Angústia

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Sua pele é suave e quente. Sinto seus lábios. Nossas respirações são compassadas assim como nosso desejo. Digo palavras sem sentido enquanto seus dedos arranham minhas costas.

Desejo.

Acordo molhado. Não sei se de suor ou da chuva. Nem ao menos me lembro de como cheguei até este lago. Coloco o relógio em meus ouvidos e escuto o tique taque.

Este é o único som de uma época passada. Tento me levantar e me lembro do sonho. Oh Deus! Como isto pode me assombrar? Como doces lembranças um dia podem se tornar tão torturantes.

Desejo chorar e deixo o desespero tomar conta. Enquanto tiver olhos, deixarei que as lágrimas escorram.

Escuto os gemidos que saem de meus lábios, a dor angustiante do meu peito. Sim, estou vivo!

Tento dizer alguma coisa, mas as palavras não saem. Faz tanto tempo assim que falei pela última vez? E por que não me lembro de nada do que aconteceu?

Hora de levantar. O céu está aberto e sem nuvens. Já são quase duas da tarde. Procuro o que comer.

Não encontro frutas em lugar nenhum. Assim como o arroz e tantas outras "coisas" que plantamos, algumas frutas se extinguiram sem o cuidado humano. Elas foram durante séculos criadas e cuidadas para que não fossem vitimas da natureza. A evolução escolhida pelos humanos.

E agora sem nossos cuidados, elas se foram. Olho para um pombo e acho ele tão fora deste mundo. Algo está estranho. Não sei... por que não sei o que se passa?

Por que tantas perguntas e tantos não sei? Por que converso tanto comigo?

Começo a rir. Ela sai do peito e invade cada célula do meu corpo. Escuto o som da gargalhada que toma conta de mim. Ela é selvagem e louca. Não paro de rir. Me ajoelho e o pombo foge.

Isto, fuja ser miserável. Deus, novamente DEUS! O que me tornei? O culpo senhor por isto tudo! Isto é o inferno? É para cá que me mandou depois de tudo? Sei que não. Meu relógio diz que não, minha fome diz que não. E tudo diz que sim!

Meu inferno de Dante! Te odeio Deus! Com todas minhas forças!

Então escuto algo nas minhas costas. Pego minha arma e a faca. Estou de prontidão. Oro baixo a Deus por seu perdão e peço que me ajude. Minhas mãos ficam frias e sinto o sangue sendo jogado para as pernas. O medo ativa o necessário para a sobrevivência: correr.

Fujo como um louco sem rumo. Caio entre raízes, minha roupa se rasga, mas devo correr. Correr para longe e fugir. Sim, fugir!

Fugir de tudo, fugir de mim e dos fantasmas de meu passado.

Odeio sentir. Não me faça esquecer o que senti meu Deus.

O Mundo QUASE Sem NinguémWhere stories live. Discover now