Back To Me

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Enquanto sinto o líquido queimar dentro de mim, vou andando, abrindo espaço entre as pessoas, à procura de Haymitch, e, é claro, torcendo que ele esteja só e não esteja bêbado. Ou não tão bêbado, já que seria pedir demais, que Haymitch estivesse sóbrio.

E estou nervosa. Não é tããão nervosa, é apenas um frio na barriga. Mas isso não deixa de ser nervosismo. Ah, sem falar que indo atrás de Haymitch eu já estou, já o que eu vou fazer quando eu achá-lo, é outra coisa. E é mais difícil. Porque estou no meio de uma festa, tem música tocando, pessoas falando comigo, não consigo pensar claramente. E, quando não o acho no meio do monte de pessoas, resolvo procurar no jardim. Não consigo parar de pensar em como eu talvez fique parada com cara de idiota na frente dele, por não estar conseguindo pensar no que vou falar ou fazer. E já nem tento mais pensar nisso.

Até porque eu acabo de acha-lo. Bom, pelo menos ele está só. Não sei o que fazer.

Num impulso, caminho ao seu encontro. E fico cada vez mais próxima. Sem me importar com ninguém que talvez esteja vendo isso, envolvo sua nuca com minhas mãos e colo meus lábios nos seus. De início ele parece estar surpreso, mas muito rapidamente corresponde. Oh, como eu estava ansiando por isso.

O beijo é longo e eu aproveito cada segundo, só me separando dele quando me falta ar.

- Então quer dizer que mudou de idéia? - pergunta Haymitch.

- É, mudei. - Respondo ofegante. Não dou tempo para que ele responda nada. Puxo-o para mim pelo colarinho de sua camisa, o beijando novamente, sentindo-o me puxar pelo quadril, me aproximando ainda mais dele. - Haymitch... - murmuro aos beijos. - Haymitch, vamos sair daqui. - Peço. Quero ir pra algum lugar onde possamos ter mais liberdade.

Haymitch ri brevemente, e depois de fazer uma trilha de beijos em meu pescoço até minha orelha, sussura em meu ouvido:

- E pra onde você quer ir, hein? - Fico arrepiada. Mas paro pra pensar. O que eu estou pensando? Pra onde diabos eu quero ir, pra fazer exatamente o quê? Não podemos. Somos os adultos responsáveis pelos meninos, temos que acompanhá-los.

- É... não podemos sair daqui. - Concluo con certa decepção.Me afasto o suficiente para encarar seus olhos cinzentos - Que... droga. - Haymitch ri um pouco, e eu franzo a testa, sem entender. - O que foi? - Indago.

- Eu sabia... que você ia mudar de idéia mais cedo ou mais tarde. - Haymitch fala com tanta convicção que eu poderia achar que ele entrou em minha mente e vasculhou meus pensamentos.

-Ah, é? Como você tem tanta certeza disso, hein? - Pergunto ironicamente. E Haymicth ri, maldoso, como se soubesse meu pior segredo.

- Algum dia eu te digo, Effie... algum dia... - Ele diz misteriosamente e eu só não penso que ele invadiu minha mente e leu todos os meus pensamentos, porque isso é impossível.

- Ok, Haymitch. Ok. - Não sei o que fazer ou falar. Então eu me afasto dele. - Bem, vamos... uh... nós... somos os responsáveis por Katniss e Peeta, e tal, você sabe. Temos que ficar por perto. Vamos!?

- Effie, não. - O mentor fala, me fazendo parar de andar, e olhar para trás, para ver que ele nem saiu do lugar. - Eles são grandinhos, não precisam de babá. Podem sim, ficar soltos na festa. Deixe que eles aproveitem. - Ele fala calmamente, caminhando em minha direção. - E afinal de contas, - Haymitch continua falando quando pousa suas duas mãos em minha cintura, se aproximando ainda mais. - quem iria se dar conta que o mentor e a escolta sumiram, hein? - Quando ele termina, está tão próximo que eu posso sentir seu hálito alcoólico. Oh, eu poderia apenas levantar meu rosto e nossas bocas se encontrariam.

Penso em recusar a proposta implícita dele, mas ele tem razão. Que mal teria, não é? Eu estava com tanta vontade de Haymitch...

