"Apenas os loucos sabem o prazer da loucura"
- Ela tem nove anos. É bastante inteligente para a idade, adora ler e nisso devo dizer que tem um gosto impressionante. Também dedica um bom tempo à pintura. Ela... Ela já provocou grandes distúrbios para nosso Creedmoore. É perigosa e dissimulada, Dr. Lalo. Tenha cautela. Já foi informado sobre as regras de segurança, não é mesmo? A sala dela é a 4, no corredor S na área 51. Boa sorte.
Foi com essa descrição que Melanie foi retratada para Lalo Zamenis, o recém-contratado psiquiatra do Centro Psiquiátrico Creedmoore, de Sttutengard, enquanto a enfermeira o conduzia à acomodação de Melanie.
Outro ano havia se passado desde que ela fora internada. Eu consegui um emprego como segurança lá, dessa forma poderia monitora-la pelas câmeras e mantê-la por perto e em segurança.
- Desculpe a pergunta, porém isso é necessário e sua sinceridade e honestidade são absolutamente essenciais. Ouvi boatos, e apesar de não ser comum eu dar ouvidos à eles, algumas vezes isso é conveniente. Bom, estou falando sobre de os maus-tratos e negligências aos pacientes. Eles têm algum motivo real?- o jovem profissional indagou a enfermeira.
- Escute-me - a enfermeira estava cochichando- Ás vezes temos que ignorar certas injustiças. Você verá. Respondendo à sua pergunta, sim, são verídicos. Há sim funcionários que não respeitam os enfermos. Mas se pergunta se Melanie foi vítima de abusos, posso lhe falar que ela está livre deles. Ela impôs respeito por seus feitos. Todos a temem, inclusive os mal-feitores. Espero que ajude essa garota perdida. É esta sala à direita.
- Obrigado por me esclarecer a situação e agradeço por ter me guiado. Bom, vou entrar agora. Tenha um dia tranquilo e bom trabalho, senhora Ingrid.
- Igualmente, porém duvido que tenha um dia tranquilo com essa daí. Não sei se a temo ou me compadeço. - disse a enfermeira de meia-idade se afastando.
- Vamos conhecê-la - sussurrou para si mesmo enquanto girava a maçaneta da porta da instalação sorrindo.
Mudei a câmera do corredor para a do quarto.
- Olá. Meu nome é Lalo Zamenis. Como vai Melanie?
Melanie estava na poltrona observando a janela, de costas para a porta onde o psiquiatra se apoiava. Seu quarto era um espaço amplo e organizado, contava com duas janelas grandes. A instalação era dividida em dois espaços, o primeiro, onde a porta ficava, era onde o psiquiatra trabalharia e onde as refeições eram feitas. Logo em frente da porta havia uma mesa redonda de 4 lugares, em seguida haviam dois sofás de dois lugares, um de frente para o outro, separados por uma mesa de centro retangular. Já próximo da janela estavam duas poltronas, Melanie estava em uma. No segundo, na sala separada por uma estante de livros que contia títulos como "Ilíada" e "O Leopardo", havia uma área recreativa perto da outra janela. Ali, seu cavalete tinha vaga, assim como sua escrivaninha e seu pequeno teatro de fantoches. No canto de encontro das paredes foram levantados dois muros para que lá se fizesse um sanitário. Rente à parede ficava a cama.
Ela não se virou e disse:
- "Lalo Zamenis"-pronunciou pausadamente- Seus pais desejavam que você se tornasse um pediatra?- ela perguntou com voz meiga.
- Acertou, como advinhou?
- O seu nome, claro. Zamenis, não me lembro como, está relacionado ás cobras do cajado de Apolo, símbolo da Medicina. E Lalo é algo como cantor que adormece as crianças, corrija-me se estiver equivocada.
- Você foi bem. Zamenis é a espécie da cobra e Lalo é "aquele que canta para adormecer as crianças". Realmente, para quem tem conhecimento de latim e mitologia grega, meu nome fala muita coisa.
- Poderia indagar por que não quis seguir as expectativas de seus pais?
- A psiquiatria me pareceu muito mais encantadora, apesar de não desmerecer a pediatria.
- Apenas por isso?
- Acredito que sim. Não tive influências ou pressão familiar.
A sala ficou em silêncio. Ela ainda não havia se virado para olhar o estranho.
- Então, por que está aqui? - Dr. Lalo tentou quebrar o silêncio.
- Duvido que não saiba. A pergunta é por que você está aqui.- ela finalmente se virou para observar a expressão e conhecer as feições de seu novo psiquiatra.
-Estou aqui para te curar.
- Não se pode curar o que nunca adoeceu.- ela rebateu arqueando as sobrancelhas-.
- Tampouco é possível sem disposição de ambas partes.- insistiu- Terá sempre à sua frente um homem que poderá fazer aliado ou inimigo.
Melanie suspirou voltando a mirar a janela.
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O caso de Stuttgard
HorrorEla era uma pequena artista, cuja arte era a morte. E estava prestes a fazer sua obra prima.