Alice segurava a mão de Lilith com força. A irmã menor tentava entender o que estava acontecendo, o motivo de todos saírem de suas casas e irem para as ruas. O clima não era festivo, não havia berros de alegria ou gente pulando para tudo quanto é lado como acontecia quando os cidadãos resolviam ganhar a rua em massa. Os olhares das pessoas estavam aflitos, agoniados.
Com medo.
Mas medo de quê, perguntava-se Lilith.
Ela não conseguia enxergar o que todos enxergavam, pois media pouco menos de um metro e dez, sendo impossível ver o que deixava todos os adultos preocupados. Olhou em volta, tentando encontrar crianças da sua idade em vez de pernas, mas não encontrava ninguém. Era ela sozinha no meio de gente grande. Mordeu o lábio, aflita. Não era para ela estar ali. As crianças talvez tivessem que ficar em casa.
Então por qual motivo Alice a trouxera para aquela confusão?
— Alice! — Apertou a mão da irmã com o máximo de força que tinha, que era bem pouca. — Por que eu sou a única criança daqui?
Mas Alice não respondia. Parecia nem sequer ouvi-la. Estava atenta demais, concentrada em alguma coisa que seus olhos de criança não conseguiam ver. Franziu as sobrancelhas, ficando nervosa com a atitude da mais velha. Alice nunca a ignorava. Então, por que ela resolvera começar a fazer isso agora? Justo quando ela estava um poço de nervosismo por conta das pessoas que lhe passavam aquela energia tensa? Iria tentar de novo, faria um escândalo se fosse preciso. Não que gostasse de agir daquela maneira, mas a atitude de Alice estava deixando-a louca.
— Alice! Alice! Alice! — gritava Lilith, balançando a mão dela, esperneando, fazendo um grande alvoroço. E ela mal se movia. — Por favor, irmã, olha pra mim! — Tentava segurar as lágrimas de pânico que ameaçavam escapar. — Olha pra mim...
E então, como se tivesse se livrado de um transe maldito, Alice piscou os olhos, balançou a cabeça e olhou para baixo, parecendo que só agora havia percebido Lilith ali. Seus olhos estavam desfocados, estava tão pálida que parecia que seu espírito não estava no corpo. Agia em câmera lenta e não olhava diretamente para a irmã. Lilith percebeu que até mesmo o seu aperto de mão se tornara frio e sem força alguma.
Uma boneca sem vida.
Recuou um passo e, quando foi se arriscar no segundo, Alice segurou a sua mão e a puxou para perto de si. Sua força havia se amplificado, como se sua mão não parecesse de gelatina há segundos.
— Você precisa ver o que está acontecendo. — A voz saíra vazia e fria, fazendo Lilith se arrepiar. Aquela não era sua irmã, ela não tinha aquela voz sem humanidade alguma.
Alice parecia apenas uma casca agora, uma casca sem alma.
Sem esperar pela resposta da menor, a mais velha a segurou pelos braços. Com sua nova força extraordinária, levou-a até seus ombros e a sentou ali, fazendo-a enxergar o que todos viam.
E o que ela viu a fez querer ter continuado no chão.
Lá estavam Eles, exatamente do jeito que nunca ninguém havia contado a ela e tinha descoberto pelo péssimo hábito de ouvir por detrás da porta a conversa dos adultos. Agora ela havia entendido o porquê de nunca ninguém lhe contar sobre Eles.
Eram belíssimos. Possuíam uma beleza avassaladora que chegava a lhe arder a vista se ficasse olhando por muito tempo. Sim, não tinha dúvida quanto à identidade daquele pequeno grupo de pessoas que estavam em cima de um palanque de mármore, criado exclusivamente para Eles.
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Oposição - Série Stellium [DEGUSTAÇÃO]
FantasyEm uma dimensão chamada Constelação, são os supremos Deuses do Inferno que controlam e ditam as regras da sociedade, amedrontando os humanos e deixando-os dóceis perante seus poderes, nessa, e em todas as outras dimensões que existem pelo Universo...