Capítulo 06

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Acordei com lágrimas nos olhos. Elas estavam em estado líquido ainda. Senti um vento frio. A janela estava aberta. Levantei-me rápido para fechá-la. Sentei na cama novamente e chorei. Chorei muito. Não sabia que existiam tantas lágrimas em meus canais lacrimais e não sabia se iria chorar algum dia como hoje. Mas eu não tinha como não chorar, Aline era meu porto seguro. Além de minha irmã ela era minha melhor amiga. O que aconteceu com você, Aline?

Fui tomar café com minha mãe, ela preparou um suco de laranja pra mim com dois sanduíches de queijo com presunto. Comi rapidamente, mesmo preocupado, sentia fome. Minha mãe ligou para a escola e explicou o acontecido para a direção. Eu iria chegar atrasado ao meu terceiro dia de aula.

Fiquei sentado ouvindo música no sofá, minha mãe havia devolvido meu iPod e eu fiquei esperando meu pai chegar do hospital. Meu pai chegou pouco depois das nove horas em casa, ele abriu a porta e quando olhou para minha mãe seus olhos estavam vermelhos, e quando eu olhei para minha mãe os olhos dela começaram a soltar lágrimas também. Acho que os anos juntos fez um entender o outro apenas pelo olhar. O que aconteceu, pai?

- Nossa filha está bem - ele disse pra minha mãe - NOSSA FILHA ESTÁ BEM, SUZANA! - ele gritou e começou a abraçá-la.

Eu fiquei paralisado. Eu comecei a pular em casa gritando e meu pai me deu um abraço. O susto havia passado. Mas as novidades não terminavam por aí.

- Tenho um comunicado a fazer a vocês dois. – meu pai disse com a face séria.

Meu coração que havia se acalmado, mas voltou a acelerar quando vi o rosto do meu pai. Eu me sentei no sofá e minha mãe na poltrona.

- Fale rápido! – diz minha mãe – Não nos deixe mais nervosos.

- Bem, a Aline apenas teve um pequeno enjoo, ela passa muito bem, a pressão dela caiu, mas ela já se recuperou, - conta meu pai com suas mãos trêmulas – mas já no hospital Aline teve outro enjoo e os médicos fizeram rapidamente uma bateria de exames nela. – as mãos do meu pai estavam pingando suor – E eles descobriram...

Eu comecei a chorar. Meu pai arregalou seus olhos e minha mãe se levantou da poltrona e veio me consolar.

- EU SABIA! EU SABIA! – gritava soluçando.

Não sabia o porquê de eu estar fazendo isso, mas eu chorava, meu coração ficava apertado.

- O que você sabia, Júlio? – meu pai me perguntou com a voz brava.

- Aline está doente, não está? Ela vai morrer, né? – eu falei soluçando e gaguejando.

Eu havia começado a chorar sem querer, meus olhos simplesmente soltavam as lágrimas involuntariamente.

- Não, meu filho! – meu pai diz com uma voz serena e senta do meu lado tentando me consolar – Aline está bem. Mas, ela não está sozinha. Aline está grávida. Era isso que eu estava tentando dizer esse tempo todo, mas estou muito nervoso.

ALINE ESTÁ GRÁVIDA? ELA VAI TER UM BEBÊ? COMO? As palavras do meu pai dizendo que minha irmã estava grávida ecoaram dentro da minha mente. Eu não chorava mais. Eu fiquei surpreso.

- Pai, mas como?

- Pelo que Aline me contou ela que se ela está realmente grávida, o filho é do Beto.

Beto. O único namorado que Aline teve que não era um babaca. O Beto era uma espécie de príncipe encantado. Parecia que ele havia saído dos livros infantis. Era um verdadeiro cavalheiro, alto, forte, educado e muito inteligente. Beto não tinha preconceitos, não era machsita, misógino e muito menos homofóbico. Ele tinha olhos grandes e azuis, o cabelo loiro era sempre cortado no estilo militar. Ele namorou Aline por quase dois anos, mas ambos tiveram que se mudarem e resolveram terminar o relacionamento. Aline veio junto comigo pra São Luís e nossa família e Beto foi pra Belo Horizonte estudar Ciência da Computação.

As Viagens da Minha Vida (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora