Acordei com uma ameaça do meu pai.
- Se você não se levantar agora, vou jogar um balde de água em você na cama. – disse ele ao me chamar pela quarta vez.
- Só mais cinco minutos, pai. – pedi morrendo de sono e cheio de dores.
- Não vou te chamar novamente.
Me levantei. Não tinha outra opção. Nunca gostei de desafiar meu pai e sempre acreditava em suas ameaças. Mesmo com meu atraso, cheguei à escola meia hora antes da primeira aula começar. Não sabia se era destino, mas justo no dia que eu tinha levado minha carteira, vi que tinha aberto uma floricultura bem próxima à escola.
- Aline, você pode ir na frente que eu vou bem aqui, tudo bem?
- Claro. Vou aproveitar pra passar uma atividade a limpo.
Aline entrou na escola sem mim e eu fui à floricultura. Tinha muitos buquês bonitos – e caros – e eu não sabia qual escolher. Não escolhi nenhum porque não tinha dinheiro pra comprar. No momento que eu entrei na floricultura, eu não tinha a mínima ideia do que estava fazendo lá. Pelo menos não tinha até olhar um vaso pequeno com uma pequena flor dentro.
- Tem mais dessas? – perguntei ao floricultor.
- Não. Essa é de amostra. – ele respondeu.
Fiquei logo triste.
- Tudo bem. Obrigado. – agradeci.
- Espera aí menino – disse ele – Tenho a semente. Você pode comprar um vaso e colocar dentro.
- Posso? – perguntei. Tenho certeza que minhas pupilas dilataram quando ouvi isso.
- Claro. – ele respondeu e me deu um vaso com uma semente dentro.
- Muito obrigado. Quanto custa?
- 8 reais. – disse o floricultor sorrindo.
Dei os oito reais para ele e coloquei o vaso com a semente na minha mochila. Havia acabado de brotar uma ideia em minha mente.
- Obrigado, menino. – ele agradeceu.
- Eu que agradeço. – disse pra ele quando saí da floricultura.
Entrei na escola rapidamente quando vejo Rei na portão principal me esperando. Nem conversei com ele e fui direto pra sala e ele me seguiu. Quando eu cheguei Duda sentada na minha cadeira e eu disse.
- Com licença. – pedi.
- Claro. – ela disse ao se levantar – Posso falar com você depois, Júlio?
- Só se for no horário da saída, tudo bem? – perguntei a ela.
Duda se levantou "bufando" e foi para o seu quarto. Nem tive tempo de conversar com o Rei. A aula de Química havia começado. Tivemos todas as aulas naquele dia. Na hora do almoço eu disse pro Rei que deveríamos fazer os trabalhos da semana que éramos dupla. Fomos a biblioteca e Rei pegou três livros emprestados. Fomos ao local secreto e começamos a fazer a atividade sentados no chão mesmo. Eu fiz de uma disciplina e Rei fez de outra. Quando acabamos, faltava ainda trinta minutos para o almoço acabar.
- Você está com fome? – perguntei.
- Só se for dos seus beijos. – disse ele rindo – Você não me deu nenhum beijo hoje.
- E nem vou dar. – fiquei sério e com expressão de ódio - Precisamos conversar. – falei.
Rei com certeza devia estar pensando no que ele tinha feito de errado. Ele não fez cara de quem tem "culpa no cartório", e sim de quem estava confuso.
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As Viagens da Minha Vida (Romance Gay)
Historia CortaJúlio se muda de Curitiba para São Luís por causa do trabalho de seu pai. Só que "mudar" é a única coisa que Júlio não quer. Acostumado com a sua vida na capital com menos dias de sol no Brasil e com seus dois melhores amigos (que ele conhece há qua...