Prólogo

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  COMPLETO ATÉ DIA 24/06/17  

- Nós íamos sair as oito horas e são oito horas em ponto. - Joana falou com aquele tom de voz sempre alegre que possuía.

- Poderíamos sair um pouco mais tarde. Ainda estou quebrado do plantão duplo para conseguir essa folga.

- E eu estou com sono. - A filha deles, Luiza, de dez anos entra no carro no banco de trás com o seu travesseiro.

- Parem de reclamar os dois. - A esposa fala sorrindo, pois sabe que os dois são iguais quando estão com sono. - E vamos de uma vez para aproveitar o dia na fazenda. Não é sempre que temos esse final de semana prolongado longe de casa assim.

E então seguiram viagem rumo à fazenda dos pais dele, localizada na saída norte da cidade em que moravam.

O feriado era uma data esperada por todos daquela casa. Ele por ter alguns dias de folga com as suas gurias e com o seu pai, aquele que sempre idolatrou e seguiu os conselhos fielmente, e que ultimamente o seu quadro de estava começando a entrar em uma fase crítica. Às vezes ele confundia a nora com a neta e isso começava a preocupar Luiz com o futuro que a doença o reservava.

Joana, estava ansiosa pelo feriado ao lado do marido. Por mais que eles se vissem todos os dias e fizessem, ao menos, uma refeição por dia juntos com a filha, nada era comparado a ter ele por mais algumas horas. Ela o amava, o mais profundo e sincero amor que alguém poderia sentir por outra pessoa. Haviam passado por problemas, enfrentado uma gravidez quando ainda eram novos demais para saber o que essa responsabilidade significava, mas tinham conseguido com maestria conciliar a chegada de Luiza com a faculdade de medicina dele e outros sonhos que construíram juntos.

Sabia que o marido andava cansado, porém, cada vez que via ele saindo para o plantão com o seu jaleco branco nos braços, sentia o orgulho no peito e a felicidade em saber que ele tinha conseguido o que os seus irmãos achavam impossível, se formar em medicina e ser um médico exemplar no hospital que trabalhava.

Joana acompanhou, desde cedo, a luta do Luiz com os irmãos e de como foi a reação deles quando souberam que o irmão caçula, com diferença de quinze anos para o mais velho e dez para o segundo, havia passado no vestibular para medicina, nos primeiros lugares. Apenas o seu pai e ela vibraram e acreditaram no seu potencial.

Foram tempos difíceis. Tudo aconteceu muito rápido. O "namoro" que nunca passou de apenas curiosidade entre adolescentes, pegou todo mundo de surpresa quando os sintomas da gravidez floresceram. Houve brigas, discussões acaloradas de ambos os lados, medos e quase nenhuma esperança de que poderia dar certo, mas cá estavam eles hoje. Dez anos após tudo isso e formavam uma pequena família feliz. E era isso que importava para eles.

Aprenderam juntos a superar os olhos que os julgavam, principalmente ela, filha do primo bastardo do sogro, aquele que vivia nas costas de quem pudesse o sustentar. Todos na região falaram que o pai usou a filha para engravidar do filho mais novo e assim garantir um futuro promissor, pois a cada dia que passava, a escola que o pai do seu marido fundou com tanto trabalho dava mais lucros do que conseguiam administrar.

Claro que isso não era verdade. Joana e Luiz, além de serem primos de segundo grau, foram criados juntos. Os empregados da fazenda sofreram muito na mão de ambos quando eles decidiam colocar tudo abaixo em alguma brincadeira altamente perigosa. Sempre o "cabeça" da situação era ele, e mesmo sendo dois anos mais novo, havia dias que ninguém o aguentava tantas ideias mirabolantes que ele tinha.

Luiz sempre foi, o que hoje podemos chamar de hiperativo. Naquela época, diagnósticos desse tipo não existiam. Eram confundidos com crianças inquietas e, uma boa surra dos pais, era o que faltava para se comportarem. Ele apanhou muito de sua mãe, mas no outro dia voltava a escalar a casa e tentar se atirar do telhado com uma corda amarrada na árvore da frente.

LuizOnde histórias criam vida. Descubra agora