Capítulo VII

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Andavam tranquilamente pelas ruas de terra do vilarejo em que viviam.

Observavam as grandiosas casas de madeira, os muros de pedra que as separavam, as carroças com humanos no lugar de cavalos, demnos andando apressados, escravos indo ao armazém para seus donos... Um dia comum em um vilarejo de demnos de alta classe como aquele. Iam lado a lado, cumprimentando vez ou outra algum conhecido da família ou demno mais simpático que gostava de dar "bom dia" para crianças tão adoráveis quanto os três. Era assim que as pessoas os enxergavam, embora fossem introspectivos, na maioria do tempo, ou estourados, isso mais no caso de Collet, que se abalava com as situações bem mais facilmente que Brunott. Isabelle era o contrário: gostava de cumprimentar e mostrar a todos que, além de ser uma garota linda, ainda era bem educada e simpática com os mais velhos.

O dia estava fresco, mesmo o sol expandindo seus raios com toda a força pelo céu, mas parecia que a quentura não atingia os transeuntes. Algum vento aparecia vez ou outra, mexendo com os cabelos e com as saias de algumas mulheres que passavam pelas ruas. Tanto o balançar das roupas de humanas quanto das mulheres demnos mexiam com os hormônios daqueles dois rapazes, que estavam na idade de começar a sentir latejares esquisitos no meio das pernas e uma vontade louca de se aliviar, e não era de xixi. Doze anos de idade parecia uma idade inocente, mas só mesmo sendo um garoto para entender que não era bem assim. Era naquela época que tudo começava a aflorar, desde a forma de encarar o sexo oposto até o corpo. Collet e Brunott ainda eram mirradinhos e baixos, como qualquer criança de sua idade, mas o corpo já começava a mostrar forma, ganhar tamanho e a voz a se transformar.

O engraçado era que o corpo dos dois estava se modificando ao mesmo tempo e na mesma velocidade, como se levando a sério demais o fato de serem gêmeos idênticos. Tinham que ser parecidos em tudo, até mesmo no tempo de se desenvolverem, o que eles achavam o máximo. Collet e Brunott não faziam o tipo de gêmeos univitelinos que odiavam ser parecidos e tentavam ao máximo tentar parecer diferentes, muito pelo contrário. Na verdade, Brunott só havia deixado o cabelo crescer a pedido de sua mãe, que não conseguia identificar quem era quem. Se fosse por ele, ficava com o cabelo parecido com o do irmão para sempre.

— Ai, ai, é meio irritante sair com vocês dois, sabia? — Isabelle comentou, rolando os olhos. — Não podem ver um rabo-de-saia que já ficam todos deslumbrados, nossa...

Os dois baixaram os olhos, constrangidos e corados, Collet mais que Brunott. Não queria que a garota tivesse uma visão errada dele, que pensasse que era um pervertido que saía por aí olhando para tudo quanto era mulher. Precisava se comportar, parecer um homem direito. Só assim para — talvez — conseguir chamar atenção do seu amor platônico. Do jeito que estava, só estava piorando a sua imagem.

Isabelle, sem saber dos conflitos internos de Collet, somente ria baixinho. Achava engraçado ver dois homens constrangidos por causa de um comentário daqueles. Brunott e Collet eram mesmo muito reservados.

— Então... O que faremos? — perguntou para quebrar aquele clima estranho entre os três.

— Não sei, o que você quer fazer? — Brunott dobrou os braços atrás da nuca, indiferente. Para ele, tanto fazia.

— Olha, eu não sei vocês, mas eu tô morrendo de fome! — Lambeu os lábios exageradamente. — Vamos caçar? Sempre tem uns humanos vagando pela floresta...

Brunott deu de ombros.

— Pra mim tanto faz. Já tomei sangue hoje antes de sair de casa, não estou com fome. — Voltou-se para o irmão. — E você, Collet?

Collet engoliu em seco. Claro que ele iria concordar, como poderia dizer não a Isabelle?

— Por mim, tudo bem. — Sorriu. — Eu não bebi nada mais cedo, estou com um pouco de fome, sim. — E olhou de modo assassino para Brunott. Se ele abrisse a boca e comentasse que ele já havia tomado sangue naquele dia, iria matá-lo quando estivessem em casa. Mas, para a sua felicidade, Brunott nada disse. Ficara quieto e o acobertara, como qualquer bom irmão faria.

Oposição - Série Stellium [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora