Stolen Kisses

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Haymitch tinha razão quando disse que os tributos daqui são despreparados em vários sentidos da palavra. Agora, na quinto ano que trabalho como escolta, septuagésima terceira edição dos Jogos Vorazes, eu realmente não acredito que ninguém daqui vá ganhar.

Minha empolgação no palco da Colheita é apenas pelos Jogos. Não pelos Tributos daqui.

Mas, como boa escolta, eu não deixo que os meninos escolhidos saibam que eu não tenho muita esperança neles apesar de ser uma pessoa bastante otimista. Ao contrário de Haymitch - que ainda não consegui colocar na linha -, que mesmo não deixando de os ajudar, é sempre direto demais.

Direto e verdadeiro. Estou sentada ao lado de Haymitch no sofá da sala de estar do nosso andar no Centro de Treinamento e acabo de ver nosso segundo tributo desse ano morrer pelas mãos de uma Carreirista do Distrito 1. Suspiro. Meus olhos estão marejados. Ambos os Tributos desse ano tinham somente 12 anos de idade.

- Viu como é uma honra morrer desse jeito? - Haymitch fala ironicamente. E olha para mim, mas sua expressão se suaviza quando ele vê minhas lágrimas escorrendo silenciosamente. - Effie... você... está chorando... - ele enxuga as lágrimas com o polegar. Isso me deixaria surpresa, se eu já não estivesse triste com o que acabou de acontecer sem que eu pudesse fazer nada para impedir. - Desculpe. - Haymitch pedindo desculpas. Para mim. Agora estou triste e surpresa.

- Tudo bem... - suspiro. - Já me acostumei com seu jeito. Eu não consigo me acostumar em ver os mais novos morrendo desse jeito.

- Eu sempre digo para você não se apegar à eles... - ele murmura enquanto me puxa para um abraço reconfortante. Suas mãos afagam minhas costas. Sinto o cheiro de álcool nele, e até que é um cheiro agradável. Gosto de cheiro de álcool.

Haymitch pedindo desculpa e me abraçando no mesmo momento? Penso. "Coisas interessantes estão acontecendo hoje, não é mesmo?" Ouço Caesar falando na TV. A frase dele acabou combinando com meus pensamentos.

Haymitch se afasta de mim e pega o controle, desligando a TV.

- Chega dessa merda por hoje. - ele murmura - Agora vá dormir, Effie. E fique bem. - Haymitch fala com uma suavidade até então desconhecida, passa uma mão em meu braço e se levanta, levando consigo o seu copo de whisky.

Penso que ele vai se dirigir ao seu quarto, mas ele se dirige até a escada que leva ao terraço.

Não sei, por algum motivo eu ando sentindo vontade de estar perto dele. De implicar com ele. Das implicações dele comigo. E dos nossos momentos de trégua. Então, ao invés de ir até meu quarto, sigo o mesmo caminho de Haymitch.

Quando chego ao terraço, vejo ele debruçado sob o parapeito, com seu inseparável copo de whisky, observando as luzes da Capital. Ando silenciosamente até ele, e me debruço também no parapeito, ao seu lado.

- Oi. - Digo timidamente. Ele me olha com a testa franzida.

- Oi. Você não deveria estar dormindo? - ele pergunta.

- Estou sem sono. Você também, não é? - Ele balança a cabeça, afirmando. - Haymitch?

- Hm?

- Obrigada pelo abraço. - Ele dá um sorriso de canto como resposta.

E então um silêncio paira sobre nós enquanto observamos a noite iluminada e colorida da Capital.

Então sinto o olhar de Haymitch em mim. Mas continuo olhando para as luzes lá embaixo. Mas o olhar dele é como um imã, parece estar puxando o meu. Então eu acabo olhando em seus olhos cinzentos também. Ainda em silêncio, ambos sem dizerem nada.

Can't Remember To Forget You - HayffieOnde histórias criam vida. Descubra agora