Fracasso de Tom

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  Ele acordou sem nenhuma vontade, mas se levantou, andou até o canto da sala e sentou em frente ao piano. Fez o que já não aguentava mais fazer; tentou tirar uma melodia do piano, mas não podia ser qualquer melodia, qualquer conjunto de notas... Tinha que ser perfeito. 

Thomas já havia sonhado (ou só imaginado) aquelas notas, mas sua memória não é das melhores e a paciência não é das maiores e. Quando tentou reproduzir aquele som em seu piano fracassou, tentou novamente e era como se voltasse a ter oito anos e estar aprendendo a tocar no antigo piano da sala ampla da casa de sua mãe, o que era desesperador. Quase podia ouvi-la reclamando com a voz estridente perto de seu ouvido, o que lhe causava palpitações e leves tremores. E tudo só piorava.

Fora do tom, com tremores e palpitações... Dessa forma dificilmente conseguiria encontrar aquela melodia um dia, sabia disso e fazia de tudo para se acalmar. Porem, quando estava prestes a recuperar-se, outa imagem tomou seus pensamentos. Uma mulher muito mais jovem e mais cruel que sua mãe. 

Ele se martirizava por ter se apaixonado por alguém tão cruel. Depois de tanto tempo sofrendo nas mãos de sua mãe exigente, que fez de sua infância uma tortura, deixando-o por horas sentado em frente ao piano e lhe dando castigos a cada nota incorreta. Prendeu-selogo a mais cruel das mulheres, a melhor violinista, a que o deixou sem sequer hesitar, sem discutir o erro (se é que houve erro). 

Sem sua cruel mulher, sem melodia e sem tom, Thomas continuou a tentar, até que com olhos perdidos deixou que suas mãos fossem escorregando pelas teclas, deixou-se levar e quando menos percebeu; lá estava ela... A melodia, mas tom ainda se sentia um fracassado. 

E não adiantava tentar pensar que não podia ter tudo na vida, pois para ele isso era coisa de quem não tem gana. E se tem algo que herdou de sua cruel mãe, foi a persistência.   


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