Capítulo 1

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Knoxville, Tennessee, maio de 1994

A MULTIDÃO ERA enorme, mas ele se destacava. Era mais alto que a maioria dos espectadores e estava muito elegante em seu caro terno cinza de grife. Tinha um rosto fino, com uma leve cicatriz, grandes olhos amendoados e cílios curtos. A boca era larga e de lábios finos, o queixo anguloso, firme. O cabelo grosso, muito negro, era preso num rabo de cavalo que caía pelas costas e descia quase à altura da cintura. Muitos outros homens na plateia usavam o cabelo daquela forma. Mas eles eram brancos. Cortez era comanche. Estava em seu sangue usar um corte de cabelo pouco convencional. Nele, o penteado parecia sensual, selvagem e mesmo um tanto ameaçador.

Outro homem de rabo de cavalo, um ruivo com um princípio de calva e óculos de aros grossos, sorriu e fez o sinal da vitória com os dedos para ele. Cortez deu de ombros, sem parecer se impressionar, e voltou a atenção para a cerimônia de formatura. Ele estava ali contra a própria vontade e a última coisa que desejava era ser amigável. Se houvesse seguido seus instintos, ainda estaria em Washington, estudando uma pilha de processos que deveria levar ao tribunal federal.

O reitor da universidade anunciava os nomes dos graduandos. Chegou à letra "k" e, de acordo com o programa, Phoebe Margaret Keller seria a segunda a ser chamada a partir de agora.

Era um belo dia de primavera na University of Tennessee, em Knoxville, razão por que a cerimônia fora organizada ao ar livre. Phoebe podia ser reconhecida pela longa trança loura, platinada, que descia pelas costas de sua toga preta ao receber o diploma com uma das mãos e, com a outra, cumprimentar o reitor. Ela atravessou o pódio e girou o seu capelo, trocando a borla de lado. De onde estava, Cortez podia ver seu sorriso.

Ele conhecera Phoebe um ano antes, enquanto investigava alguma sabotagem ecológica em Charleston, Carolina do Sul. Phoebe, uma graduanda em antropologia, o ajudara a encontrar um local utilizado para enterrar lixo tóxico. Cortez a achara mais do que atraente, apesar da aparência um tanto ou quanto masculina, mas o tempo corrido e as pressões do trabalho impediram que se conhecessem melhor. Ele prometera vir a sua formatura e ali estava. Mas a diferença de idade era muito grande, porque Cortez estava com 36 anos e Phoebe tinha 23. Conhecia a tia de Phoebe, Derrie, pois trabalhara com ela durante o caso Kane Lombard. Se precisasse de um motivo para aparecer na formatura, podia alegar que Phoebe era filha do falecido irmão de Derrie e Cortez era quase um amigo da família.

A voz do reitor continuava, monótona, e formando após formando recebia o diploma. Rapidamente, a movimentação terminou e gritos de alegria e parabéns subiram no limpo ar do Tennessee.

Sem chamar mais atenção para si quando a multidão se dirigiu aos recém-formados, Cortez permaneceu em seu lugar, observando. Seus olhos negros se apertaram com um pensamento. Phoebe não era do tipo que gostava de multidões. Como o próprio Cortez, era uma solitária. Se fosse procurar por sua tia Derrie, faria isso afastada das demais pessoas. Então ele começou a procurar por rotas alternativas do estádio até o

estacionamento. Minutos depois a encontrou, relaxando nos arredores da construção, quase perdendo o equilíbrio, atrapalhada com a toga muito longa, resmungando para si mesma sobre como as pessoas não conseguiam tirar as medidas certas para uma toga.

- Ainda fala sozinha, pelo que vejo - brincou Cortez, encostando-se à parede com os braços cruzados sobre o peito.

Phoebe olhou para cima e o viu. Sem que pudesse evitar, uma expressão de satisfação cruzou seu rosto, tão intensa que o deixou sem fôlego. Os olhos azul-claros cintilaram e a boca, sem batom, se abriu para inalar o ar rapidamente.

- Cortez! - exclamou.

Ela parecia estar prestes a correr e pular em seus braços ao menor convite e Cortez sorriu, abrindo-os gentilmente.

Antes do sol nascerOnde histórias criam vida. Descubra agora