Ennui

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Capítulo 13

Ennui

Luzes piscavam ao meu redor.

          Fractais apareciam e desapareciam como revelações. Tudo que permeava o meu campo de vista eram luzes e padrões coloridos.

          Eu estava de volta. De volta ao mais profundo lugar da minha consciência.

          A "sala caleidoscópio".

          A sala fractal.

          Eu voltei.

          — Eu... Eu morri? — perguntei ingenuamente. — Isso é o céu?

          — Você quer dizer, o pós-vida? — A voz familiar vinha detrás de mim.

          — Digo, talvez eu tenha ido pro inferno. As coisas nem sempre acabam como a gente espera, certo? É... Digo... Eu morri... Mas... — Não tinha certeza do que estava falando.

          Eu morri. Consigo me lembrar da dor e do sofrimento da minha morte. O problema é que... Senti como se isso não fosse uma novidade. Quero dizer, senti minha morte como qualquer morto deveria "senti-la". Mas, de alguma forma muito distorcida e maluca, senti um déjà vu com a minha própria morte.

          Como isso pode...

          Será que o fato de ter visto minha morte na visão criou algum tipo de confusão mental no pós-vida? Digo, é possível ter uma confusão mental no pós-vida?

          — Hmm... Imagino que deve ser bem possível ficar confuso no pós-vida. — O garoto falou novamente. Aquela voz não era somente familiar: Era ele. O alter-ego.

          Argh. Como ele fala! Estou num momento importante de reflexão aqui! Até quando eu fugia do detetive assassino ele não parava de ecoar na minha cabeça. Se bobear, metade do que aconteceu é por culpa dele. Como ele me respondeu tão prontamente se nem ao menos falei com ele?

          — Bem... Independente do momento de reflexão, se estamos dentro da sua mente, é bem óbvio que o que você pensa vai meio que ecoar por todo o lugar, não?

          Cale a boca.

          — Você não vai nem ao menos falar comigo?

          Não. Cale a boca.

          — Uau, ok, você está ainda mais antissocial. Não me impressiona que você tenha acabado de uma forma tão retardada.

          Eu não estou no clima pra isso agora.

          — Você não está morto, idiota. — Ele falou, finalmente dando as caras. Como sempre, uma perfeita cópia de mim mesmo.

          Oh, mas que maravilhosa surpresa!

          — Acho que você está bem feliz por saber das boas novas, mas quer fingir ser um cara "cool" que "já sabia que estava tudo bem". Claro! Só um idiota não perceberia que você não está morto de verdade, não? Ah, mas é verdade, você é um idiota!

          Isso não seria o mesmo que xingar a você mesmo?

          — Hmm... De uma certa forma... Talvez? Argh, sério, não tem como você parar com a voz ecoante? É irritante, sabia? Digo, eu sou o Fatou imaginário aqui, não?

          — O feitiço foi contra o feiticeiro. Você bem que merece. — Voltei a falar de forma normal. Torturá-lo mais seria insensível de minha parte. Posso ser chato comigo mesmo até certo ponto.

A Borboleta na TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora