Epílogo

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Epílogo

É incrível, não é? Desde o início, eu nunca me considerei uma pessoa afortunada. Meu pai também morreu quando eu era criança e meu mundo também parou quando eu percebi que o mundo dos outros continuava girando. Nossas diferenças nas linhas do tempo são minúsculas.

Fatou, tá ouvindo?

          Levantei a cabeça, sonolento. A voz do Aleksandr não é a melhor coisa para se ouvir ao acordar.

          — Sim, Aleksandr, estou.

          — Está nada! Se você tivesse me ouvido, estaria eufórico com essa maravilhosa notícia!

          Apertei meu nariz para parar a irritação que sentia em minhas narinas. Um ataque de rinite em um dia daqueles era a pior coisa que poderia acontecer.

          — Sim, novos alunos... Muito legal, cara — falei, tentando acalmar o coração agitado do jovem garoto.

          — Legal? Tem uma intercambista inglesa vindo pra nossa classe! Inglesa!

          Ah, Aleksandr, você nunca muda. Não mesmo. Não pude deixar de esboçar um sorriso. Ouvir aquilo novamente parecia me deixar em paz, mesmo depois de tudo que havia acontecido.

          — Já sabe onde ela vai ficar?

          — Não, mas espero que seja perto de mim. Se eu puder ir andando com ela todas as manhãs para a escola, minhas chances serão multiplicadas. — Aleksandr falou com a mente em algum outro plano de consciência. Ele parecia imaginar o paraíso.

          — Pena que ela vai estar na casa da Evellyn, não? — falei com um sorriso provocativo.

          Aleksandr se levantou da cadeira e apontou na minha direção.

          — Então é assim? Você quer ficar com todas elas, não é mesmo? Acha que é o quê? O harém do Fatou? Eu não vou deixar isso virar o harém do Fatou. Não mesmo.

          Suspirei.

          — Ela vai morar na casa da Evellyn. Isso nos torna vizinhos, não amantes — falei enquanto olhava em direção da lousa.

          Eu não podia conter o nervosismo. Ainda que eu não tenha, de fato, vivido nada daquilo. Não havia como não estar nervoso.

Como nós somos parecidos, não? Somos totalmente iguais e, mesmo assim, eu consegui me satisfazer com este mundo.

Aquele era o primeiro dia.

          O meu primeiro dia.

          O nosso primeiro dia.

          Eu sabia exatamente de toda a tempestade que aconteceria nas próximas duas semanas. Eu sabia exatamente de todas as mazelas e sofrimentos que viveríamos.

          E... ainda assim...

          Eu estava ansioso. Não conseguia evitar o frio na barriga.

O caos do universo demonstra que as condições iniciais importam muito mais do que qualquer outra condição.

O divisor de águas.

O bater de asas.

A Borboleta na TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora