uma sereia, como você. Ainda mais com poder de gelo. – Disse ele, admirado.

— Não. Você acostuma. Adoraria ser humana um dia. – Sorri, observando suas pernas.

Escuto vozes. Já estava me arriscando demais ali:

— Eu tenho que ir. – Disse, decepcionada, arrastando-me em direção ao mar.

— Por que não nos encontramos aqui amanhã? – Perguntou ele, bagunçando os cabelos.

— Eu adoraria. – Sorri e atirei-me ao mar.

Nossos encontros tornaram-se constantes e fomos virando grandes amigos. Uma amizade proibida, melhor dizendo. Quando fiz onze anos, resolvi intensificar nossa amizade com um presente. Passei uma noite inteira tentando aperfeiçoa-lo ao máximo. Tinha que ser perfeito. Catei uma concha que achei nas profundezas do oceano e tentei adicionar alguns detalhes congelantes. Descobri meus dons artísticos. A concha ficou esbranquiçada e azulada, devido ao congelamento intencional de algumas partes. Estava ansiosa para entregar para Duan. No mesmo dia, ele também me deu um presente. Trocamos nossos presentes e nos abraçamos:

— Você é uma artista. – Ele analisava meu presente, olhando-o de todos os ângulos.

— Obrigada. – Sorri. – Seu presente é lindo também! – Era um colar com um pingente de globo de neve. Apaixonante.

Conforme o tempo foi passando, Duan deixou de aparecer e eu, consequentemente, desisti de tentar encontrá-lo.
FLASHBACK = OFF

A única lembrança que eu tinha daquele menino era aquele colar e seu primeiro nome, se não me falha a memória...

Duan.

Chacoalho a cabeça e volto ao foco. Depois de me arrumar, vou direto à superfície para cantar. Eu estava emotiva, com dó de afogar muitos caras. Volto para casa. A questão que atordoa a todos da minha família é: Como uma menina que era tão dócil foi capaz de se tornar uma pessoa tão fria quanto a Snowglobe de agora? Mas afinal... Sereias são assim, certo?

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