Outro dia qualquer

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Durante a nossa vida, passamos por muitos cenários diferentes, e por mais que alguns deles sejam semelhantes, acredito que, sempre tomamos decisões diferentes sobre cada um. No meu ultimo ano na escola eu estava apavorada com ideia de ir embora de Minnesota e acabei fazendo faculdade lá, mas perto da minha formatura na faculdade, eu fiquei apavorada com ideia de continuar em Minnesota e nunca conseguir alcançar o sucesso profissional que eu tanto sonhei, e quando eu consegui o emprego na UW&CO, não pensei duas vezes antes de mudar pra Nova York. Os cenários eram parecidos, mas eu tomei uma decisão diferente em cada um deles. Bom e tudo isso me leva ao meu cenário atual.

— 21 anos, morando sozinha em Nova York e trabalhando como secretaria pessoal do presidente de uma das maiores empresas do mundo.

— Na verdade ele é vice-presidente.

Novamente eu estava sentada na escada do meu prédio conversando com Ethan, na verdade já estava se tornando comum. Os dias no trabalho se tornaram estressantes, mas do que já eram. Descobri por outros funcionários que a pessoa que fazia as atas das reuniões acabou sendo demitida, e como o Luque sempre participava delas seria mais fácil eu fazer as atas, já que depois eu que iria arquiva-las. Teoricamente, tudo isso deveria deixar o meu trabalho mais simples, e de certa forma deixou, mas eu precisava ir a muitas reuniões, e em cada uma, havia muita informação pra assimilar, e depois eu precisava organizar e arquivar tudo corretamente, e logo após isso eu precisa mandar uma copia da ata para todos que participaram da reunião, inclusive o Luque, e isso me deixava completamente apavorada, tudo e completamente tudo deveria ser perfeito, ou isso poderia custar o meu emprego.

— Como assim?

— O pai dele ainda é presidente, só o Luque é quem comanda a empresa.

— Por quê?

— Essa pergunta eu não posso te responder. Isso já é problema da família deles, sempre achei Howard Underwood um homem excêntrico.

— Você o conheceu?

— Não, eu acompanho muito noticias do mundo corporativo. O mais engraçado de tudo isso, é que eu nem sabia quem era o Luque antes de chegar, — E olha no que isso me levou — eu achava até que era o pai dele que comandava tudo.

— Ele é como um príncipe — Olhei confusa pra ele.

— Não entendi

— Ele não é casado, não tem filhos e pelo que parece ainda não esta perto de assumir a empresa. Ninguém da à mínima pra ele, a mídia só divulga coisas que chamam a atenção. Não vão perder tempo fazendo uma matéria sobre ele, ele não é interessante, bom, pelo menos não no momento. Talvez quando ele tiver uma namorada à mídia vá pra cima dele. Mas enquanto nada de importante acontece só o rei tem atenção. — Eu ri.

— Acho mais fácil ele herdar a empresa primeiro do que conseguir uma namorada. Nenhuma garota seria louca o suficiente pra ficar com ele, nem que fosse só pelo dinheiro, ninguém aguenta ele.

— Talvez ele seja mal compreendido.

— Ah tadinho — Falei de forma irônica. — Ele é a pior pessoa que eu já conheci — Ethan deu ombros.

— Sei lá, existe um motivo pra ele ser assim.

[...]

— Mãe, desculpa não poder ligar nesses últimos dias, você não tem ideia de como esses últimos dias foram estressantes — Praticamente todo o tempo que eu tinha livre usava pra dormir. Minha mãe me ligou varias vezes durante a semana, mas eu não tinha força de vontade pra retornar as ligações. Então eu decidi ligar pra ela durante meu horário de almoço — Acho que minha pressão está aumentando, o que não é de todo ruim, já que eu tenho pressão baixa.

— Não vejo graça nisso.

— Sinto muito mãe — Ela suspirou.

— Não se force demais, o seu corpo pode não aguentar tudo isso.

— Eu vou tentar, mas não se preocupa o que de tão ruim pode acontecer?

— Você pode desmaiar e quebrar o pescoço.

— Era só uma expressão.

— Você me conhece, levo tudo a serio.

— Devo ter me esquecido por um segundo. — Eu ri — Eu vou me cuidar, eu prometo.

[...]

Voltando para minha antiga linha de raciocínio, no momento atual minha cabeça está prestes a explodir. Depois de passar quase três horas dentro de uma sala com um monte de homens e assistindo uma reunião completamente entediante, eu estava finalmente acabando de enviar as atas. Depois de enviar todas, eu precisava levar pro Luque impresso, dentro de uma pasta que ele deixava em cima da mesa. Dei uma ultima revisada nos papeis e coloquei dentro da pasta. Respirei fundo e fui até a sala dele. Cautelosamente como sempre, eu abri a porta devagar e andei até a metade da sala.

— Com licença Senhor Underwood — Ele demorou alguns segundos para voltar sua atenção para mim, ele geralmente fazia isso, e esses segundos sempre pareciam uma eternidade.

— O que deseja? — Ele virou a cabeça em minha direção e tirou os óculos, não era sempre que eu o via com eles, acredito que sejam pra descanso. Seu rosto não continha nenhuma expressão muito aparente, ele não é um homem misterioso, mas depois da ultima conversa que eu tive com Ethan, fiquei me perguntando o que se passa na mente dele.

— As atas estão prontas.

— Apenas deixe na mesa — Ele geralmente diz isso, e quando diz, sempre começa a fazer outra coisa ignorando completamente a minha presença, mas dessa vez ele me acompanhou com os olhos, o que me deixou desconfortável.

Sai de lá rapidamente e fui pra minha sala. O que será que foi isso? Acho que eu o interrompi em alguma hora inapropriada. Resolvi ignorar isso e acabar o trabalho que eu ainda tinha que fazer.

[...]

A plataforma do metrô estava lotada, como de costume, essa parte da cidade é bem agitada nesse horário. Eu estava parada, no meio da multidão, meu rosto estava branco, não literalmente, ele só... Estava sem expressão. Eu me sentia sem expressão. Daqui alguns dias, iria fazer três meses desde que eu me mudei pra Nova York. Lembro dos meus primeiros dias, nas estações de metrô, indo e voltando pra casa do trabalho, no meio de tanta gente, eu me sentia perdida, completamente desorientada, até cheguei atrasada algumas vezes no trabalho, por ter perdido o metrô, claro, isso antes de virar secretaria do Luque. Eu aprendi a me locomover no meio da multidão, mas eu ainda me sentia perdida, como se eu tivesse um mapa e ele estivesse em outro idioma, e no final das contas tudo fosse inútil. Eu tinha medo, de ser consumida pelo ambiente corporativo, mas aos poucos eu percebo, que não só ele, como a cidade também, estão me devorando, pouco a pouco.

Quando o metrô chegou, e as portas se abriram, as pessoas começaram a se movimentar rapidamente, para entrar. Fui me deslocando no meio da multidão até conseguir entrar. Se na plataforma já era apertado, dentro do vagão, era pior, mas pelo menos não é abafado. O metrô lotado já me fez querer chorar algumas vezes, o espaço é muito apertado e desconfortável. Acabei ficando claustofobica depois de uma péssima experiência na infância. Com o tempo eu aprendi a me controlar, pelo menos um pouco, eu criei uma playlist no meu celular, com diversas músicas, bem calmas. Eu estava ouvindo C'est Bientôt La Fin, uma música de uma banda francesa. Aprendi a amar a França há alguns anos atrás depois de uma feira cultural na escola, em que meu grupo ficou com a França. Com forme o metrô andava e dava suas paradas, muitas pessoas saiam, e poucas entravam. Sentei em um banco vago, e aguardei o metro chegar à minha parada.

Eu me levantei quando já estava perto e fiquei em frente à porta. Quando ela abriu, eu, e mais um pequeno grupo de pessoas saímos, subi as escadas da plataforma subterrânea e caminhei um pouco até chegar ao meu prédio. Ethan estava sentado nas escadas como de costume, me aproximei mais um pouco e ele notou minha presença, deu pause no jogo e fez sua pergunta quase típica.

— Dia difícil? — Soltei uma risada curta e esbocei um pequeno sorriso.

— Boa Noite — E continuei andando.

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O Príncipe e a ExecutivaOnde histórias criam vida. Descubra agora