Deixo escapar um suspiro quando sinto seus lábios nos meus para um beijo.

~~*~~

Uma hora? É, talvez. Ou mais que isso. Não sei. Eu não tenho a mínima idéia de quanto tempo faz que eu estou aqui, sentada com Haymitch num banco, na parte mais escondida do jardim. Aqui é um lugar agradável, bem reservado, há um aroma de flores e vinho pairando por aqui, e além da luz da Lua - que já está indo embora para dar lugar ao Sol, já que posso ver o horizonte começando a ficar com uma coloração levemente mais clara-, é iluminado apenas pela tênue luz amarelada que está presente no jardim e consegue chegar fraca até aqui.

Sinto além dos beijos e leves mordidas que ele dá em meu pescoço, uma de suas mãos passeando em minha coxa, por baixo da saia de meu vestido, me arrepiando por completo, e até mais que isso. Oh, é tão bom. Eu só gostaria de sair daqui se fosse para um lugar onde pudéssemos passar dos beijos. Mas, infelizmente, já está na hora de chamar os garotos para voltarmos para o Centro dos Tributos, amanhã eles têm uma entrevista.

- Haymitch... - Minha voz sai num fio, como se fosse para me convencer ainda mais que estou fazendo isso de má vontade. - Haymitch. - Dessa vez, minha voz sai mais forte e o mentor se detém, se afastando o suficiente para me encarar.

- Eu sei. Vamos. - Nisso, ele já está de pé em minha frente, me estendendo a mão. - Hora de ir, Trinket, vamos!

- Ah, mas eu não queria ter que... - Haymitch não me deixa continuar a frase.

- Você sabe muito bem que vai ser melhor voltar. - Ele diz.

Então, eu entendo na hora. Quando estivermos de volta ao Centro dos Tributos, teremos a privacidade que eu tanto queria há umas horas atrás. Sem esperar nem mais um segundo, seguro a mão dele, e vamos andando por entre as flores do jardim. Durante o caminho, ele resmunga alguma coisa que eu entendo como "Effie Trinket me dando trabalho pra sair de uma festa, vê se pode!". E ele olha pra mim pelo canto do olho com uma expressão divertida. Eu apenas sorrio.

Não é necessário dizer que soltamos nossas mãos quando chegamos perto das pessoas que ainda estão na festa. Não são poucas. Ainda tem muita gente. E muita gente está embriagada e incoerente. Como um bando de Haymitchs. Falando em Haymitch, parece que ele está super empenhado em fingir estar emburrado como sempre. Sua expressão é de puro mal humor.

- Katniss! Peeta! - Chamo os garotos e percebo que ainda tem gente querendo os congratular. É o ministro Antonius, braço direito de Snow. - Ah, oh, com licença...

- Effie Trinket? - O ministro pergunta e eu confirmo. - Ah, é um prazer conhecê-la. - Ele diz depois de depositar um beijo em minha mão.

- Ah, o prazer é todo meu. - Sorrio. - Bem, o senhor vai ter que me desculpar porque eu vou ter que levá-los embora. Eles têm que descansar, ainda têm uma entrevista amanhã! Ou melhor, hoje, - Rio brevemente, pousando minhas mãos nos ombros de Katniss e Peeta - já que está amanhecendo.

- Oh, sim, sim. Não vou incomodá-los mais. - Ele diz, simpático. - Com licença. - Ele se distancia, até o perdermos de vista por entre as pessoas que ocupam o salão.

- Quanta ladainha... - resmunga Haymitch.

- Pensei que ele nunca fosse sair do pé da gente... - É a vez de Katniss resmungar.

- Chega de reclamar, vocês dois. - Digo em tom de repreensão. - Bem, agora vamos? Temos todos que descansar. Principalmente vocês.

Vamos todos em silêncio andando até o carro que nos espera à frente da mansão de Snow. Até que Haymitch põe uma mão sob meu ombro e discretamente se inclina até o meu ouvido, falando baixo o suficiente para que apenas eu ouça.

- Você sabe muito bem que nós dois não vamos descansar.

Can't Remember To Forget You - HayffieOnde histórias criam vida. Descubra agora