Capítulo 02: A Mochila Roubada

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Sofia fitava a cara branca de Dante enquanto este devorava qualquer prato de comida que colocassem sobre a mesa. Até o momento, ele tinha comido, pelo menos, cinco bifes de vaca, dois pernis inteiros, todas as verduras maduras o bastante que ela e a mãe cultivavam na horta – o que incluía, no mínimo, três saladas de batata feitas cada uma com cinco das grandes. Além de três panelas médias de arroz e feijão. Ela estava estupefata. Não imaginara que um garoto tão magro como aquele podia comer tanto. Há quanto tempo será que não comia? Semanas, talvez? Para onde será que ia tanta comida?

– Quando me achou, você viu uma bolsa comigo? – Ele perguntou com a boca cheia.

– Não. Vi apenas você.

Ele ficou pensativo enquanto mastigava um pedaço de carne.

– Precisamos achar. Deve estar em algum lugar por lá. Será que eu posso tomar um banho? Eu sei que estou muito fedido; o lugar de onde eu vim me deixa muito fedido! Eu mesmo posso sentir meu cheiro! Por Hades, que futum!

Sofia deu uma risada gostosa e respondeu em seguida:

– Sim, é claro. Vou preparar o banho quente.

Ela saiu, deixando-o devorar os últimos resquícios de comida que havia na casa. Esquentou a água e jogou em uma banheira de madeira, em que ela e a mãe costumavam tomar seus banhos diários. Alguns minutos depois, voltou à sala, onde Dante fitava os livros em uma estante.

– Vocês são leitoras, então? – Perguntou, sem olhar para ela; percebera que ela havia entrado.

– Não exatamente. Apenas eu. Minha mãe não pega em um livro desde que meu pai morreu anos atrás.

– Qual era o nome dele?

– Abderus Rockenbach.

– Eu lembro-me dele. – Ele disse, para surpresa de Sofia.

– Como assim? Conheceu meu pai?

– Sim. Conheci-o depois de morto. Ele me ajudou a sair do Submundo.

– O quê? Do que está falando?

– É uma longa história que eu terei o prazer de te contar, mas antes precisamos encontrar minha mochila.

Sofia fitou as costas largas do rapaz. Ela queria saber do que ele falava e o que tinha isso a ver com o pai dela, mas tinha a sensação de que ele não contaria tão cedo aquela história.

Apesar de ele afirmar que havia uma mochila com ele dois dias atrás, quando ela o encontrou, Sofia não se lembrava de haver algo com ele. Independente disso, eles seguiram pelo caminho que levava ao campo de centeio.

– Foi aqui que eu te encontrei. – Ela informou, apontando para um pedaço de terra no chão à beira da estrada ao pé de uma árvore que dava frutos estranhos em formato de coração.

Dante olhou ao redor, deu uma volta na árvore e franziu o cenho. Sua mochila não estava ali. Andou mais alguns metros à frente, e nada. Sua mochila havia desaparecido totalmente. Encontrou, porém, preso em um galho, um pedaço de pano balançando com a brisa de primavera.

Este estava rasgado na diagonal, cortando um símbolo pela metade. Pelo que podiam notar, era um círculo com dois traços na lateral formando um "<" torto. Eles não tinham a menor ideia do que aquilo poderia significar.

– Alguém me encontrou antes de você, e me assaltou.

– Estranho. Não costumam ocorrer muitos assaltos nessa região... – Então ela lembrou-se do senhor de escravos que estava assustando os moradores do vilarejo. – Quando eu fui num vilarejo aqui perto, eu soube de um vendedor de escravos que chegou às redondezas. Talvez tenha sido algum dos seus homens.

Khali: o Reino do Olimpo | DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora