Capítulo IX

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Sete anos depois...

Lilith e Alice observavam a médica que lia atentamente os papéis em suas mãos, deixando as duas mais nervosas a cada minuto que se passava. A médica, uma mulher jovem e de cabelos claramente alisados, tinha feições sérias e estudava bem os exames que estavam em suas mãos.

Depois de algum tempo, a mulher levantou o olhar, tirou os óculos e os limpou com a barra de seu jaleco branco. Sua testa estava franzida e o seu olhar bastante cansado.

— Não há dúvidas, senhorita Sizígia. O motivo de sua menstruação não ter ocorrido até hoje é porque a senhorita não possui o útero e os ovários.

Lilith baixou a cabeça, encarando as coxas desnudas e levemente arrepiadas pelo frio que o ar condicionado deixava no consultório. Alice a observou, vendo os seus ombros encolhidos e o olhar perdido da irmã menor. Virou-se para a médica e, com o olhar mais sério que ela conseguia fazer, perguntou:

— Não entendi... Poderia ser mais clara, por favor? — Não podia ser o que estava pensando, simplesmente não podia.

A médica, sem nem piscar, respondeu na mesma hora, os olhos presos na outra garota.

— A sua irmã é estéril. — Fora curta e grossa desta vez.

A loira já tinha entendido antes, mas quando ouviu com todas as letras a sua condição, foi como se uma bomba tivesse explodido naquela sala. Não ouvia mais nada, sua cabeça emitia um zumbido estranho, deixando-a completamente alheia ao mundo. Olhou a médica, mas só percebia que ela mexia os lábios enquanto conversava com Alice algum assunto que ela não fazia a mínima questão de saber. De que adiantava, afinal? Não mudaria o fato de que ela não poderia nunca engravidar. Não poderia gerar uma vida, um filho. Jamais poderia ser uma mulher que constrói uma família. Era um dos seus sonhos de infância, engravidar. Muitos a julgavam e a discriminavam naquele mundo, mas tinha certeza de que seus filhos não fariam isso. Seus filhos a amariam do jeito que ela era, sem olhar para os seus olhos ou cabelo. Era assim as relações maternais, amor incondicional. Não existia nada que conseguisse derrubar esse amor, a grande prova disso era sua mãe amá-la mesmo quando o mundo inteiro lhe dera as costas.

Mas, infelizmente, seu sonho lhe fora arrancado antes mesmo de nascer.
Enquanto Lilith divagava, Alice e a médica continuavam conversando.

— Será que pode ter alguma influência deste remédio aqui? — Alice tirou o vidro cheio de pequenos comprimidos vermelhos do bolso da jaqueta. — Ela os toma desde os sete anos de idade. A psicóloga que receitou.

A mulher estendeu a mão para ver o objeto mais de perto. Quando o pegou, balançou-o no ar, vendo as bolinhas coloridas pularem. Colocou o objeto na mesa e Alice o guardou de volta no bolso.

— Não, não. Esses remédios em nada influenciaram a ausência de útero e ovários. Creio que essa esterilidade faz parte do "pacote" bizarro que ela traz consigo — disse, pela primeira vez a voz deixando de ser polida e transformando-se em maldosa. — Só o fato de ela ter esse corpo com curvas, umidificação normal no órgão sexual e vários outros fatores, mostra cada vez mais o quanto essa garota é estranha.

Alice ficou paralisada na cadeira, sem ao menos piscar. A boca abriu em uma pequena fresta, mostrando quão perplexa ela estava com a declaração da médica. Era impressão sua ou a mulher estava querendo culpar a aparência da sua irmã? Lilith fora trazida de volta à realidade com aquela exclamação. Seus olhos se arregalaram e ela só conseguiu apertar o pano da saia com força. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo, não em um consultório médico, vindo de uma profissional! A doutora rolou os olhos e juntou impacientemente os papéis dos exames em sua mesa.

Oposição - Série Stellium [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora