6. Confissão

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Naquela quinta-feira tinha acordado num estado medíocre. A minha cabeça parecia que ia explodir a qualquer momento. Sentia-me,literalmente,a morrer por fora e por dentro. Não me sentia em condições de ir ás aulas da manhã. Sentei-me na cama e agarrei no meu caderno.
Eu adorava escrever! Como eu adorava escrever... O papel era o único que não punha restrições aos meus pensamentos nem às minhas palavras. Ele era o meu melhor amigo. Só conseguia confiar nele.
Durante um longo período de tempo,no meu mundo não existia nada mais a não ser o papel,a caneta e os meus pensamentos. Para ser sincera,nunca pensava muito naquilo em que escrevia. O que me vinha á cabeça era transmitido de imediato para a folha pautada do meu caderno.

Aquele dia ficou marcado pois tinha sido a primeira vez que tinha escrito sobre o Ashton.
Na verdade,tinha sido a primeira vez que eu tinha escrito acerca de alguém em especial.

Parei de escrever. A minha cabeça parecia já ter despejado tudo. Isso,ou então o papel e a caneta estavam a tentar dizer-me que me devia preparar e ir para as aulas.
Bem,não me consegui decidir entre as duas hipóteses,mas decidi levantar-me e começar um novo dia.

***
Aproximei-me do meu grupo de amigos e fui bombardeada com perguntas do género: "Onde é que estiveste?" ; "Adormeceste?" ; "Ressaca?".
Encolhi os ombros.

- E se se deixassem de meter na minha vida e fossemos comer qualquer coisa?
Ignoraram a minha arrogância matinal e dirigimo-nos ao bar.

-Então,pessoal? Hoje é quinta,quem é que vem á reunião? Estou a contar convosco! -disse isto enquanto dava algumas trincas na minha tosta mista.

-Eish,Crystal! Hoje não nos dava muito jeito. O pessoal do colégio dos Navegantes estava a planear um torneio de Basquetebol contra nós e claro que a equipa se vai reunir. Não queremos deixar mal o nosso colégio! Desculpa,Crys. Não te queríamos desapontar.

Aquele pedido de desculpas ainda aumentou mais a frustração dentro de mim. Depositava tanto esforço no grupo para nada. Mas bem,eu "compreendi". Inalei um pouco de ar:

- Ok,tudo bem. E tu,Jens? Posso contar contigo?

-Eu queria ir ver o jogo,Crystal. Porque é que não vens connosco?

-Não vai dar,tenho demasiadas coisas para fazer- menti com todos os dentes que tenho na boca - Mas vão vocês,divirtam-se.

Tenho de admitir,fui um pouco sarcástica ao dizer para se divertirem. Não consegui disfarçar,eu estava mesmo desapontada. Mas não era o fim do mundo e haveriam certamente outras quintas.

A conversa continuava viva na nossa mesa e o tema era o mesmo.

-Aposto que aqueles totós dos Navegantes não vão encestar uma.

Risos e gozos pairavam. Mas eu continuava distante. Eu simplesmente evitava tudo e todos.

Agarrei nos meus fones e a música ocupou-se de mim.

Passei a minha mão pela cara. Conseguia sentir todos os pequenos relevos das minhas borbulhas. Era-me estranho. Cada vez eram mais e eu não tinha qualquer domínio sobre elas. Podia compará-las á minha vida.
Naquele momento não sentia que tinha qualquer controlo sobre aquilo que estava a viver. Eu ia na onda do destino e era um barco perdido que não sabia onde ia parar.

Drive da Halsey começara a tocar a á medida que a música passava,ia arrastando os meus pensamentos obscuros com ela,misturando-os na corrente sonora.

Parecia que alguém tentava falar comigo. Tirei um fone e aí consegui perceber.

-Crys,nós vamos andando para o jogo. Tens a certeza de que não queres vir assistir?

Uma Questão de Tempo - IrwinOnde histórias criam vida. Descubra agora