Inversão do 5x1 (Romance gay) DEGUSTAÇÃO

Reforma

Segunda de manhã quando cheguei para treinar Viktor já estava na quadra me esperando. Apesar do jeito sério, quieto e europeu que ele tem, seu pai brasileiro fez um bom trabalho em não deixar que ele se tornasse "frio" aos nossos olhos. Eu pelo menos podia sentir que de baixo daquela armadura tinha um ser humano.

Nosso treino estava a todo o vapor, treinávamos muito o saque com a mão esquerda de Viktor e seu ataque, principalmente na "entrada de rede". Essa posição é por onde geralmente os Ponteiros atacam. Se o time está do lado esquerdo, é a ponta lá do ladinho do juiz que fica em pé na cadeira, e se o time está no lado direito da quadra, é a ponta da rede mais perto do banco e do juiz de linha, aquele que fica no chão.

Em uma passagem de rede onde o Oposto está na posição 4 e o saque é do adversário, o Oposto precisaria cruzar a quadra para atacar na sua posição padrão, que é a "saída de rede". Quando o saque é nosso, essa movimentação do Oposto na rede não é necessária pois no momento do saque, ele e o Ponteiro trocam de lado.

Repare quando assistir um jogo de vôlei que o Central está sempre parado no meio da rede e quando acontece o saque, os outros jogadores da rede se movimentam.

Enfim, era muita bola no chão, muito voo da linha dos 3 metros e confesso que estava gostando muito daquilo, a evolução de Viktor era fora do comum. Pouco antes do nosso treino matinal acabar vejo Dona Júlia entrando na quadra.

– Eu sabia que iria encontrar você aqui – Disse a secretária caminhando até mim – Mas o que ele faz aqui é novidade – Ela apontou para Viktor.

– Aconteceu alguma coisa Dona Júlia? – Perguntei.

– Mais ou menos, o técnico e o alguns membros da comissão foram chamados porque pode ter havido um falso positivo no antidoping de um dos atletas. O primeiro teste deu positivo, a contraprova deu negativo e daí já viu a confusão.

– Doping? – Perguntou Viktor assustado.

– Relaxa mano, esses falsos positivos são mais comuns do que a gente acha. Eu mesmo já caí num desses.

– E o que acontece?

– Eles chamam um monte de gente, o atleta supostamente flagrado, fazem um exame de sangue e daí eles chegam num resultado concreto – Respondi.

– O importante é que o treino de hoje foi cancelado e eu fiquei incumbida de avisar aos atletas que o técnico e o diretor não conseguiram. Só vocês dois não atenderam o telefone, mas como você vem sempre treinar de manhã e o senhor mora ali na esquina...

– Obrigado então Dona Júlia.

– Não há de que, querido. E não deixe de ir lá me visitar e tomar um café.

– Pode deixar – Ela foi embora e Viktor se virou para mim.

– Quer treinar mais um pouco? – Eu ia responder quando um trovão ensurdecedor me interrompeu.

– Caralho, que porra é essa? – Eu falo muitos palavrões, acostumem–se.

– Trovão – Respondeu Viktor seco.

– Eu sei, mas não estava nublado nem nada...

Caminhamos até uma porta de emergência no ginásio e ao sairmos o céu estava preto. Nuvens carregadas de chuva tinham transformado uma linda manhã em uma noite escura. Raios e relâmpagos cortavam e iluminavam o céu seguidos por trovões ensurdecedores.

Decidimos treinar mais um pouco e instantes depois de fecharmos a porta e voltarmos para a quadra a chuva começou a cair forte, fazendo muito barulho no telhado do ginásio. Quando demos o treino por encerrado, fomos para o vestiário, nos arrumamos e ficamos olhando a chuva, decidindo a melhor hora de encará–la.