Capítulo 4 - O tiro

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O meu coração começou a bater aceleradamente, o suor escorria-me pelo rosto e as lágrimas já estavam apoderadas de mim. Tinha muitas dores e mal conseguia andar, quanto mais correr... mas era isso que eu queria fazer: correr dali para fora o mais rápido possível. Escondi-me atrás duma árvore grossa e coberta de bichos após ter ouvido o tiro, e permaneci lá durante algum tempo. Observei a meu redor à procura de uma casa, uma estrada, um carro... qualquer coisa que me desse impulso, procurava um caminho para me dirigir.
Encontrei mesmo lá ao fundo uma estrada de areia e afastei-me da árvore para começar a minha caminhada que iria ser tudo menos fácil, mas ao dar o impulso para começar a andar tropecei pois algo estava preso ao meu pé. Olhei para baixo. Eu nem podia acreditar. Comecei a ficar mal disposta, as lágrimas já estavam apoderadas de mim (outra vez), o meu coração começou a bater descontroladamente, toda eu tremia. Na terra estava enterrada uma rapariga e a sua mão estava ainda de fora. As suas unhas estavam sujas e partidas, a sua pele era clara apesar de estar com, bastante sujidade. É claro que ela não me agarrou o pé, eu apenas passei por a sua mão e senti-a. Por muito que me estava a custar começei a desenterrá-la, queria saber se a conhecia, queria levá-la dali e saber o que lhe tinha acontecido mas eu não era capaz. Eu era uma criança naquela altura quando tudo começou.
Destapei a sua cara. Chorava cada vez mais, balbucia-va, tremia, só me apetecia gritar mas não podia, alguém me podia ouvir. Eu conheci-a. Estava toda nua, mas a sua pele ainda estava quente, o que quer dizer que eu podia ter salvo a minha irmã mais velha.

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