Devaneios

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Acordo com o barulho da chuva. Sinto o vento entrar pela janela. Nenhum som, apenas a água que escorre...

– Oi. E então, já se decidiu se irá fazer isto?

Olho para a Denise e fico pensando em cada palavra que irei dizer. E a única que sai é – Sim.

Vejo em seus olhos a decepção. Quero tentar explicar, mas ela conhece mais do que ninguém meus motivos.

– Fico triste, você sabe.

Sim, eu sei. Apenas nos olhamos e sentamos no parque. É assim entre nós. Sempre foi. Somos mais do que simplesmente amigos.

Sempre moramos em cidades separadas, vidas separadas, tudo em nossa vida nunca foi em conjunto e mesmo assim, temos uma vida como amigos, irmãos e amantes. Ela encosta sua cabeça em meu ombro e ficamos em silêncio.

– Terei saudades de você seu besta.

Vou me virar, mas ela me segura mais forte. Ela está chorando e não quer que eu veja. Apenas a abraço e sinto uma lágrima escorrer. Não digo nada.

Os dias e noites passam rápido. Já faz quase 4 meses desde que me despedi da Denise. Foram tantas despedidas. Marcos, Ana, Dri, Sandra... sorrisos, abraços, lágrimas e mais sorrisos. No começo recebia alguns e-mails que com o tempo foram se tornando escassos. Hoje, praticamente não existem mais.

E não apenas porque o mundo continua e eu não, mas também porque minha vida agora são os testes de saúde, mentais, físicos e mais e mais testes. A cada dia que passa, mais perto estou de minha viagem a Marte. O primeiro e único a ir a bordo da nave.

10 Dias para embarcar

Aqui estou. Uma festa surpresa. Para mim nada de bebidas. Olho para todos os meus amigos. Sorrisos forçados, algumas piadas velhas. Ninguém quer falar a respeito que posso morrer. A viagem é perigosa em todos os sentidos. Não me importo com isso. Apenas continuo a olhar e desejar que ela estivesse aqui. Mas é impossível, eu sei. A vida dela tomou outro rumo, não por minha escolha, mas pelo dela.

Estou abordo agora... um clarão... e acordo. Era apenas um relâmpago seguido de um trovão. Quanto tempo dormi?

Meu estômago reclama e pego uma fruta. Nunca imaginei que as coisas seriam assim tão difíceis. E não sei por que pensei isso. Não me lembro de muita coisa desde o embarque. Nem ao menos porque estou aqui e ninguém mais está.

Pela centésima vez olho para o relógio e o coloco no meu ouvido. Escuto o barulho das engrenagens e sei que estou acordado. Este é meu totem. Somente desta forma sei onde estou. Isto não é um sonho. Portanto, sei que estou ficando louco.

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RASCUNHO 1 - A ideia

A ideia desta história aconteceu quando assisti pela primeira vez o documentário "Life After People" do History Channel. Um documentário fantástico que mostra um Mundo Sem Ninguém. Desde o primeiro dia até 5 mil anos depois.

Várias histórias que demonstram como a natureza e nosso planeta sobrevivem melhor sem os seres humanos.

E ajudou muito mais, quando assisti no cinema Eu Sou a Lenda! Ali foi o fator final para começar os primeiros rabiscos.

Na história um terrível vírus incurável, criado pelo homem, dizimou a população de Nova York. Robert Neville (Will Smith) é um cientista brilhante que, sem saber como, tornou-se imune ao vírus. Há 3 anos ele percorre a cidade enviando mensagens de rádio, na esperança de encontrar algum sobrevivente. Robert é sempre acompanhado por vítimas mutantes do vírus, que aguardam o momento certo para atacá-lo. Paralelamente ele realiza testes com seu próprio sangue, buscando encontrar um meio de reverter os efeitos do vírus.

Só que em minha história, trabalho um mundo com a quantidade de humanos: 1. Vamos ver no que irá dar!

O Mundo QUASE Sem NinguémWhere stories live. Discover now