Capítulo 12

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  COMPLETO ATÉ DIA 24/06/17  

            Sento no sofá da sala de reunião do Gê e olho no relógio. Quinze para as duas da tarde, e isso significa o que? Que eu estou podre de cansado, com fome, sujo e ainda tenho que esperar os meus irmãos.

Meu plantão foi péssimo. Não, não no sentido de perder pacientes ou alguma complicação. Bem pelo contrário, nesse quesito foi perfeitamente bem. Me refiro ao meu estado para atender as pessoas com a minha cabeça focada no quarto de recuperação três.

Fiquei a noite toda indo lá a cada atendimento que eu fazia. No final, o seu pai já estava olhando estranho para mim. Mas eu não conseguia ficar afastado dela, queria estar ali do seu lado para o que ela precisasse.

Porque desse desatino todo?

Nem eu sei...

Só sei que fiquei nervoso, abalado e preocupado ao extremo com a Carla, ainda mais depois que presenciei aquele ataque de choro incessante dela nos meus braços. Ela pensa que me engana, mas ninguém trapaceia com o velho aqui. Posso ser cego, míope a ponto dos meus óculos serem quase fundo de garrafa, porém as minhas lentes de contato estão ajustadas para o meu grau. E aquilo não foi choro sobre o acidente.

Tem outro fundo, e nem preciso dizer que estou com o meu lado curioso em cólicas profundas para saber o que tudo o que aquela mente brilhante esconde de mim.

Começando pelo pulo que ela deu quando eu me aproximei dela. Um receio desse para não ser tocada em um momento de insegurança tem mil e um motivos, e eu espero que pelo menos, uns novecentos e oitenta e nove deles eu esteja redondamente enganado.

Seu pai chegou minutos depois dela ter parado de chorar. Realmente eu conhecia ele, o delegado Denski. Quando se trabalha atendendo pacientes de confronto com a polícia, começamos a conhecer quase todo mundo dessa área. Deixei os dois sozinhos por alguns instantes para assumir o plantão.

Não autorizei a ida da Carla para casa, até eu ter a plena consciência de que ela não teria nenhum sintoma tardio. Ela passou a noite aqui na emergência embaixo dos meus olhos, eu estava preocupado, então usei de todo o meu "poder plantonista" para apaziguar isso.

Eu poderia ter liberado ela depois dos curativos realizados. Era o procedimento correto a se fazer. Assim era a rotina do pronto socorro, paciente estabilizado e sem problema nenhum, tchau.

Pois é...

Estou cansado demais para gastar neurônios no porque eu fiz isso. O fato é o seguinte, eu nunca fiquei tão nervoso como me vi na cena do seu acidente.

Eu não podia acreditar no que eu estava presenciando. Ela em cima da maca, o sangue ao redor e tudo o que isso poderia implicar. Não poderia ser verdade. Há poucas horas nós estávamos conversando por mensagens sobre coisas idiotas um com o outro.

Ela havia me dito que iria dar uma volta de bike, e ainda me convidou, mas como eu tinha que vir à escola e depois para o plantão, recusei e fui dormir um pouco. Se eu estivesse junto, pode ser que nada daquilo tivesse acontecido. Ou provavelmente eu estaria preso por ter socado a cara da pessoa que fez aquilo e fugiu, como o seu pai me disse quando eu perguntei sobre o culpado do acidente.

Liberei ela no final do meu plantão. Assinei os papeis da alta, receitei analgésicos e tudo mais que ela precisaria para ficar confortável nos próximos dias. Até disse para o seu pai, que se ela precisasse de alguma coisa, era para não hesitar em me ligar para pedir o que é que fosse. Largaria tudo que estivesse fazendo para ir em seu socorro.

LuizOnde histórias criam vida. Descubra agora