Há quanto tempo estou aqui? Um dia, três... semanas... Não, acho que anos.
Não sei dizer. Passo a mão pelo rosto e sinto minha barba. Meus cabelos estão grossos e meu cheiro não é um dos melhores. Lá fora o vento é forte e escuto o rangido do concreto reclamando. Alguns vidros caem.
Pássaros me observam curiosos. Acabei me acostumando a ser o centro das atenções durante, o que? Meses? Começo a sentir os problemas da solidão e minha mente me engana. Quero abrir minha mochila e pegar meu caderno de anotações, mas minhas mãos não obedecem. Volto a dormir.
Acordo algumas horas (ou foram minutos?) com um forte estrondo. Fico em pé e me encosto na parede em posição de defesa. Arma em punho, mas foi apenas um trovão. Quero sorrir de meu medo, mas não consigo.
Minha face parece congelada. Minhas mãos passam novamente pelo rosto e me lembro de algo: não lembro mais de como é meu rosto.
-----------------------------
Caminho por uma trilha deixada por alguns animais. Mochila nas costas, boné na cabeça e o facão abrindo e cortando alguns pedaços de trepadeiras. Não sei bem onde estou. Pelos prédios dos dois lados e o grande percurso que tenho a minha frente, isto deve ter sido uma avenida. Tudo mudou. Não solto um único ruído há muito tempo. Olho para meu relógio de pulso com energia solar para saber as horas. Não sei porque me preocupo com o tempo. Isto é o que mais tenho na vida desde... desde quando? Aí me lembro, devo me preocupar com o tempo por causa da noite. Sim, a noite é perigosa. Ela traz ruídos e... o que?
Olho novamente para os lados. Parece que já passei por aqui, ou fiquei parado? Às vezes isso me acontece, fico sonhando acordado. Acho que estou me movimentando, mas na verdade estou parado.
Tem horas que não sei mais se estou acordado ou em um pesadelo. Como agora. Novamente fiquei divagando e meus pés não obedeceram. Esqueço muito fácil das coisas...
Que horas são agora? Seria interessante ter um relógio. Olho para a frente e... não deveriam existir trepadeiras? Para onde elas foram?
Observo os tambores jogados pela rua e alguns carros abandonados. Janelas com fantasmas que me olham. Meu rosto está molhado. Não de suor ou de gotas de chuva. Mas sim de lágrimas.
Deus, estou ficando louco! Caminho por ruas desertas como um sonâmbulo. Quero colocar o revólver em minha boca e dar um fim a isto tudo. Mas... Deus, como minha vida tem sido "mas". E fico com perguntas sem respostas "E se houver alguém aí em algum lugar?"
Caio de joelhos e percebo que estou acordado. Muito bem acordado! São quase 17 horas. O sol irá se por dentro de uma hora. Sinto a umidade em meus joelhos da chuva que caiu. Os pássaros começam a procurar abrigos. Um latido ao longe me traz de volta. Os cães estão me farejando.
Antes animais tão dóceis e amigo fiel do homem, hoje meus maiores inimigos. Estou perto de um banco. Caminho rapidamente até ele e jogo na entrada desinfetante para enganar meus caçadores. Procuro por algo para selar a porta, mas antes dou uma boa olhada para não cair em uma armadilha.
Droga! Passei muito tempo sonhando acordado lá fora e me esqueci do tempo. Um único erro pode custar minha vida! Por sorte um banco nunca foi um lugar agradável para os animais. Nada de comida e água. Apenas dinheiro de papel e moedas. Para eles tudo imprestável, mas para mim uma fonte de calor.
Lacro a porta e dou sorte que as janelas são altas e com grades. Algumas enferrujadas. Mesmo assim impedirá a entrada dos cães, gatos e pássaros.
Olho pelo chão e percebo que nenhum roedor também andou brincando por aqui. Vou até o fundo e vejo que o cofre está aberto. Jogo minha mochila no chão e acendo minha lanterna. Graças a tecnologia, tudo é de energia solar. Acendo um pequeno fogo para manter o local quente e não fazer tanta fumaça.
E mesmo que faça, ela sairá por aquela janela e os animais odeiam isso. Este banco é térreo, a única entrada e saída é por onde entrei. Poderei descansar por pelo menos esta noite. Amanhã, bem, amanhã é amanhã e como toda manhã, apenas um outro dia.
YOU ARE READING
O Mundo QUASE Sem Ninguém
General FictionE finalmente acordei. Alguns desejos tornam-se reais. E agora? O que posso dizer: bem vindo ao MEU mundo. Como sobreviver em um Mundo sem Ninguém? Um lugar onde aparentemente (assim prefiro pensar, ou não?), sou o último ser humano no mundo. Sem co...