Acordei sem saber a hora. Havia um relógio perto da minha cama, mas eu estava sem óculos e com sono e não conseguia enxergar as horas. Pulei da cama. Nem vi meu celular, fui direto ao banheiro escovar meus dentes, tomar banho e fazer mais algumas coisas. Banho tomado. Fui para o quarto e me arrumei. Não iria para lugar nenhum, mas queria me deixar mais bonito.
Se é que isso é possível?
- Minha camisa lilás! – disse eu na frente do espelho vestido apenas de toalha.
Lembrei-me da minha camisa lilás que eu havia comprado numa feira de jogos quando eu viajei para São Paulo. Fui apenas uma vez à cidade, porém, não pude como não deixar de ir ao bairro da Liberdade. Aline gastou sua mesada quase toda em doces e comida. Eu, porém, gastei meu dinheiro com um videogame japonês e alguns jogos, além de algumas camisas ilustradas com personagens de animes, mangás e jogos. Quando meu disse que iríamos à São Paulo economizei minha mesada por três meses e para ter dinheiro para comprar o que eu queria.
E nem comprei tudo!
- Cadê essa blusa? – pensei alto procurando a minha camisa dentro do meu guarda-roupa.
Depois de fazer uma bagunça enorme finalmente achei minha amada 0camisa. Eu havia comprado duas. Uma pra mim e outra para Aline. A camisa era lilás, manga curta possui o nome de um anime que eu era fã escrito em japonês em cor branca. Basicamente só era isso. Custou cinquenta reais as duas, porém não me arrependo da compra.
- ALINE! VAMOS JOGAR! – gritei Aline. E não demorou nem cinco segundos para cair a ficha e eu perceber que ela não estava mais comigo. Chorei muito. Minha camisa caiu no chão e eu fiquei chorando sentado na cama.
Estou com tantas saudades suas, Aline!
Não sei por quanto tempo chorei. Mas me levantei quando as lágrimas pararam de cair.
- Força, Júlio! – disse ao me levantar – Você consegue ser forte. Sua irmã está bem e logo estará aqui com você.
Eu mesmo estranhava o fato de falar alto sozinho, porém, não tinha ninguém perto para me chamar de louco.
Vesti uma cueca, uma calça jeans e vesti minha camisa e fui pra cozinha tomar café. Tinha torradas e pão de queijo e um bilhete do meu pai.
"Tive que sair cedo, tem suco na geladeira e se você não quiser torrada ou pão de queijo, tem pão de forma e queijo e presunto da geladeira."
Pra onde você foi, pai?
"Bom dia, filho". Acaba seu bilhete.
Como eu estava com preguiça resolvi comi os pães de queijo e peguei o suco na geladeira. Era meu suco preferido: suco de goiaba. Tomei meu café rápido e fui ao meu quarto pegar um dos meus consoles pra instalar na televisão da sala. Escolhi um jogo de dança que eu gostava e fiz uma lista de reprodução de quarenta minutos para eu dançar.
- Applause. Dançando. Safe and Sound. Waking Up In Vegas. American Girl. Just Dance. I Kissed A Girl. Starships. Rich Girl. Rock N Roll. – lista de reprodução pronta.
Com as dez músicas já escolhidas. Só apertei o botão "Começar" e comecei a dançar. Já na quinta música eu estava cansado e todo suado. Tirei minha camisa e liguei o ar condicionado da sala e deixei em dezessete Celsius. Mesmo com o corpo um pouco dolorido, continuei minha lista de reprodução até o final da última música. Quando eu acabei, apenas soltei o controle da minha mão e deitei no tapete e fiquei tentando recuperar o fôlego. Com sede, bebi um pouco de água e quando sentei no sofá ouvi barulho de chaves e a porta abriu. Minha mãe entrou sorridente, meu pai entrou logo atrás dela. Eu me levantei, olhei pra eles e eles fizeram um "sim" com a cabeça. Acho que eles sabiam o que eu estava pensando. Aline entrou na porta de pé como se nada tivesse acontecido.
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As Viagens da Minha Vida (Romance Gay)
ContoJúlio se muda de Curitiba para São Luís por causa do trabalho de seu pai. Só que "mudar" é a única coisa que Júlio não quer. Acostumado com a sua vida na capital com menos dias de sol no Brasil e com seus dois melhores amigos (que ele conhece há qua...