Capítulo 6
Coragem
Décimo Dia:
Era ridículo ver que o sol entrava facilmente pela janela dos dormitórios, não dando nem chances para aqueles que desejavam continuar dormindo. Na realidade as salas usadas como dormitórios eram simples salas de aula de outras classes que não participaram desse show de horrores. Enquanto nós ficamos confinados nesta semana infernal, as outras classes foram dispensadas para voltar somente na semana depois da investigação.
Não é preocupante? Digo, como eles têm tanta certeza que o assassino ou a testemunha está em nossa classe? Como eles podem ter absoluta certeza de que isso não é um grande mal-entendido?
Não... O assassino definitivamente está em nossa classe, afinal, eu também serei morto no final desta semana.
Desde anteontem, após sua discussão com Julia, Amós não apareceu mais na sala de aula. Tudo que percebi é que ele voltou para o dormitório masculino somente à noite para dormir. Ainda que eu estivesse genuinamente preocupado, não podia dizer nada, não enquanto ainda tiver de escolher confiar em somente um deles. Por que é que tem de ser assim? Por que é uma questão de oito ou oitenta?
O dia passado foi consideravelmente tranquilo. O evento máximo que tivemos foi uma pequena discussão básica entre Aleksandr e Evellyn. Não há a necessidade de qualquer análise do que aconteceu: A culpa era obviamente do Aleksandr, que passou dos limites mais uma vez.
Contrário ao que Amós pregou, Aleksandr não deixou de ser sincero e confiável em nenhum momento. Para dizer a verdade eu já sabia que isso iria ocorrer: Aleksandr sempre foi assim, independente do risco.
Por outro lado, eu sou muito mais instável. Não sabia em quem confiar, de quem desconfiar, para quem mentir, para quem não mentir. No final, eu não deixo de ser um covarde. Onde está a tão prometida coragem, hein?
Evellyn parecia estar na mesma situação que a minha. Ela não sabia se mentiria ou não. Enquanto as garotas com quem ela andava decidiram seguir os conselhos de Amós, Aleksandr fez o oposto, e isso a confundiu terrivelmente. Sua confusão, porém, não era pela situação estranha, mas sim porque ela confiava no Aleksandr o bastante para acreditar em suas ações incondicionalmente.
Como sempre ela é uma típica tsundere.
Ela só devia ser um pouco mais atenciosa com seu vizinho, certo? Eu moro logo ao lado! Como ela pode ser tão rude comigo todo dia? Um dia irei provar que ela nutre um profundo amor por mim.
Ah, ficção... Novamente plantando fantasias em mim.
Estaria me acostumando com a situação? Como posso dizer algo tão trivial como "Um dia"? Nem mesmo sei se sobreviverei até a próxima semana.
Levantei-me do saco de dormir e peguei meu uniforme. Parece que minha mãe só tinha me trazido o pijama, o que fazia deste o terceiro dia em que usava o mesmo uniforme e isso fazia eu me sentir um tanto quanto sujo. Depois de um banho, já vestido, fui em direção à sala de aula.
Normalmente eu não acordaria tão cedo. Estar atrasado na escola já tinha se tornado uma rotina para mim e, por isso, nunca me preocupei tanto com os horários. Exatamente por isso as boas olheiras que eu sempre tive pareciam ter aprofundado mais do que o normal. Nunca imaginei que minhas olheiras poderiam ficar mais fundas do que já eram. Hoje provei que estava errado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
A Borboleta na Tormenta
Science FictionA BORBOLETA NA TORMENTA História por MRN Revisão por Isuzu Tany Distribuição: My Light Novel - www.mylightnovel.com.br Sinopse: Isamu Fatou é um garoto assolado pelo tédio. Dias sempre repetitivos e uma vida completamente passiva criaram uma rotina...