Capítulo IV

116 15 2
                                    


Isabelle sabia que era bonita. Não havia quem não lhe falasse isso, não existia demno ou humano que não ficasse a seus pés, rastejando para conseguir um pouco de atenção, algum sorriso, um olhar mais provocante. Qualquer homem faria de tudo somente para passar a noite com ela, mesmo sendo ainda tão nova. Estava com exatamente doze anos, mas mesmo assim, já tinha um corpo com curvas certas e maduras. Não aparentava a idade que tinha, parecia quase uma mulher feita.

Ela sorriu, divagando em seus pensamentos enquanto suas escravas penteavam suas longas melenas sedosas e lisas. Duas humanas, de aparência calma e gentil, cuidavam de sua dona, tomando o máximo cuidado ao desembaraçar poucos fios rebeldes.

— Mestra, a senhora tem o cabelo tão bonito... — falou Ana, uma escrava que aparentava ter quatorze anos.

— Sim, e macio... — disse Júlia, a escrava mais nova, que parecia ter nove. — Gosto de fazer carinho nele...

Isabelle sorriu para elas um tanto ternamente. Não era do tipo de demno que amava humanos, mas gostava de suas escravas particulares. Eram sempre bondosas e doces com ela, sempre elogiando-a e cuidando para que ela sempre continuasse linda e perfeita perante os olhos dos outros.

— Obrigada — agradeceu, ainda sorrindo. — Poderiam me fazer uma trança? — Ela sabia que não precisava pedir, era só ordenar, mas não gostava de quebrar o clima harmonioso que havia entre elas. — O Brunott me ligou agora há pouco e me chamou para sair. Quero estar linda, vocês sabem, para o caso de encontrar o meu Seth. Ai, ai... — Suspirou apaixonada enquanto colocava as mãos nas bochechas e rolava os olhos. — Esse vilarejo é um ovo, é claro que o encontrarei por aí.

As escravas se entreolharam. Não entendiam a sua ama, ela tinha os homens mais lindos e poderosos aos seus pés, mas escolhera logo o único que não dava a mínima para ela. As duas tinham teorias de que Isabelle só poderia ser aquele tipo de mulher que esnoba todos que a amam e só consegue amar quem a despreza. Só assim para explicar aquela estranha e assombrosa paixão que ela possuía por um demno que só faltava pisar nela.

— Claro, ama — falou a mais nova.

— Obrigada — Isabelle agradeceu, voltando-se para o espelho e avaliando a sua aparência.

Isabelle era uma adolescente alta, chegava a 1.73cm, mas já demonstrava que iria parar de crescer. Ainda bem, ela agradecia. A ideia de ficar mais alta que os meninos de seu vilarejo não lhe agradava nem um pouco. O corpo era esguio e seus seios eram médios, nada exagerado. Seu cabelo tinha uma cor púrpura e terminava pelo meio das costas. Os olhos tinham a mesma cor dos cabelos, mas com mais brilho, debochados e incrivelmente sinceros, como se fuzilassem as pessoas e desnudassem seus defeitos mais horrendos. Era uma menina esnobe, disso ninguém tinha dúvidas, até mesmo ela se autodenominava assim. A seu ver, aquilo não era motivo de vergonha, muito pelo contrário. Se era assim, era porque tinha motivos. Era linda, rica e popular. Precisava ser humilde? Não, não precisava.

— Isabelle! — Ela ouviu duas vozes lá embaixo. Rolou os olhos. Por que aqueles dois tinham que ser tão pontuais?

— Eles já chegaram, ama — Júlia murmurou calmamente.

— É, eu ouvi — grunhiu em resposta, um tanto impaciente. As suas servas ainda estavam reunindo mechas de cabelo para começar a trança, o que significava claramente que não estava com o penteado feito.

— Mestra, não conseguimos terminar a trança a tempo, nos perdoe... — Ana baixou a cabeça, em um claro sinal de culpa, esperando um castigo.

— Não se preocupe — respondeu Isabelle enquanto se levantava e olhava-se no espelho. — Não faz mal. Eu continuo bonita do mesmo jeito — disse, lançando um beijo para o espelho. — E hoje eu estou me sentindo mais bela que nos outros dias, sinto como se pudesse seduzir o mundo inteiro!

Oposição - Série Stellium [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora