Luiz

Capítulo 3

  COMPLETO ATÉ DIA 24/06/17  

– Oh, oh, oh! Sweet child o' mine! – Canto em plenos pulmões dentro do carro, preso no trânsito.

Sorte que ele está calmo a minha frente, o dia está bom demais para ser estragado assim. O sol está brilhando lá fora, eu dormi bem a noite passada e consegui acordar antes do telefone entrar em colapso por ter ficado tempo demais no modo soneca, despertando loucamente.

Quem nunca fez isso na vida? Eu faço quase todos os dias...

Síndrome da mente inquieta, ou sei lá, geralmente à noite é quando eu fico mais ativo e penso em todas as teorias que podem mudar a vida no planeta Terra.

Olho no relógio do painel e vejo que saí cedo do hospital, após ver os meus casos. Tenho meia hora até chegar ao shopping e almoçar com o André e a Olívia. Estou louco para saber qual é o assunto dos dois que não quiseram argumento nenhum para me falarem sobre o que é. Fizeram isso de propósito, pois sabem que eu sou um pouco ansioso, ainda mais quando começam a conversa com "tenho uma coisa para te falar amanhã". Para que falar amanhã? Fale hoje e me poupe o sofrimento.

Passo por uma avenida movimentada e vejo a ambulância estacionada socorrendo um ciclista atropelado. Um arrepio me sobe os braços em direção à cabeça e eu olho para frente e sigo o meu caminho. Pelo pouco que eu vi, o ciclista estava bem e sentado na porta da ambulância por precaução. Nada de mal, Luiz. Acidentes simples acontecem. Ainda mais nesse trecho, aqui os motoristas não sabem que não podem cruzar a ciclovia quando der na cabeça deles.

Chego ao shopping com minutos de antecedência, mando uma mensagem para a Liv avisando que já vou pegando uma mesa para nós três e aproveito tempo para incomodar a minha filha do outro lado do oceano.

Luiz: Olha como eu estou lindo hoje... (imagem anexa)

Luiza: Não me diga que tu saiu de casa desse jeito? Pai! Cadê aquelas roupas lindas que compramos aqui? Não usei tudo o que aprendi sobre moda para te ver usando essa blusa branca manchada e uma bermuda que já viu dias melhores.

Luiz: Hahahaha! Aquelas roupas são horríveis de usar. Essa são mais "folgadas".

Luiza: Eu não acredito! Calma! Tô fazendo as contas de fuso e, POR FAVOR, não me diz que tu está em algum lugar?

Luiz: ...

Luiza: Pai, essa bermuda está rasgada. Mesmo a milhões de quilômetros eu percebi isso!

Começo a rir para o celular e deixo a Luiza surtar mais um pouco.

Claro que eu não estou vestido desse jeito. Peguei uma foto antiga que eu tirei quando estava jogando com o AC e as crianças lá em casa no último feriado. Apenas fiz isso para encher o saco mesmo.

Por estar estudando moda e estagiando em uma loja renomada na Itália, a Luiza surta quando me vê desse jeito, desarrumado e desleixado assim. Ela diz que não posso ficar me descuidando dessa forma. Preciso andar sempre na beca, ou pelo menos, com a barba feita a cada dois dias.

Desculpa filha, mas às vezes não dá. Prefiro mil vezes uma calça velha e confortável do que uma caríssima a qual tenho que ficar me cuidando a cada coisa que eu encosto a minha bunda para não tirar fio, ou então rasgar.

Luiza manda mais mil e uma mensagens e eu tiro uma foto minha atual. Por sorte até me barbeei hoje pela manhã e a minha camisa social branca ainda não teve contato com nada que pudesse deixar marca.