Em um Beco Qualquer

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Capítulo 11

Em um Beco Qualquer

Julia estava em pé próxima a mim. O cano de ferro repartido ao meio em sua mão era o bastante para fazer com que Hauser a considerasse perigosa.

          — Julia Brontë. — Hauser proferiu o nome com desdém.

          Nenhuma palavra saiu da boca de Julia além daquelas que ela falou ao aparecer. Ela... Ela realmente veio me salvar? Mesmo depois daquilo que fiz para ela? Mesmo depois de eu recusá-la, ela ainda veio me ajudar?

          Não mereço nada disso.

          — Pensei que você tinha fugido dela, Fatou. — Hauser olhou para mim com uma expressão de decepção.

          Abri minha boca na tentativa de falar algo, mas minha voz não saia. Eu ainda estava muito surpreso para poder formar qualquer tipo de palavra.

          — Ele ainda vai ter que treinar muito pra poder me deixar pra trás em uma corrida. — Julia falou com um sorriso nervoso.

          — Você realmente deveria fazer mais exercícios físicos, Fatou. Não conseguir fugir de alguém depois de horas correndo é puro sedentarismo. — Hauser falou zombativo enquanto se punha entre mim e Julia.

          Ei, ei. Agora não é a hora para zombar de mim, certo? Estamos em uma situação de vida ou morte. Entretanto, com essa quebra de clima, Julia fez minha esperança se renovar.

          — Ah... Agora que você chegou, as coisas vão ficar um pouco complicadas. Não importa o que aconteça aqui, um de nós com toda certeza vai acabar morrendo. Se não for pedir muito, gostaria que você ao menos me explicasse o que realmente tem acontecido. Diga-se de passagem, perdi um bom tempo falando para o garoto algumas verdades. Agora sou eu que quero as respostas. — Hauser falou enquanto abaixava a faca — Julia Brontë, o que você fez para causar a atração ao destino?

          Julia não respondeu.

          — Vamos lá, garota. Nós já criamos diversas teorias, mas ainda não entendemos como é possível um garoto antissocial como ele ser tão influente no mundo. A maior parte das pessoas que matamos são políticos, celebridades, populares, mas um garoto sem amigos? Como ele pode influenciar o mundo a ponto de causar a morte de milhares de pessoas? Esse número é muito maior do que que qualquer um poderia imaginar.

          Julia continuou sem responder nada. Dessa vez, uma expressão nasceu no rosto dela, uma expressão que fez eu perceber a gravidade da situação:

          Ela não tinha a menor ideia do que ele estava falando.

           — Existe algo que multiplicou o número de mortes que ele causaria, algo que fez o destino valorizá-lo demasiadamente. Afinal, por que você se importa tanto com ele? O que ele fez pra você? Qual foi a influência dele na sua vida?

          Embora tudo que me importava no momento era sair dali com vida, uma enorme curiosidade cresceu dentro de mim. O que Hauser perguntava tinha sentido. Minha influência no mundo era mínima, é claro que minha mera existência poderia causar a morte de várias pessoas, mas... Milhares? Dezenas de milhares? Se fosse tão fácil para pessoas como eu influenciarem o mundo, a humanidade já teria desaparecido, certo?

          ...

          Errado.

          ...

A Borboleta na TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora