Capítulo 4

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  COMPLETO ATÉ DIA 24/06/17  

Exatamente às quatorze horas eu entro na sala onde o Gê trabalha. A porta aberta e o ambiente vazio me deixam explorar o local no qual eu só entro para situações como essa.

Não mudou muita coisa desde que o meu pai ainda era o chefe da coisa toda. Uma estante de livros com edições no idioma original e mais alguns que ao longo dos anos ele foi adicionando. Nem preciso comentar que eu e os meus irmãos fomos forçados a ler cada um deles, e dependendo do livro, mais de uma vez.

As fotos de nós três em idades diferentes. Infância, adolescência e adultos. Cada um com o seu jeito de ser em pessoa. Olho as minhas com um sorriso no rosto. Uma eu naquelas fotos de recordação da escola, com uns sete anos, com uma cara feliz. Tive que ser subornado por uma bicicleta nova nesse dia. Outra com a Joana no seu aniversário de quinze anos quando entrei com ela no salão. As outras três que mais me chamam a atenção, e na minha opinião, as mais bonitas. A primeira no meu casamento, a foto oficial comigo e com a Jô atrás do bolo. Eu estou ridículo, a única coisa que realmente salva a foto é a noiva.

A segunda minha com a Luiza com apenas alguns dias de vida no meu colo, e eu com o sorriso mais besta do mundo por estar com a perfeição em forma de pessoa comigo, e a última, o quadro da minha formatura. Aquele em que eu apareço olhando para o nada como um idiota, a foto de todos os colegas, ano e número da turma.

Lembranças de quando tudo era bom. Às vezes, queria voltar o tempo para reviver todos esses momentos novamente e dar mais atenção a cada um deles. Se soubéssemos o que nos aguarda no futuro, com certeza, naqueles dias de chuvas que ficamos até mais tarde na cama iríamos aproveitar mais junto de quem a gente ama. Ou então muitas das brigas desnecessárias nem teriam acontecido.

– Luiz? – Me viro e dou de cara com a minha cunhada, Lena.

– E aí? – Dou um abraço nela e a levanto do chão.

– Qualquer dia vai me derrubar no chão fazendo isso!

– Desde que a gente se conhece e eu passei do teu tamanho, eu faço isso. Nunca vou te deixar cair, tu sabe disso!

– Eu sei, mas mesmo assim... Como tu está? – Ela dá uma checada geral em mim. Algumas coisas nunca mudam...

Acho que eu a conheço desde sempre. Como eu e o Gê temos quinze anos de diferença e a Lena é sua namorada desde os vinte, não precisa ser bom em matemática para fazer as contas. Tenho-a como uma irmã que muito me ajudou quando eu precisei e que se preocupa comigo, mesmo quando nem eu mesmo faço isso.

– Estou bem. Teu marido me ligou mais cedo para uma "reunião", sabe do que se trata?

– Provavelmente sobre alguma coisa aqui da escola. O Beto deve estar chegando também.

– Ahh, que agradável reunião nessa tarde. – Ironizo.

– Não começa, e deixa os dois quietos. Sem implicância.

– Eu não implico. Eles é que não vão com a minha cara.

– Mentiroso. – Lena encosta a ponta do dedo no meu peito e não esconde um sorriso. – Tu sabe que o Gê é todo estressadinho com tudo, e o Beto... Ok, ele é um caso à parte, mas são teus irmãos. E o Gê sempre fala muito bem de ti.

– Certo, Lena. – Me aproximo dela e dou um beijo na sua testa. – Eu sou a ovelha negra da família e o incompreendido.

– Não é para tanto, mas está chegando perto.

LuizOnde histórias criam vida. Descubra agora